BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – O grupo político de Javier Milei já tem uma nova crise pré-eleitoral para chamar de sua, após a divulgação na noite de quinta-feira (2) de um extrato do Bank of America apontando que o principal candidato a deputado de A Liberdade Avança na província de Buenos Aires recebeu US$ 200 mil (cerca e R$ 1 milhão) de um suspeito de envolvimento com narcotráfico.

José Luis Espert, que no dia anterior havia se negado a dizer a jornalistas em um programa de TV se havia recebido os dólares de Fred Machado, argentino investigado nos EUA, teve de publicar um vídeo em suas redes sociais para explicar o documento bancário, divulgado primeiro pelo jornal La Nacion.

No vídeo, ele admitiu ter recebido pagamentos da empresa de mineração Minas del Pueblo, da Guatemala, associada a Machado, mas garantiu que eram relacionados ao seu trabalho como consultor econômico. Segundo Espert, Machado o ajudou em sua campanha de 2019 para a Presidência, mas que o pagamento foi relacionado a uma atividade privada.

“Machado foi um dos tantos colaboradores na campanha de 2019; além disso, me disse que uma empresa de mineração vinculada a ele necessitava de meus serviços como economista”, disse.

“Nunca recebi dinheiro que não fosse devidamente justificado ou dos quais se pudesse suspeitar de origem ilícita”, seguiu o deputado, que tenta um novo mandato. “Posso ter pecado por ser ingênuo, mas nunca criminoso.”

Machado está em prisão domiciliar na cidade argentina de Viedma, enquanto a Justiça dos EUA pede que ele seja extraditado. Os americanos investigam se ele faz parte de uma rede de narcotráfico atuando no braço logístico, por meio de uma empresa de aviões particulares que atuariam para o tráfico de drogas.

Machado chegou a emprestar um avião para que Espert viajasse ao interior da Argentina para apresentar um livro, antes que ele fosse eleito deputado.

A revelação no vídeo gerou reações variadas nas redes sociais, com apoiadores dizendo que Espert é alvo de um crise fabricada pelos opositores kirchneristas e, por outro lado, críticos questionando a origem do dinheiro recebido.

Opositores da sigla A Liberdade Avança apontaram que houve uma mudança no discurso de Espert. Até então, ele minimizava o papel de Machado em sua campanha; agora, admite que recebeu recursos, mas sem saber a origem do dinheiro.

Além disso, Espert havia criticado José Bonacci, presidente do partido Unite, por utilizar recursos de Machado. Bonacci, por sua vez, respondeu às acusações, criticando Espert e dizendo que o deputado de Milei tinha conhecimento da origem dos recursos.

“O professor Espert desmantelando a operação imunda e grosseira montada pelo kirchnerismo. Os kirchneristas estão envolvidos em casos de corrupção e, como qualquer ladrão, acreditam em outros da sua laia”, defendeu Milei, no X, compartilhando o vídeo do candidato.

A decisão de Milei de apoiar Espert como candidato a deputado nacional em Buenos Aires gerou preocupação na Casa Rosada, a poucos dias das eleições legislativas nacionais de 26 de outubro.

A postura do presidente é semelhante à que ele adotou após estourar o escândalo dos áudios atribuídos a Diego Spagnuolo, ex-diretor da Andis (agência para pessoas com deficiência), que revelariam um suposto esquema de propinas na compra de medicamentos beneficiando a irmã de Milei, Karina.

O caso dos áudios atingiu o governo semanas antes das eleições legislativas locais na província de Buenos Aires, em 7 de setembro, quando o partido de Milei sofreu uma derrota de 13 pontos de diferença.

Por outro lado, membros do governo, como a ministra da Segurança, Patricia Bullrich, consideram que já não há mais justificativas viáveis e que seria tarde demais para Espert tentar se explicar e que ele deveria desistir da candidatura. O temor de Bullrich, que esperava ter uma eleição confortável para o Senado em outubro, é que o novo escândalo tire votos dos mileístas.

Apesar de o escândalo ter tomado maiores dimensões nos últimos dias, o parlamentar não parece disposto a desistir da candidatura -mesmo que o faça, seu nome e sua foto vão continuar aparecendo nas cédulas eleitorais, que já foram impressas, ao lado do emblema do partido de Milei.

Espert também preside a comissão de Orçamento na Câmara dos Deputados, e os parlamentares também pedem que ele deixe essa função.

O político é conhecido pelo seu discurso agressivo contra a criminalidade e já chegou a dizer que pessoas ligadas ao narcotráfico não merecem direitos humanos. “Contra o delinquente, é cadeia ou bala; contra o narcotraficante, só bala”, disse em uma entrevista.