Da Redação

O boxe, que levou o nome de Acelino “Popó” Freitas ao topo do mundo, também se tornou a base de um trabalho social silencioso, mas de grande impacto em Goiás. Seu irmão, Niltinho Freitas, transformou a gratidão ao esporte em missão: usar as artes marciais como ferramenta de inclusão, disciplina e oportunidade para jovens em situação de vulnerabilidade.

Radicado em Goiânia há mais de duas décadas, Niltinho coordena um projeto social que atende gratuitamente crianças e adolescentes entre 8 e 16 anos. Muitos dos que chegam à academia vêm de realidades marcadas pela pobreza, pelo risco do tráfico e pela falta de perspectiva. Ali, encontram não apenas luvas e sacos de pancada, mas também orientação, respeito e chances de trilhar novos caminhos.

“Já vi meninos largarem a reciclagem para vestir o quimono e colocar as luvas. O boxe me deu tudo e hoje devolvo o que aprendi. Nosso objetivo é formar atletas competitivos, mas também cidadãos preparados para a vida”, afirma Niltinho.

O boxe goiano em ascensão

A frente da Federação de Boxe do Estado de Goiás, Niltinho tem impulsionado o esporte a novos patamares. Se antes era necessário trazer atletas de São Paulo e do Rio para completar equipes, hoje a federação organiza eventos com até 40 lutas formadas apenas por goianos. “O boxe do estado nunca esteve tão forte. Nossos eventos passaram a ser referência nacional”, comemora.

Além da prática, Niltinho investe em formação técnica. Ele concluiu cursos de boxe em Cuba e nos Estados Unidos, trazendo para Goiás uma metodologia que mistura disciplina, estratégia e visão de alto rendimento.

Entre polêmicas e reconciliação

Mesmo com os avanços no esporte, o universo do boxe não escapa das tensões. A recente polêmica envolvendo Popó e Wanderlei Silva trouxe desconforto à família Freitas. Niltinho, no entanto, prega o diálogo: “Não se trata de culpar um ou outro. O que importa é parar, conversar e seguir em frente. Popó já pediu desculpas. O boxe ensina respeito, e é isso que deve prevalecer.”

Ele também critica os julgamentos nas redes sociais, que, segundo ele, alimentam conflitos em vez de resolvê-los. “Olho no olho é diferente. A internet esconde muita gente atrás de telas. Isso não ajuda o esporte nem quem está envolvido.”

Um legado que vai além das medalhas

Para Niltinho, a maior conquista não está nos títulos, mas nas histórias de vida transformadas. É o caso de Kleyderman Batista, ex-aluno que encontrou no boxe uma profissão, estabilidade financeira e uma nova família. “O Nilton foi como um pai pra mim. Sem o boxe, eu não teria rumo. Hoje vivo desse esporte e ajudo outros a seguirem pelo mesmo caminho”, relata.

O impacto do projeto também chega à saúde mental. Alunos que enfrentaram depressão e ansiedade encontram no boxe uma válvula de escape. “É um antidepressivo natural. O esporte exige foco, disciplina e entrega. Quem entra no ringue aprende a se conhecer e a superar limites”, explica Niltinho.

Onde acontece o projeto

A academia Nilton Freitas Boxe, localizada no Setor Marista, em Goiânia, é o centro desse trabalho. Lá, jovens recebem treinamento gratuito, aprendem disciplina e têm a chance de projetar um futuro diferente. Para Niltinho, cada aluno que veste as luvas é uma vitória. “O boxe mudou a minha vida. Hoje, minha missão é fazer com que ele mude a vida de muita gente.”