SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um crescente clima de preocupação tem tomado os bares de São Paulo nos últimos dias. Em todo o estado, já são cinco mortes suspeitas por intoxicação com metanol e uma confirmada. A repercussão dos casos aumentou após investigações detectarem bebidas alcoólicas falsificadas contaminadas pela substância tóxica.

O receio ganhou espaço entre os clientes, que passaram a pensar duas vezes antes de solicitar a carta de drinques e até mesmo de comparecer aos estabelecimentos.

O chef Martin Casilli e o bartender Renan Tarantino perceberam o impacto nos espaços do grupo Sky Hall. “Tivemos alguns clientes corporativos querendo ajustar menus para oferecer apenas bebidas fermentadas, por exemplo, mas fizemos questão de demonstrar que em nossa cadeia não existe brecha para evasão de qualidade”, explicam.

O Exímia Bar, que recentemente entrou para o ranking 50 Best Bars, tem recebido diferentes questionamentos sobre o tema. “É natural ficar preocupado diante de notícias sobre bebidas adulteradas e seus resultados, que são horríveis, mas queremos tranquilizar nossos clientes que no nosso bar cada drinque que servimos tem procedência garantida”, conta o proprietário Márcio Silva.

A preocupação quanto à procedência de bebidas alcoólicas também mobilizou postagens dos bares nas redes sociais. Parte dos estabelecimentos publicou notas afirmando que trabalham com transparência e segurança.

Bares como o Sky Hall e o Exímia reforçaram que trabalham com distribuidores homologados para cada marca e que o processo de compra dos produtos faz parte de uma cadeia rastreável.

Por causa da repercussão, o Exímia afirma que fortaleceu as medidas de segurança com a criação de uma planilha de inventário de todas as lojas do grupo para numerar os lacres das garrafas. Segundo Márcio, o documento está sendo organizado em conjunto com nutricionistas e funcionários e indicará o termo de autenticação dos fornecedores. “Assim, em caso de fiscalização, teremos um documento que comprova nosso controle, diretamente vinculado ao inventário mensal de cada unidade.”

Gabriel Santana, do Santana Bar e do Cordial, também diz que as casas trabalham com a rastreabilidade dos itens. “Por exemplo, se forem produtos da Diageo, em parceiros, como GRF e Front Bebidas; Beam Suntory na Mult Bev… e por aí vai.”

Mas sobre os impactos da clientela, o bartender conta que ainda não puderam ser estimados. “Teremos uma resposta mais clara no final de semana, que é o período de maior movimento do estabelecimento”.

O proprietário Sylas Rocha diz seguir a mesma lógica no The Door, bar dedicado à alta coquetelaria. Ainda que o processo de compra ocorra apenas com distribuidores homologados, a situação o motivou a exigir laudos de todos os fornecedores para reforçar a confiança no serviço.

Ele explica que, além de maior segurança, os homologados também costumam oferecer os melhores preços de maneira legal. “Você consegue estabelecer uma parceria, porque a marca consegue ter o controle de quem e o quanto está comprando.”

Por outro lado, o grande atrativo de distribuidoras que disponibilizam bebidas falsificadas ou adulteradas é justamente o preço. Os itens costumam ser comercializados com promoções abaixo dos valores do mercado, tanto para os donos de bares, quanto para os próprios consumidores.

“Às vezes a galera quer economizar, quer sair, mas pagar baratinho. Daí pega combo, né? Ou promoção de duas caipirinhas por R$ 15. Não é o que você toma, é aonde você toma”, opina Sylas.

A equipe do Sky Hall concorda que a análise do local é necessária. Além de desconfiar de ofertas de bebidas de alta qualidade, Martin e Renan recomendam evitar a compra de ambulantes e de estabelecimentos que não evidenciem suas credenciais, como o alvará de funcionamento.

“Caso queira ter mais segurança, exigir ver o rótulo da bebida em questão para verificar todos os itens de rastreabilidade é um direito assistido por lei que lhe é garantido.”

No entanto, médicos recomendam que o consumo de álcool seja evitado durante as investigações, mesmo que os produtos estejam lacrados e contenham o selo fiscal.

Segundo a Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, são 37 casos registrados de intoxicação por metanol em todo o estado até o momento, sendo dez confirmados e 27 em investigação. Os números diferem dos divulgados pelo Ministério da Saúde, que confirmou ter recebido 39 casos no estado, sendo dez confirmados e 29 em investigação.

Além desses casos, o ministério afirma que há quatro casos investigados em Pernambuco. No total, a pasta afirma ter recebido 43 notificações de intoxicação por metanol de todo o país.