SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, recomendou que consumidores não bebam destilados se não tiverem “absoluta certeza” da origem, em meio aos registros de casos de intoxicação por metanol.
O QUE SÃO BEBIDAS DESTILADAS
Bebidas destiladas passam por um segundo processo, além da fermentação: a destilação. O mosto (líquido açucarado que fermenta para gerar álcool, como o suco da uva ou o caldo da cana) é aquecido, vapores alcoólicos são coletados e condensados, elevando a graduação alcoólica.
Cachaça, uísque, vodca e gim são exemplos típicos. Pela legislação brasileira, a cachaça deve ter entre 38% e 48% de álcool v/v, enquanto a aguardente de cana pode chegar a 54% v/v (volume por volume, que indica a proporção de etanol em relação ao volume total da bebida).
A destilação precisa descartar as frações que acumulam substâncias tóxicas como o metanol. Pesquisa do Instituto Adolfo Lutz mostra que o processo separa três partes: a “cabeça”, fração inicial rica em compostos voláteis perigosos; o “coração”, parte intermediária segura para consumo; e a “cauda”, que concentra resíduos indesejáveis do final.
A ausência de controle técnico na destilação favorece a presença de metanol em níveis tóxicos. Artigo da Brazilian Journal of Food Technology aponta que também podem se acumular outras substâncias prejudiciais, como aldeídos, álcoois superiores e furfural.
Já as bebidas fermentadas são produzidas somente pela ação de leveduras sobre açúcares. O processo converte carboidratos em álcool e gás carbônico, resultando em produtos com teor alcoólico relativamente baixo, geralmente entre 4% e 15% v/v. Exemplos mais conhecidos são a cerveja, o vinho e a sidra.
Algumas bebidas combinam fermentação e destilação. É o caso dos vinhos fortificados, como o do Porto, que recebem adição de destilados, e dos licores, que misturam destilados a xaropes ou extratos.
POR QUE O RISCO DO METANOL É MAIOR NOS DESTILADOS
A adulteração com metanol ocorre quase sempre em destilados ilegais ou falsificados. Isso porque a destilação incorreta ou fraudulenta pode concentrar metanol em níveis letais, sem alteração de cor ou sabor perceptível.
O metanol é altamente tóxico. Segundo o CDCs dos EUA (Centros de Controle e Prevenção de Doenças), 10 ml podem causar cegueira e 30 ml podem ser fatais. A Organização Mundial da Saúde e a Organização Pan-Americana da Saúde também documentam surtos em países como Índia, Irã e Indonésia, sempre ligados a destilados clandestinos.
Fermentados, por outro lado, não passam pelo processo de fracionamento. Neles, o risco de metanol é praticamente inexistente, salvo em casos raros de produção clandestina com aditivos ilegais.
COMO O CONSUMIDOR PODE SE PROTEGER
Verificar rótulos, lacres e procedência é a principal medida de segurança. Produtos sem registro, vendidos a preços muito abaixo do mercado ou fora dos padrões de embalagem devem ser considerados suspeitos.
Não há como identificar o metanol na bebida. Geralmente a substância não apresenta diferença de sabor ou cor. Ele é muito semelhante ao etanol usado em bebidas alcoólicas. Só se descobre que é metanol pelos sintomas e após exames clínicos.
Procon de São Paulo orienta procurar o Disque-intoxicação. O número 0800 722 6001 dá orientação clinica e toxicológica.