Da Redação
A COP-30, conferência global sobre mudanças climáticas que acontecerá em novembro, em Belém (PA), não será marcada apenas pelos debates ambientais, mas também pela comida que será servida. Pela primeira vez, ao menos 30% dos ingredientes consumidos em uma conferência do clima virão da agricultura familiar, da agroecologia e de comunidades tradicionais.
Um levantamento realizado pelos institutos Regenera e Fronteiras do Desenvolvimento revelou que o Pará possui capacidade para atender a essa demanda. O mapeamento identificou cerca de 80 grupos organizados e mais de 8 mil famílias aptas a fornecer alimentos, o que pode movimentar R$ 3,3 milhões na economia local.
Entre os critérios para participar estão a regularização no Cadastro Nacional da Agricultura Familiar (CAF), a emissão de nota fiscal e o cumprimento das normas sanitárias. Para os organizadores, a iniciativa representa uma vitória simbólica e prática, mostrando que é possível realizar grandes eventos valorizando quem produz de forma sustentável e em harmonia com os biomas.
Noel Gonzaga, agricultor urbano de Marituba e integrante do Grupo para Consumo Agroecológico (Gruca), vê na COP-30 uma chance de dar visibilidade a culturas pouco conhecidas, como o ariá, uma raiz amazônica em risco de desaparecer. Além dele, outros agricultores da rede fornecerão alimentos como mandioca, abóbora, feijão, milho e açaí, símbolo da culinária regional.
“Quando eu produzo, penso primeiro no que minha família vai comer. Isso já me leva a práticas agroecológicas, porque não quero nada que prejudique nossa saúde. O mesmo alimento que vai para a mesa do meu filho vai para a mesa de quem estiver na COP”, explica Gonzaga.
A expectativa é que a conferência não apenas discuta o futuro do planeta, mas também ofereça um exemplo prático de como unir sustentabilidade, cultura local e geração de renda. Para os institutos responsáveis pelo mapeamento, esse pode ser um legado brasileiro para as próximas edições do evento: provar que grandes encontros internacionais podem valorizar os pequenos produtores e fortalecer economias locais.