SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As ações da Ambipar enfrentaram mais um duro pregão nesta quinta-feira (2). Em meio à crise de confiança dos operadores, a multinacional de gestão ambiental derreteu 64,43% na Bolsa brasileira, estendendo a queda livre dos últimos dias.
O papel entrou em leilão, prática comum quando há muita volatilidade em operações da B3, encerrou o dia cotado a R$ 2,54. Para se ter ideia da extensão do tombo, a cotação era de R$ 14,10 na segunda-feira da semana passada (22), véspera da debandada inicial dos investidores.
O cerne da crise está no caixa da companhia. A Ambipar obteve, há uma semana, uma liminar da Justiça do Rio de Janeiro que a protege de execuções de dívidas de seus credores -um indício de possível calote para a agência de classificação de risco S&P Global Ratings, que cortou a nota de crédito da multinacional de “BB-” para “D”, de “default”, a mais baixa de todas.
O pedido de proteção à Justiça carioca ocorreu depois que os green bonds (títulos de dívida verdes emitidos no mercado internacional) tiveram uma performance aquém do esperado, levando a companhia a se blindar da cobrança de credores. Na prática, a liminar significa que, até o momento, a Ambipar não tem condições de honrar suas dívidas.
Saídas no alto escalão levantaram temores sobre a escala do problema. João Arruda, diretor financeiro, Pedro Borges Petersen, diretor de relações com investidores, e Mauro Nakamura, diretor jurídico global, deixaram os car gos poucos dias antes da liminar à Justiça.
O rombo financeiro seria de mais de R$ 10 bilhões, segundo a companhia. “Ocorre que praticamente todos os contratos financeiros do grupo Ambipar conteriam cláusulas de vencimento cruzado (cross-default), o que acarretaria um gravíssimo risco de insolvência imediata para o grupo”, disse o grupo.
Nos últimos resultados divulgados, a companhia tinha mais de R$ 2,5 bilhões em caixa e outros R$ 2 bilhões estariam em fundos que poderiam ser resgatados de 30 a 60 dias. Já no começo dessa semana, a Ambipar contratou a BR Partner para assessorá-la durante a crise. O objetivo seria fugir de uma recuperação judicial.
Uma reportagem nesta quinta-feira, porém, aumentou a desconfiança dos investidores. Um dos fundos de recebíveis em que a Ambipar afirma guardar parte do caixa teve perdas na rentabilidade de suas cotas e aumentou as provisões contra calotes, segundo o Pipeline, site de negócios do Valor Econômico. Os movimentos se somam também à captação de R$ 1,2 bilhão e a duas mudanças de nome -tudo em um espaço de uma semana.
“A notícia também revelou que a Ambipar usou um FDIC [Fundo de Investimento em Direitos Creditórios] para fazer transações entre os diretores e isso caiu muito mal para o mercado. A questão é o quão endividada a empresa está, por que esse assunto está tão turvo e quais são as intenções da diretoria”, diz Rubén Cittadin, operador de renda variável da Manchester Investimentos.
Procurada, a Ambipar disse que não irá comentar o caso.