BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Após novos dias de volatilidade no mercado argentino e escalada do risco de investimento no país, a equipe econômica da Argentina resolveu antecipar uma viagem que faria a Washington para se reunir com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent.
O ministro da Economia, Luis Caputo, é quem irá liderar a delegação que deve viajar nesta sexta-feira (3), ao lado do presidente do BCRA (Banco Central da República Argentina), Santiago Bausili.
Na Argentina, o governo tem tratado o apoio do secretário americano como sinais claros de respaldo internacional ao programa econômico de Milei, mas em uma entrevista à rede CNBC, o funcionário de Trump tentou minimizar o acordo entre os países, dizendo que ele não irá comprometer recursos do contribuintes dos Estados Unidos.
“Os Estados Unidos não estão colocando dinheiro na Argentina”, disse o secretário do Tesouro, dias depois de ter anunciado que está disposto a fazer o que for preciso para apoiar o país sul-americano antes das eleições legislativas de 26 de outubro.
“Só para deixar claro, estamos concedendo uma linha de swap [troca de moedas entre bancos centrais]. Não estamos colocando dinheiro na Argentina”, disse o funcionário do governo dos EUA.
Bessent também disse que seu país mantém um interesse estratégico na Argentina porque querem evitar outro Estado falido na região, em uma referência à Venezuela.
“A Argentina está em declínio há cem anos, e o presidente Milei está trabalhando contra a herança que recebeu, e ele fez um trabalho fantástico. Tenho certeza de que, quando virmos as eleições deste mês, ele se sairá bem, seu partido se sairá bem”, afirmou o secretário.
Ele também rebateu as críticas de que o apoio seria parte de uma estratégia para beneficiar grandes investidores americanos na Argentina. Na segunda-feira (29), o site jornalístico Popular Information apontou que o resgate traria benefícios econômicos para os fundos de hedge de Rob Citrone, amigo de Bessent. “O fundo de Citrone, Discovery Capital, apostou fortemente na Argentina, comprando dívida e ações em várias empresas intimamente ligadas à economia geral do país”, relata a publicação.
A preocupação de Bessent em limitar o apoio ao país latino é uma resposta às críticas nos EUA a um eventual socorro à Argentina, que têm aumentado no Congresso. Um dia antes, um grupo de 14 senadores democratas pediu a Trump que interrompa “qualquer plano de fornecer assistência financeira à Argentina”.
“Em vez de subsidiar um país estrangeiro para influenciar as eleições de meio de mandato em nome de seu amigo (e enfraquecer ainda mais os agricultores americanos no processo), deveriam priorizar a redução de custos para as famílias americanas e o fortalecimento da competitividade agrícola do país”, diz o texto.
Enquanto aguarda algo de concreto vindo dos EUA, os últimos dias foram de volatilidade no mercado argentino, com o peso, na cotação oficial, caindo mais de 6% ante o dólar na terça-feira (30) e mais de 4% no dia seguinte, fechando em 1.457 pesos argentinos.
O Tesouro argentino voltou a intervir no mercado, vendendo dólares, algo que não acontecia desde a crise cambial que ocorreu entre as eleições legislativas na província de Buenos Aires, em que o partido de Milei saiu 13 pontos atrás do peronismo, e a primeira sinalização de que o governo seria apoiado pelo Tesouro dos EUA.
Nesta quinta-feira (2), os indicadores tiveram um comportamento de gangorra -os títulos da Bolsa primeiro caíram com as declarações de Bessent, minimizando o apoio à Argentina e depois voltaram a subir, após a confirmação da viagem de Caputo aos EUA.
O Merval S&P, dos principais títulos locais, subiu acima de 1,5% nesta quinta. O dólar recuperou a estabilidade, sendo vendido a 1.454 pesos pela média do BCRA.
O risco de investimento na Argentina, pelo Embi (do JP Morgan), era de 1.260 pontos-base nesta quinta-feira, deixando de escalar como nos dias anteriores -após o encontro de Milei e Trump, nos bastidores da Assembleia das Nações Unidas, na semana passada, o indicador era de 900 pontos-base.
Milei espera encontrar-se novamente com o presidente americano, desta vez na Casa Branca, antes das eleições legislativas. O governo busca alternativas para chegar até o pleito evitando a volatilidade, ainda que as alternativas, como a antecipação das exportações de grãos e carnes, já tenham sido usadas.