SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Entre maio e junho, o UOL obteve, via LAI (Lei de Acesso à Informação), os autos de fiscalização de 146 imóveis em São Paulo definidos pela prefeitura como “perigo de ruína”.
O pedido feito pela reportagem citava endereços em que o risco de desabamento permanecia em vigor, independentemente do ano em que a fiscalização foi feita. O município, porém, nega que todos os imóveis tenham risco de queda total.
O número pode ser maior. A Subprefeitura da Sé, por exemplo, não incluiu na lista o prédio da rua do Carmo, conhecido como “Caveirão”, que ficou abandonado desde os anos 1960.
O edifício teve o risco de queda confirmado pelo próprio município na Justiça e começou a ser demolido em agosto.
O QUE ACONTECEU
Há 18 prédios com perigo de ruína. O UOL visitou sete desses edifícios, todos ocupados por moradores ou trabalhadores.
Maioria dos endereços 81 imóveis é de residências simples. Também há quatro igrejas, sendo duas evangélicas e duas católicas.
Um dos edifícios visitados funciona como uma casa de prostituição. A reportagem presenciou a entrada e saída frequente de homens num prédio da rua Conselheiro Furtado, no centro de São Paulo, apesar de uma placa indicar “interdição para reformas”. “Se tiver câmera aí, os caras vão te amassar”, avisou um cliente à reportagem.
Obras foram paralisadas há cerca de dez anos porque os moradores não quiseram pagar pelo serviço, diz engenheiro. “Já tentei arrancar essa placa, mas não deixaram. É para passar a impressão de que tem empresa mexendo no lugar”, afirmou José Roberto Mendes. A prefeitura confirmou que a interdição do imóvel está em vigor, mas não explicou por que há pessoas no local.
No número 341 da avenida São João, também no centro de São Paulo, há outro edifício com perigo de ruína. O prédio é ocupado por uma família que cuida do imóvel, em um acordo com uma imobiliária, segundo um morador, até que decidam o que fazer com o espaço.
Os moradores começaram a realizar obras no local após notificação da prefeitura, disse o homem. A reportagem viu materiais de construção na entrada do prédio, mas não foi autorizada a entrar. O edifício é um dos seis onde a Secretaria de Comunicação admite que há interdição, mas o município não explicou por que havia pessoas no local. O UOL também tenta contato com a empresa responsável pelo prédio.
O UOL conseguiu entrar em uma das igrejas com perigo de ruína, uma paróquia na Brasilândia. Parte do teto cedeu durante uma forte chuva, mas não há risco estrutural, disse uma voluntária. A reportagem circulou pela paróquia e não constatou outros sinais de ruína.
PREFEITURA REBATE
Zona leste concentra o maior número de imóveis com perigo de ruína (33), seguida pelo centro (30) e pela zona norte (27). A subprefeitura da Penha aparece no levantamento com o maior número, 33 imóveis.
Prefeitura não faz levantamento específico sobre imóveis com risco de desabamento total, disse a Secretaria de Comunicação. A pasta admitiu que seis dos prédios visitados têm alguma interdição, mas não explicou por que há pessoas neles.
Classificação “perigo de ruína” pode se referir a diversos problemas. “Essa designação pode se referir a problemas localizados em apenas partes da estrutura, como marquises ou fachadas, que podem estar comprometidas”, afirmou a Secretaria das Subprefeituras, por meio de nota. A pasta também classificou como equívoco interpretar esses dados como de imóveis que podem desabar, apesar dos autos de fiscalização terem sido enviados pela própria prefeitura a um pedido de informação sobre isso.
Detalhamento sobre perigo de ruína tem que estar em algum lugar, diz Marcela Morini, especialista em patologia das construções. “Normalmente utilizamos a expressão ‘vida útil’ da infraestrutura, mas pode variar, dependendo da prefeitura.”
“Essas informações devem estar no auto de fiscalização ou em algum documento”, explicou a engenheira. Nenhum auto de fiscalização enviado pela subprefeitura da Sé, por exemplo, detalhava o perigo de ruína.
Ao todo, o UOL recebeu 902 autos de fiscalização. O número inclui os imóveis classificados com perigo de ruína, mas também outras classificações de risco parcial dadas pelas subprefeituras.
PRÉDIO TEM VIDROS QUEBRADOS E PICHAÇÕES
Na avenida Cásper Líbero, 390, no centro histórico da cidade, um grande prédio comercial também foi classificado com perigo de ruína. Ele aparenta abandono e tem vidros quebrados, mofo e pichações. Funcionários disseram à reportagem que algumas salas continuam ocupadas e que o lugar não parece estar irregular.
O UOL tentou acessar o prédio, mas não conseguiu. O espaço onde funcionava um supermercado, no térreo, está abandonado e fechado com tapumes.
Uma construção com rachaduras no muro na rua José Mascarenhas, 113, na Vila Matilde, está embargada por problemas judiciais desde o início do ano. Um funcionário disse à reportagem que o prédio está “nas mãos de advogados”.
O engenheiro responsável, Evandro Pacheco, negou que a obra esteja em ruína, afirmando que o problema é fiscal e não estrutural. Os autos da Prefeitura, no entanto, apontam problemas técnicos na estrutura.