SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Criminosos têm utilizado ligações telefônicas, inclusive de curta duração, para clonar a voz de vítimas com a intenção de aplicar golpes financeiros. O alerta é da Polícia Civil de São Paulo.

O primeiro passo do golpe, segundo a polícia, é uma situação extremamente comum: telefonemas mudos, normalmente encerrados poucos segundos depois de o destinatário atender a ligação. Os criminosos usariam ferramentas de inteligência artificial para reproduzir o timbre da voz captada durante a ligação.

A etapa seguinte é entrar em contato com familiares do alvo que foi gravado, passando-se por ele e fazendo pedidos de dinheiro.

“Com inteligência artificial, eles clonam seu tom e jeito de falar”, diz publicação da Polícia Civil nas redes sociais. “Depois, usam essa voz falsa para aplicar golpes, fingindo ser você e enganando até familiares.”

O método é conhecido como deep fake —técnica que usa sons e imagens reais para a criação de outras artificiais. O uso desse recurso para acessar contas bancárias também está se tornando comum.

Três segundos de gravação seriam suficientes para imitar uma voz com ferramentas de IA, segundo Daniel Barsotti, diretor de tecnologia da empresa idwall, que conversou com Folha de S.Paulo em junho para uma reportagem sobre esse tipo de golpe.

Para ter acesso a alguma foto, vídeo ou áudio da vítima, golpistas acessam redes sociais e usam fotos de documentos furtados, alertam especialistas.

Uma das ferramentas que permitem clonagem de voz foi desenvolvida pela OpenAI, empresa por trás do ChatGPT. Ao anunciá-lo em março do ano passado, a companhia afirmou que planejava manter o produto sob estrito controle até que fossem implementadas medidas de segurança para impedir falsificações mal intencionadas.

Na ocasião, a empresa afirmou que eram necessários 15 segundos de gravação de voz para reproduzi-la artificialmente.

Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgados em julho, os estelionatos tiveram recorde no país, com 2,16 milhões de casos no ano passado, ou 247 golpes por hora.

Além disso, mais de 32 milhões de brasileiros, ou quase uma de cada cinco pessoas (19,1%) com 16 anos ou mais no país, foram ameaçados ou chantageados por criminosos que usaram dados deles ou de familiares para exigir dinheiro em 12 meses, segundo pesquisa realizada pelo Datafolha e encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. A situação gerou um prejuízo estimado de R$ 24,2 bilhões.

Pare se prevenir contra o golpe do telefonema mudo, a Polícia Civil de São Paulo recomenda não falar nada ao receber chamadas suspeitas. Em vez de dizer “alô” ou “sim” ao aceitar a ligação de um número desconhecido, é recomendável ficar em silêncio.

Após receber um telefonema que fica mudo e desliga após poucos segundos, a orientação é bloquear e denunciar o número. Orientar amigos e familiares sobre esses procedimentos é outra medida que pode prevenir que mais pessoas se tornem vítimas desse tipo de golpe