SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O brasileiro tem assistido cada vez mais conteúdo de influenciadores. Em setembro, 40% da população conferia diariamente posts de influencers, contra uma fatia de 33% em março. É um percentual maior do que os que consomem conteúdo de portais (37%) e só fica atrás do conteúdo consumido pela TV (44%).

Ainda assim, o poder de influência é limitado quando se trata de vendas: apenas 19% afirmam ter comprado produtos a partir de posts de influenciadores nos últimos três meses. Um percentual ainda inferior (13%) mudou de opinião sobre algum tema. Quase metade da população (49%) afirma não tomar decisões baseadas em influenciadores.

Os dados pertencem a uma pesquisa feita em setembro pela consultoria Ponto Map em parceria com a V-Tracker. O levantamento foi realizado on-line com 2.039 pessoas com mais de 18 anos, moradoras de 632 municípios em todo o território nacional.

A amostra é proporcional à população quanto à faixa etária, gênero, macrorregião e nível socioeconômico, tendo como base dados do Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) 2022 e o Critério Brasil da Abep (Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa). A margem de erro é de 2,2% e o índice de confiança é de 95%.

Os conteúdos que têm a melhor reputação estão relacionados a saúde e bem-estar (37%), entretenimento e humor (34%), educação e conhecimento (34%) e moda e beleza (28%). Do outro lado, os conteúdos que geram uma impressão ruim são os vinculados a política e social (49%), a fé e religião (23%) e a games e esportes eletrônicos, as bets (17%).

“Existe um certo cansaço do público em relação a temas que geram muita polarização”, diz Giovanna Masullo, presidente da Ponto Map. “As pessoas parecem buscar um conteúdo mais leve.”

Para Marília Stabile, presidente do conselho da Ponto Map, o excesso de influencers nos últimos anos levou a população a aumentar o escrutínio sobre o conteúdo postado. “O público está mais maduro nas redes. Apesar de dar audiência aos influenciadores, não terceiriza as decisões de compra ou a formação de opinião.”

Questionados especificamente sobre o papel de influenciadores nas decisões de compras, 46% disseram que os influencers exercem pouco ou nenhum impacto. Mas 35% responderam que ajudam a descobrir novos produtos e ofertas. Para 19%, as personalidades digitais fornecem avaliações detalhadas que podem guiar decisões.

“Embora para a maioria não haja uma correlação direta entre o post do influencer e a compra, a pesquisa indica que a publicidade feita pelo influenciador aumenta o leque de opções”, diz Giovanna.

O levantamento apontou que os consumidores mais jovens e mais ricos são os mais suscetíveis a influenciadores da moda. Enquanto 45% do público de 45 anos ou mais não confia em influencers, apenas 26% dos jovens entre 18 e 24 anos têm essa opinião. No tocante às classes sociais, 46% do segmento DE não confia nas personalidades digitais, enquanto na AB essa fatia é de 24%.

De acordo com a pesquisa, ser famoso ou ter muitos seguidores não são garantia de boa reputação. O público se mostra muito mais inclinado em seguir quem tem ou representa um cotidiano próximo do seu (resposta de 38%). Para 24%, um influenciador de respeito é quem é reconhecido como especialista na área.

“As pessoas querem alguém que dialogue com o dia a dia delas, que retrate situações cotidianas. Daí o peso maior para microinfluenciadores digitais, em detrimento das grandes celebridades, que ostentam uma vida que a maioria absoluta não tem”, diz Marília.

Quando se trata de confiança em um influencer, o que mais pesa são a clareza das informações (39%), a consistência do conteúdo (33%) e o posicionamento alinhado aos próprios valores (32%). Nesta última questão, fica claro que o consumo do conteúdo de influencers não serve para “furar a bolha da internet”, diz Giovanna, mas para reforçá-la.

Para mais de um terço dos entrevistados (36%), fazer muitas parcerias comerciais com marcas é parte do negócio dos influencers, mas a falta de transparência na comunicação dessa publicidade compromete a reputação do influencer (24%), assim como a incoerência entre o conteúdo e o perfil do influenciador (19%).