SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ao menos quatro hospitais paulistas já registraram casos suspeitos ou com confirmação por intoxicação por metanol nos últimos dias, revela levantamento com 82 instituições da capital, Grande São Paulo, interior e litoral, feita pelo Sindhosp (sindicato paulistas dos hospitais, clínicas e laboratórios privados).

Ainda que a maioria (95%) não tenha registrado nenhum caso, 96% das instituições afirmam que estão preparadas, com protocolos estruturados, para identificar e conduzir o tratamento de possíveis casos de intoxicação por metanol.

Outros hospitais que não fazem parte da sondagem, como o Einstein Hospital Israelita e o Sírio-Libanês, estão reforçando as diretrizes de atendimento de casos suspeitos de intoxicação por metanol.

O Einstein, por exemplo, instituiu uma mesa de crise para lidar com um eventual aumento de casos. A mesa envolve várias áreas como o corpo clínico, laboratórios, área de insumos, áreas de unidade de terapia intensiva, pronto-atendimento e qualidade de segurança.

O Sírio reforçou a orientação aos plantonistas para que reconheçam precocemente os casos suspeitos. Pacientes que chegam com intoxicação alcoólica, já acendem o alerta de que possam ter alguma relação com metanol.

A sondagem do Sindhosp não questionou os hospitais associados se há estoque suficiente de antídoto para casos de intoxicação por metanol, como etanol farmacêutico, único antídoto disponível para esse fim no país.

Segundo Francisco Balestrin, presidente do Sinhosp, embora eventuais, casos de contaminação por etanol não são novidade nas emergências hospitalares. “O Brasil nunca deixou de ter contaminação por metanol, mas agora, com o andar de cima [pessoas com mais recursos] foi afetado, chama a atenção de todo mundo.”

Ele também chama a atenção para a subnotificação desses casos. “As instituições precisam fazer a notificação [às autoridades de saúde], mas não têm prazo para fazer. Você pode atender o caso em janeiro e notificá-lo em dezembro. Não é como o caso de doenças infecciosas que precisa notificar imediatamente.”

Nesta sexta-feira (3), a AMB (Associação Médica Brasileira) divulgou comunicado alertando sobre os riscos à saúde causados pela contaminação de bebidas alcoólicas com metanol.

“Estamos lidando com uma ameaça real à vida. O consumo de bebidas adulteradas com metanol pode causar desde náuseas e dores de cabeça intensas até cegueira irreversível, falência múltipla de órgãos e morte. O perigo é invisível. O risco, fatal”, alertou José Eduardo Dolci, diretor científico da AMB.

Para Dolci, vidas estão sendo perdidas por crimes que poderiam ser evitados. “Falta fiscalização. Falta informação clara para a população. Isso é inaceitável.”

Nesta sexta-feira (3), a Bahia registrou a primeira morte por suspeita de intoxicação com metanol. O caso envolve um homem de 56 anos que foi à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do bairro da Queimadinha, em Feira de Santana (109 km de Salvador), e morreu na madrugada desta sexta.

A Prefeitura de Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, confirmou nesta sexta-feira (3) uma morte por suspeita de intoxicação por metanol. O óbito ocorreu no dia 23 de setembro no Hospital Geral da cidade (HGI). A prefeitura afirma que acompanha um outro caso suspeito de um paciente que chegou ao Centro de Saúde 24h na quinta-feira (2) e agora está no HGI.

O Ministério da Saúde afirmou nesta quinta que há uma morte por intoxicação por metanol confirmada em laboratório, além de outras sete sob investigação. A morte com confirmação em laboratório foi registrada na capital paulista. Entre as sete em investigação, três ocorreram na cidade de São Paulo, duas em São Bernardo do Campo e duas em Pernambuco, nas cidades de João Alfredo e Lajedo.

A pasta disse que recebeu 59 notificações de possível contaminação pelo produto após consumo de bebida alcoólica em São Paulo, Pernambuco e no Distrito Federal. Há 11 casos confirmados e 48 em análise, números que incluem pacientes que morreram.