BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Garimpeiros que invadiram a terra indígena Yanomami, em Roraima, dizem que foram alvos de flechas lançadas por indígenas isolados que habitam a região. Em um vídeo ao qual a Folha de S.Paulo teve acesso, os garimpeiros exibem flechas com características de material feito pelo povo Moxihatëtëa, indígenas que não foram contatados e que são monitorados pela Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) desde 2010.
Nas imagens, os garimpeiros invasores dizem que foram “atacados” pelos indígenas isolados, que chamam de “100% selvagem” e “índios bravos”, referindo-se a uma região conhecida como Serra do Querosene.
Não há informações sobre a data exata de gravação do vídeo. A reportagem entrou em contato com o MPI (Ministério dos Povos Indígenas) e compartilhou informações e uma imagem do vídeo. Por meio de nota, a pasta declarou que está em diálogo com as organizações indígenas locais e acompanha a situação, em conjunto com a Casa de Governo e a Funai.
“Serão realizadas ações em território para averiguar o episódio levando em conta que não há informações da data em que o vídeo foi gravado e tomar as providências cabíveis, caso confirmado”, afirmou o MPI.
A Funai informou que teve ciência do vídeo e que está averiguando a situação. “Inicialmente é importante frisar que o vídeo não retrata confrontos. No mais, até o momento, não é possível identificar a data em que o vídeo foi gravado, não havendo indícios de que o episódio tenha ocorrido recentemente”, declarou.
Segundo a Funai, outros vídeos divulgados em conjunto datam de 2023, e o garimpo retratado (Pista do Hélio) não está mais ativo e fica distante do local onde vivem os indígenas isolados.
“Cabe também destacar que a Funai, através da sua Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami Ye’kuana e de sua Coordenação-Geral de Indígenas Isolados e de Recente Contato, realiza monitoramento constante da região para garantir a segurança dessa população e a proteção de seus modos de vida”, afirmou.
Em 2023, uma ação coordenada entre MPI, Funai, Ibama, Força Nacional e Polícia Federal sobrevoou o território Yanomami e identificou uma comunidade de povos indígenas isolados, sem nenhum contato com a sociedade, vivendo a menos de 15km de um ponto de garimpo.
Segundo a Funai, tratava-se de indígenas do povo Moxihatëtëa, constatando que novos garimpos se formaram no entorno próximo. Desde 2017, o MPF (Ministério Público Federal) vem alertando sobre a ameaça de genocídio dos povos yanomami isolados Moxihatëtëa.
“Esse é o exemplo claro que precisamos migrar para uma política de proteção do território, não só de expulsão de invasores. Precisamos sair da lógica de desintrusão para uma política mais robusta”, diz Danicley de Aguiar, coordenador da frente de proteção dos povos indígenas do Greenpeace Brasil.
Dário Vitório Kopenawa Yanomami, filho do líder Davi Kopenawa Yanomami, disse que há mobilização para buscar mais informações sobre o caso. “Estamos esperando mais informações para saber se houve algum ataque”, afirmou.
Em 2021, dois indígenas da comunidade teriam sido mortos a tiros por garimpeiros.
“É importante ressaltar que, desde 2024, com as operações do governo federal e a criação da Casa de Governo, como ação de presença permanente do Estado no território, houve a redução de 98% dos alertas de novas áreas de garimpo, com prejuízo estimado em R$ 498,7 milhões ao garimpo ilegal”, afirmou o MPI.