SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Renato Terra é conhecido por seu humor. No audiovisual, porém, ele não costuma fazer do riso o protagonista de suas obras.

O diretor de “Narciso em Férias”, “Vale Tudo com Tim Maia”, “Uma Noite em 67” e “O Canto Livre de Nara Leão” agora faz seu primeiro trabalho cômico para o cinema, o que ele chama de “documentário-comédia”.

Entre séries e longas-metragens, o diretor tem quase dez obras documentais em seu currículo. Ele oferece um curso sobre novos olhares sobre os documentários, em oito aulas disponíveis na plataforma Hotmart.

“O Brasil que Não Houve – As Aventuras do Barão de Itararé no Reino de Getúlio Vargas” é codirigido por Terra com Arnaldo Branco, que foi roteirista de programa como “Greg News” e “Irmão do Jorel”. O documentário conta a história de Apparício Torelly, que comandava, no Rio de Janeiro, o jornal A Manha —sem til mesmo—, uma publicação que satirizava a imprensa, os costumes e os políticos do Brasil da era Vargas.

O pseudônimo do humorista, gaúcho como Getúlio, veio da Revolução de 30, em referência a uma batalha que não houve.

As forças getulistas vinham marchando do Sul em direção à capital federal. O boato que corria era de que a cidadezinha paulista de Itararé, na divisa com o Paraná, seria palco de uma batalha sangrenta entre as tropas de Washington Luís e as de Getúlio Vargas. Mães rezavam pelos seus filhos, casas chegaram a ser evacuadas, um Deus nos acuda. Foi a mais famosa batalha que nunca aconteceu no Brasil.

O pacifista Apparício Torelly então tratou de adotar o nome da cidade para si, junto de um falso título de nobreza autoproclamado. Como toda boa piada que vinga, foi crescendo, e depois ele se nomeou duque, grão-duque e imperador.

O filme é construído com base em imagens de arquivo, montagens e animações, tudo guiado pela narração de Gregorio Duvivier.

“Eu acho que todos os meus documentários têm um pouco de humor. Até ‘Narciso em Férias’, quando a gente seleciona para Caetano ler o trecho em que o Exército o define como ‘subversivo e desvirilizante’. É uma característica minha”, diz Terra. “Mas esse é o primeiro que têm o gênero comédia na veia. Tanto que a gente apresenta esse filme como um ‘documentário-comédia’.”

Terra conta que o projeto nasceu de uma ideia do Canal Curta, que queria fazer um documentário sobre os veículos clandestinos que surgiram durante a ditadura militar. Passou meses em busca de um recorte para o filme, até que ouviu a sugestão da jornalista Dorrit Harazim, ex-colega da revista Piauí, que sugeriu que Terra seguisse pela lente do humor.

“Achei o conselho perfeito. E acabei apaixonado pelo Barão de Itararé. Apesar do auge do Barão não ter acontecido na ditadura militar, ele serviu de inspiração para o Pasquim, para o Sergio Porto e muita gente que veio depois”, diz.

Terra é, ele próprio, um dos principais expoentes do humor jornalístico. Segundo ele, são várias as diferenças entre fazer humor político hoje e no século passado —e a principal tem a ver com um amadurecimento das instituições democráticas.

“O Barão foi preso mais de uma vez sem justificativas formais. Em outra, foi espancado e teve os cabelos cortados. Eram outros tempos”, afirma Terra. “Hoje temos uma pluralidade enorme de possibilidades para fazer humor atrelado ao noticiário —vídeos, imagens, IA, áudios. O Barão se esmerava na escrita e tinha um texto maravilhoso.”

“Outra diferença é que hoje vivemos, como diz o Ricardo Araújo Pereira, em tempos em que o humor político é mais consumido por quem gosta de política do que por aqueles que gostam de humor. Mas não vai nenhuma reclamação aqui.”

Entre uma risada e outra, o diretor afirma que quer que as pessoas reflitam sobre a ditadura Vargas e sobre a vocação brasileira para o conchavo.

“Eu adoro quando o humor tem o poder de explicar melhor os fatos do que o noticiário. O Barão era um mestre nisso”, diz Terra.

O filme teve sua pré-estreia na Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty, e será exibido no Festival do Rio, no domingo (5), às 20h45 no Estação NET Gávea 3. No Canal Curta, estreia dia 24 de outubro às 22h.

O BRASIL QUE NÃO HOUVE – AS AVENTURAS DO BARÃO DE ITARARÉ NO REINO DE GETÚLIO VARGAS

– Quando Exibição no Festival do Rio no domingo, 5/10, às 20h45 no Estação NET Gávea 3; na terça, 7/10, às 16h no Cine Santa Teresa; na quarta, 8/10, às 13h45 Cinesystem Belas Artes 5. Estreia no Canal Curta! no dia 24 de outubro às 22h.

– Elenco Gregório Duvivier

– Produção Brasil, 2025

– Direção Renato Terra e Arnaldo Branco

– Roteiro Renato Terra, Arnaldo Branco, Laura Liuzzi