Da Redação
A Indústria Química do Estado de Goiás (Iquego), laboratório público vinculado à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), tenta dar um passo estratégico: fabricar no Brasil dois medicamentos injetáveis que estão em alta no mercado e no Sistema Único de Saúde (SUS). Trata-se da Semaglutida, indicada para diabetes tipo 2, e da Liraglutida, utilizada no tratamento da obesidade e na manutenção de peso.
Popularmente chamadas de “canetas emagrecedoras”, essas tecnologias se tornaram objeto de desejo de pacientes e desafio para gestores públicos devido à explosão da demanda nos últimos anos.
Batalha por aprovação
No ciclo 2024/2025, a solicitação da Iquego foi rejeitada em primeira análise pelo Ministério da Saúde. O laboratório, no entanto, apresentou recurso administrativo dentro do prazo e aguarda resposta.
O pedido tramita em três frentes de programas estratégicos do ministério:
- PDP (Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo): permite a transferência de tecnologia de empresas privadas para laboratórios públicos com vistas ao fornecimento ao SUS;
- PDIL (Programa de Desenvolvimento e Inovação Local): incentiva soluções produtivas que reduzam a dependência externa;
- PDCEIS (Programa de Desenvolvimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde): fortalece a soberania do sistema público frente a insumos estratégicos.
A disputa é acirrada, já que instituições como Fiocruz, Butantan, Funed e Lafepe competem pelo mesmo espaço. A decisão leva em conta critérios como infraestrutura industrial, comprovação regulatória, parcerias tecnológicas, cronogramas de entrega e viabilidade econômica.
Desafios tecnológicos
Segundo a própria Iquego, o desenvolvimento das canetas de GLP-1 é considerado de alta complexidade. Isso porque há barreiras de propriedade intelectual, fornecedores restritos de matéria-prima e exigências sanitárias rigorosas. Poucos grupos privados no mundo estão dispostos a repassar a tecnologia, o que torna a negociação ainda mais difícil.
Mesmo assim, a direção do laboratório mantém otimismo. “Estamos confiantes em avançar ao menos em três aprovações neste ciclo, fruto do fortalecimento da nossa base industrial e regulatória e da qualidade dos parceiros envolvidos”, informou o órgão ao Mais Goiás.
O papel da Iquego
Fundada em 1962, a Iquego é uma sociedade de economia mista controlada majoritariamente pelo Governo de Goiás, que detém 51% das ações. Sua missão é abastecer a rede pública de saúde com insumos e medicamentos considerados essenciais.
A empresa é administrada por um conselho de 11 integrantes e parte dos lucros pode ser reinvestida em suas operações. Além de fornecer para o Ministério da Saúde, também atende secretarias estaduais e municipais, bem como hospitais filantrópicos.
Se obtiver a autorização, Goiás poderá se posicionar como protagonista na produção nacional das canetas emagrecedoras, reduzindo a dependência de importações e ampliando o acesso da população a tratamentos de ponta.