SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Estudantes, professores e políticos se reuniram na FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) da USP para um ato em defesa da unidade.

Somente neste ano, o prédio em que ocorrem as aulas já foi invadido oito vezes por militantes de um grupo chamado União Conservadora e pelo vereador Lucas Pavanato (PL). Por isso, a faculdade convocou uma “demonstração de união”, segundo o diretor, Adrián Fanjul.

A partir das 17h desta quinta-feira (2), o vão de geografia e história virou palco de discursos e manifestações.

A fala mais aplaudida foi a de Marilena Chauí, professora emérita da faculdade. Citando uma teoria do filósofo francês Michel de Montaigne, ela sugeriu que a falta de coragem leva as pessoas a cometerem atos cruéis e seria essa a situação dos invasores daquele espaço.

“Nos atacam porque tem medo, porque são fracos. Temem o pensamento produzido aqui”, disse.

A atual vice-reitora da universidade, Maria Arminda do Nascimento Arruda, também fez um discurso. Professora titular do departamento de sociologia, ela disse estar muito preocupada com os ataques à unidade, mas ter certeza de que “nada abalará a excelência” daquele espaço.

Após o último caso, em 5 de setembro, a reitoria, comandada por Gilberto Carlotti Júnior, ofereceu reforço na segurança da unidade e acionou a Secretaria de Segurança Pública do estado.

Vereadores de esquerda também estiveram no ato desta quinta-feira. Eliseu Gabriel (PSB) afirmou que as atitudes de Pavanato em relação à USP envergonham a Câmara.

Pavanato disse à Folha, no dia 20 de setembro, ter sido agredido todas as vezes em que tentou “propor um debate” na FFLCH. Segundo ele, a unidade é “tomada por arruaceiros que desperdiçam dinheiro público ao tomar espeço de quem realmente quer estudar”. A reportagem não conseguiu contato com o vereador nesta quinta-feira.

A União Conservadora diz que suas idas à instituição tinham como intuito recolher assinaturas para um projeto de lei sobre exame toxicológico para graduandos.

Se, inicialmente, o ato tinha como pauta única a defesa da faculdade, isso mudou com a notícia de que Israel interceptou uma flotilha rumo a Gaza, com mais de uma dezena de brasileiros.

Um dos presentes na flotilha era Bruno Sperb Rocha, funcionário da FFLCH, que se licenciou para a missão.

Em nota, a direção da unidade repudiou a detenção do grupo e disse estar preocupada com seu colaborador. “Exigimos o respeito à integridade de todas as pessoas que participam da louvável missão humanitária da Flotilha, sua imediata libertação e devolução em segurança”, traz o texto.