Da Redação

O Brasil tem acompanhado, nos últimos dias, uma sequência preocupante de casos de intoxicação ligados a bebidas alcoólicas adulteradas. As ocorrências, que já resultaram em internações graves e até mortes, têm um ponto em comum: a presença de metanol, uma substância altamente tóxica ao organismo humano. O episódio mais recente envolveu o cantor Hungria, hospitalizado nesta quinta-feira (2).

Embora hoje seja lembrado pelos riscos à saúde, o metanol já foi um velho conhecido do esporte a motor. De 1965 até 2007, a Fórmula Indy utilizou o álcool metílico como combustível oficial. A decisão ocorreu após um acidente trágico nas 500 Milhas de Indianápolis de 1964, quando a explosão de um tanque de gasolina transformou a pista em um cenário de fogo e fumaça.

A adoção do metanol se justificava: além de queimar mais lentamente, suas chamas tinham menor temperatura e podiam ser controladas apenas com água — o que aumentava a segurança nas pistas. Também havia benefícios técnicos, já que o composto favorecia motores turbo, garantindo mais potência e eficiência.

Mas o que parecia uma solução ideal logo revelou grandes problemas. As chamas do metanol eram praticamente invisíveis, representando risco extra em acidentes. Apesar de aditivos que tentaram corrigir isso, o fator mais crítico foi a toxicidade do produto, tanto para quem manipulava quanto para qualquer contato humano. Esses pontos pesaram na decisão da categoria de substituí-lo em 2008 por uma mistura de 98% etanol e 2% gasolina.

Hoje, a Fórmula Indy utiliza combustíveis sustentáveis, e a Fórmula 1 caminha na mesma direção, adotando misturas renováveis como o E10 e, em breve, o 100% renovável. Já fora das pistas, o metanol se tornou protagonista de uma tragédia anunciada: quando usado de forma criminosa na adulteração de bebidas, pode causar cegueira, falência de órgãos e até a morte.

O contraste mostra bem a trajetória da substância: de combustível que impulsionava carros a mais de 350 km/h, agora é um risco invisível que ameaça a vida de consumidores desavisados.