SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Você sabia que o Brasil tem a terceira maior reserva de terras raras do mundo? Explico o potencial disso.

Também aqui: isenção do IR até R$ 5.000 passa na Câmara e outros destaques do mercado nesta quinta-feira (2).

**NEM TÃO RARAS ASSIM**

Aí vai uma curiosidade para o leitor: as tais das terras raras, que não saem da boca de Donald Trump, não são tão raras assim no Brasil.

Antes… uma definição rápida:

As terras raras são um subgrupo químico dentro dos minerais, formado por 17 elementos com propriedades particulares. São usadas na fabricação de turbinas eólicas, motores de veículos elétricos, telas de smartphones e equipamentos militares.

VOLTANDO

Os insumos estão no centro da disputa geopolítica entre China e Estados Unidos.

De um lado, o país asiático é a grande potência desse mercado: controla 91% do refino e exportação de terras raras. O restante está concentrado, principalmente, na Malásia.

Do outro, está nos planos dos EUA tornar-se a principal potência na corrida do avanço tecnológico, sobretudo no que diz respeito à inteligência artificial. Para isso Trump precisa do maior fornecimento de terras raras que conseguir —e a China é a pedra no caminho dele.

Em abril deste ano, em retaliação à guerra comercial, a China interrompeu as exportações de alguns tipos de terras raras e de ímãs feitos a partir destes metais para o Ocidente, o que colocou países em alerta: foi uma demonstração do poder de barganha dos chineses.

E O BRASIL COM ISSO?

Apesar de termos a terceira maior reserva global desses elementos, produzimos muito pouco e temos apenas uma mineradora em operação, a Serra Verde, com capacidade bem inferior à das grandes companhias desse mercado.

Aí vai um mapa que mostra onde estão as principais reservas de minerais críticos no Brasil.

Nos últimos dias, a possibilidade de o Brasil usar essa reserva como contrapartida na negociação da sobretaxa de 50% à exportação de produtos brasileiros para os EUA foi colocada na mesa. Trump pode se interessar em colocar empresas americanas para explorar esses ativos aqui e ter uma opção além dos chineses para conseguir esses materiais.

Especialistas, no entanto, questionam se é uma boa ideia dar um bem valioso — que tende a se tornar cada vez mais importante— para os americanos. Talvez, fosse melhor explorá-lo nós mesmos, não?

VOLTANDO NO TEMPO

O Brasil já foi referência na indústria de terras raras, mas perdeu fôlego ao longo da história.

O país começou a separação sofisticada dos elementos na década de 1940, mas o negócio perdeu força quando houve intoxicação de funcionários pelos minerais —em um momento em que os protocolos de segurança eram muito diferentes.

**NO APAGAR DAS LUZES**

As instituições federais americanas estão no escuro. O apagão institucional (ou “shutdown”) foi confirmado e, as consequências à primeira vista, você já leu nesta newsletter.

Hoje, vamos falar dos efeitos que o conflito pode ter para o banco central americano, o Federal Reserve, que já passa por um momento difícil.

RECAPITULANDO

O Congresso dos EUA tinha até a 0h do dia 1 de outubro para chegar a um acordo sobre o orçamento que sustenta as instituições federais. Isso não aconteceu e, portanto, não há verba para pagar funcionários e fornecedores das agências.

O Escritório de Orçamento do Congresso estima que cerca de 750 mil funcionários serão colocados em licença não remunerada a um custo diário de US$ 400 milhões em compensação perdida.

SACO DE PANCADA

O Federal Reserve, que sofria com uma pressão exacerbada do governo americano sobre a gestão da política macroeconômica nacional, pode sair perdendo também nessa história.

O banco central fica sem dados importantes para tomar decisões sobre a taxa básica de juros do país. Afinal, são as agências federais que calculam alguns dos indicadores econômicos mais importantes.

O Escritório de Estatísticas do Trabalho anunciou que não publicará um aguardado relatório sobre a situação do emprego no país, cuja divulgação estava marcada para sexta-feira.

Outros lançamentos de dados importantes, como o índice de compras ao consumidor —que mede a inflação—, também podem ser prejudicados pela falta de verba.

NO ESCURO

O principal conflito do Fed sobre baixar ou não os juros —hoje, de 4,00% a 4,25%— vem da contradição entre os dados de crescimento econômico e emprego: o mercado de trabalho permanece aquecido, ao mesmo tempo que a atividade econômica aparenta estar em contração.

“Me dói que não teremos estatísticas oficiais quando estamos tentando entender o momento que a economia atravessa”, disse Austan Goolsbee, presidente do Federal Reserve de Chicago.

**ISENÇÃO DO IR AVANÇA**

A Câmara dos Deputados aprovou ontem a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 por mês. O projeto do governo Lula teve votação unânime e precisa agora passar no Senado antes de começar a valer em 2026.

ENTENDA

A desoneração deve beneficiar até 16 milhões de contribuintes a um custo de R$ 31,2 bilhões no ano que vem, segundo o relator da proposta, Arthur Lira (PP-AL)

💬 Abre aspas:

“Vitória em favor da justiça tributária e do combate à desigualdade no Brasil”, disse Lula.

“A aprovação da isenção de IR é um marco de justiça fiscal, mas também de união”, afirmou Hugo Motta (Republicanos – PR), presidente da Câmara.

COMO FICA?

Contribuintes com renda mensal de até R$ 5.000 serão isentos de IR (isso após aprovação no Senado e a entrada em vigor da lei). Eles deixarão de pagar R$ 312,89.

Quem ganha de R$ 5.000,01 a R$ 7.350 por mês não será isento, mas terá um desconto no imposto, que vai diminuir progressivamente conforme a renda aumenta.

QUEM PAGA A CONTA?

Pessoas físicas que recebem rendimentos acima de R$ 600 mil por ano (o equivalente a R$ 50 mil por mês) estarão sujeitas à cobrança de uma alíquota progressiva de 0% a 10% para rendimentos de R$ 600.000,01 a R$ 1.199.999,99.

A partir de R$ 1,2 milhão, a cobrança mínima será sempre de 10%.

O valor efetivamente devido pelo contribuinte vai depender do quanto ele recolhe sobre suas fontes de renda. Se o imposto pago já tiver sido maior que 10% da renda, não haverá necessidade de cobrança adicional.

**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**

Fim do quebra? Lula deu o aval a fim da obrigatoriedade da autoescola para quem quiser tirar a CNH (Carteira Nacional de Habilitação). A medida vai passar por uma audiência pública no Ministério dos Transportes.

Tentar não custa nada. A Refit está tentando reverter a interdição da refinaria de Manguinhos e reaver as cargas apreendidas pela receita.

Agro de olho. Trump disse que vai se reunir com Xi Jinping para discutir a exportação de soja para a China. Produtores do agronegócio brasileiro observam o negócio com atenção.

Rombo nos cofres. As distorções cambiais estão custando a Milei US$ 2 bilhões por mês na Argentina.