SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Salvo trabalhos de dublagem e participações esporádicas, Matthew McConaughey, 55, estava desde 2019 sem novos projetos em Hollywood. Seu retorno se dá agora como o motorista Kevin McKay, que, ao lado da professora Mary Ludwig (America Ferrera), tenta tirar um grupo de crianças do meio de um dos incêndios mais letais dos EUA em “O Ônibus Perdido”.
“Foram seis anos muito criativos em que apenas escrevi mais, tornei-me um escritor, eu acho, e aproveitei a paternidade ao longo do caminho, que sempre foi primordial para mim mesmo quando estava fazendo filmes”, contou o astro, marido da brasileira Camila Alves, 42, em bate-papo com a imprensa internacional, do qual a reportagem participou. “Eu não consideraria como um tempo de folga, eu estava criando, tentando fazer arte de forma diferente.”
O ator, contudo, ficou tentado a voltar à frente das câmeras porque considerou o convite irrecusável. “Eu queria trabalhar com Paul Greengrass, mas nunca recebi uma ligação dele, foi bom receber essa ligação”, diz sobre o diretor do longa, que estreia na sexta-feira (3) no Apple TV+. “Gosto da maneira como ele lida com ação de grande escopo, mas também com o drama íntimo e interpessoal, e principalmente da forma como ele equilibra as duas coisas em seus filmes.”
O projeto teve ainda um bônus para ele. Seu primogênito, Levi McConaughey, faz sua estreia na atuação como Shaun, filho de seu personagem. Já sua mãe, Kay McConaughey, também aparece como a matriarca da família, Sherry. “Eu não sabia que meu filho estava interessado em tentar fazer o que o pai faz”, conta ele, orgulhoso. O ator diz que o teste foi enviado ao diretor sem o sobrenome para que o rebento concorresse de igual para igual com os outros candidatos.
Além dessas vantagens, o personagem que cabia a Matthew era um prato cheio para qualquer ator. “Gosto de histórias sobre pessoas marginalizadas que acabam fazendo algo heroico”, comenta. “Pessoas que você não pensaria que agiriam heroicamente, mas que as circunstâncias colocam nesse ponto crucial em que precisam tomar uma decisão e fazer a escolha certa para, no final, voltar para casa.”
America Ferrera, 41, também chama a atenção para esse ponto durante o encontro com jornalistas. “Para mim, é muito natural procurar heróis em pessoas comuns”, afirma. “Fui criada por uma mãe solteira e imigrante. Minha avó, minha tia… as heroínas que tornaram a minha existência possível ou suportável e que realizavam milagres todos os dias são como essas pessoas.”
Para o filme, ela se encontrou com a Mary e com o Kevin da vida real, já que a história é baseada em fatos que aconteceram no norte da Califórnia em 2018. “Eles foram muito generosos com o tempo que nos emprestaram e com as ideias que deram”, diz a atriz, que destaca o que levou dessas conversas: “Percebi que uma profunda inteligência emocional era necessária cada vez que ela reprimia o próprio medo para distrair as crianças e ajudá-las a se sentir seguras”.
Porém, ela explica que a ideia não era reproduzir o jeito das pessoas que inspiraram os papéis. “Nós não estávamos interpretando eles; acho que esta foi uma situação muito única”, comenta. “Paul [Greengrass] foi muito claro desde o início: essa era uma história inspirada nesses eventos e nesses seres humanos, mas iríamos criar nossos próprios personagens e as nossas jornadas para eles na tela.”
Sobre o trabalho com os atores mirins que interpretam as crianças no ônibus, a atriz detalha alguns aspectos. “Elas eram muito profissionais”, elogia. “E elas não estavam no ônibus o tempo todo, você não pode trabalhar com crianças por tanto tempo, então, sempre que estávamos fazendo algo perigoso, as crianças não estavam no ônibus.”
“Devo admitir que fiquei um pouco preocupada porque foi uma jornada intensa”, prossegue ela. “Mas essas crianças ficavam gritando e chorando e, quando alguém dizia ‘corta’, elas voltavam a cantar músicas e a brincar. Elas foram muito bem cuidadas e protegidas.”
Já McConaughey diz ter ficado surpreso com o fato de ninguém se machucar nas gravações, que contaram, claro, com muito fogo. “Filmamos as cenas de incêndio com tudo ocorrendo ao vivo no set, havia muitos canos de gás com chamas”, lembra. “Embora seja algo controlado, ainda é fogo, ainda é quente e ainda queima.”
Ele conta que havia uma coordenação de pirotecnia, além de pessoas treinadas para lidar com todo aquele “caos ordenado”. “Eram tantos departamentos… havia centenas de pessoas que tinham que estar realmente coordenadas para que coisas ruins não acontecessem”, afirma. “Se alguém contasse o tempo errado em uma cena, poderia ocorrer algum ferimento.”
Da experiência no filme, o ator diz que leva um respeito ainda maior pela natureza. “Em um desastre natural, não importa o planejamento ou protocolo que a humanidade tenha criado, não é uma batalha de igual para igual: sempre seremos superados”, avalia. Mas é otimista: “Ainda há escolhas que podemos fazer que podem ajudar a equilibrar nossa relação com o planeta”.
America concorda, mas também acrescenta o fator humano. “Quando você enfrenta esse tipo de desastre, as pessoas são tudo o que você tem”, diz. “É seu vizinho que vai ajudar sua avó a sair de casa, é o amigo do seu amigo que vai tirar seu filho da escola…”
“Acho que isso é um lembrete do quanto precisamos uns dos outros e de como é importante para nós reconhecer isso”, completa. “O fogo não quer saber em quem você votou ou o que você pensa sobre mudanças climáticas (risos). Desastre é desastre e temos que ser humildes diante dele.”
“THE LOST BUS”
Quando Estreia 3/10 na Apple TV+
Classificação 14 anos
Elenco Matthew McConaughey, America Ferrera, Ashlie Atkinson, Yul Vazquez, Kate Wharton, Levi McConaughey e Kay McCabe McConaughey, entre outros
Direção Paul Greengrass