SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os casos e mortes envolvendo o consumo de bebidas alcoólicas adulteradas por metanol não tem afetado o faturamento dos bares, segundo Paulo Solmucci, presidente-executivo da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes). “Agora, a gente vai passar o primeiro final de semana após essa denúncia e pode ser que alguma coisa afete,” afirmou.
Para minimizar o impacto para o comércio, Solmucci diz que a associação tem o objetivo de esclarecer e dar orientações para tanto os consumidores quanto os donos de estabelecimentos.
Ele indica que, normalmente, um produto falsificado pode ter um selo torto e rótulos adulterados. “O consumidor pode olhar no balcão se as bebidas tem o selo da receita e se estão com uma aparência ‘normal’.” O presidente afirma que o mesmo vale para os donos de estabelecimento.
Em parceria com a ABBD (Associação Brasileira de Bebidas Destiladas) e a a ABRABE (Associação Brasileira de Bebidas), a Abrasel está divulgando um treinamento para os parceiros comerciais das associações com atualizações sobre o caso e orientações formais.
O dono do estabelecimento, além de checar o produto em si, deve olhar se o fornecedor é uma indústria com boa reputação ou um distribuidor conhecido no mercado. “Principalmente olhar o preço. Preço muito baixo, em geral, é falsificação”, diz.
Solmucci reforça que a associação deve também trabalhar em conjunto com o poder público e que falta uma maior fiscalização de indústrias e distribuidoras. Na terça-feira (30), representantes do Governo de São Paulo se reuniram com associações de bares, restaurantes, hotéis e supermercados para ouvir demandas e preocupações sobre os casos das bebidas adulteradas.
Para o presidente da Abrasel, as autoridades demoraram para dar visibilidade às ocorrências, já que a primeira já tem mais de 20 dias. Segundo o Secretário de Saúde de São Paulo, Eleuses Paiva, o primeiro caso ocorreu entre os dias 28 de agosto a 1º de setembro.
“Acho que o primeiro desafio nosso é tranquilizar. Eu gostaria de pedir serenidade”, afirmou ressaltando que não há motivo para alarme. “Temos razão para ficar alertas. Felizmente eu estou muito tranquilo para dizer que nós não temos uma epidemia e nós não temos um problema se alastrando.”
Ele também descarta a possibilidade do envolvimento da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) na adulteração de bebidas.
A Prefeitura de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, confirmou mais uma morte suspeita de intoxicação por metanol. Com o novo registro, o estado passar a somar seis óbitos, dos quais um já foi confirmado e cinco ainda aguardam laudo do IML (Instituto Médico Legal) para confirmar ou descartar a contaminação com substância tóxica. A sexta vítima é um homem de 49 anos que morreu em casa.
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, são 37 casos registrados de intoxicação por metanol em todo o estado, sendo dez confirmados e 27 em investigação. O dado difere dos números divulgados pelo Ministério da Saúde, que confirmou ter recebido 39 casos no estado, sendo dez confirmados e 29 em investigação. Além desses, o ministério diz que há quatro casos investigados em Pernambuco. No total, a pasta afirma ter recebido 43 notificações de intoxicação por metanol de todo o país.
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O QUE É METANOL?
O metanol é um produto químico industrial, altamente tóxico e impróprio para consumo humano. Mesmo pequenas quantidades podem ser fatais.
QUANTAS PESSOAS FORAM INTOXICADAS?
Segundo o secretário estadual da Saúde, Eleuses Paiva, até o momento há 22 casos envolvendo a contaminação por metanol, sendo sete confirmados e 15 em investigação. Seis desses casos resultaram em mortes, a causa de quatro está sob investigação e há a confirmação de que apenas uma delas tenha sido após a ingestão de bebida adulterada.
COMO OS JOVENS FORAM INTOXICADOS?
As vítimas disseram terem sido intoxicadas após comprarem bebidas prontas em bares ou garrafas lacradas em adegas.
De um grupo de cinco amigos da zona sul de São Paulo, quatro pessoas foram hospitalizadas após consumirem uma garrafa de gim comprada dias antes em uma adega.
Rhadarani Domingos, designer de interiores, por sua vez, está internada e perdeu a visão após consumir caipirinhas de frutas com vodca em um bar nos Jardins, em São Paulo.
Segundo especialistas, a contaminação de uma bebida alcoólica por metanol tende a acontecer em casos de falsificação do produto, uma vez que a substância tóxica pode estar presente em álcool adulterado ou mesmo ser adicionada para aumentar o teor alcoólico de forma mais barata.
QUAL É A SUSPEITA SOBRE A ORIGEM DO METANOL?
Ainda não se sabe qual é a origem do metanol nem como as garrafas foram intoxicadas.
A Polícia Civil investiga bares e adegas, como a da Cidade Dutra, onde o grupo de amigos teria comprado a garrafa de gim. O bar Ministrão, no Jardins, foi fechado nesta terça-feira (30) pela Vigilância Sanitária municipal e estadual.
A Polícia Federal abriu nesta segunda-feira (29) um inquérito para investigar os casos, após determinação do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski. O órgão vai verificar a procedência da substância e se existe distribuição em outros estados, bem como responder se há envolvimento do crime organizado.
A Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) diz que as adulterações podem estar ligadas à facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) diz que não há evidências de participação.
É POSSÍVEL IDENTIFICAR O METANOL NA BEBIDA?
O consumidor não consegue identificar metanol pelo gosto, cheiro ou aparência. Muitas vezes, a bebida contaminada tem sabor idêntico ao produto original.
COMO IDENTIFICAR QUE A BEBIDA ESTÁ CONTAMINADA?
Não existe forma caseira segura de identificar bebidas adulteradas com metanol, já que ele é incolor, volátil e pode ter odor e sabor muito parecidos aos do etanol. A detecção só é possível em laboratório.
No entanto, há sinais de alerta que devem chamar a atenção:
– Preço muito abaixo do mercado
– Ponto de venda informal
– Odor irritante
– Embalagens com rótulo mal impresso, torto ou com erros
– Ausência de CNPJ, lote ou data de validade na embalagem
– Lacre violado
– Turvação ou alteração de cor em bebidas que deveriam ser transparentes, como vodca, gin, saquê e cachaça.
COMO PREVENIR O CONSUMO DE BEBIDA CONTAMINADA?
É importante comprar de fontes confiáveis, como supermercados e distribuidoras autorizadas que sejam estabelecimentos conhecidos ou dos quais tenha referência.
O Procon-SP recomenda também que se exija sempre a nota fiscal ou comprovação de origem: documento precisa ter todas as informações de identificação do fornecedor e da compra.
No caso do consumo em bares, o consumidor não tem como saber se a bebida contida é legítima. Por isso, a responsabilidade recai sobre os estabelecimentos e sobre os órgãos fiscalizadores.
QUAIS SÃO OS SINTOMAS DA INTOXICAÇÃO?
Sintomas típicos são náusea, vômito, dor abdominal, tontura, dor de cabeça, visão turva ou perda da visão, confusão, sonolência e dificuldade respiratória. Eles podem ser confundidos com uma forte ressaca.
QUAIS SÃO OS EFEITOS DO METANOL NO CORPO?
De acordo com especialistas, de 12 a 24 horas após o consumo da bebida adulterada, o fígado já transformou o metanol em ácido fórmico (ácido produzido pelo organismo na metabolização do metanol).
Nesta fase, o paciente também pode apresentar dor abdominal, insuficiência respiratória, confusão mental, alterações no sistema nervoso central, perda de visão e entrar em coma. A depender do caso, pode levar à morte.
O QUE FAZER EM CASO DE CONSUMO DE BEBIDA SUSPEITA OU APRESENTAR SINTOMAS?
Interrompa o consumo e procure atendimento médico. Informe que pode ter sido ingerido metanol.
Ligue para o Disque-Intoxicação 0800 722 6001 (Anvisa), serviço 24 horas que orienta sobre intoxicações.
Em relação à bebida, preserve a garrafa suspeita, registre fotos ou vídeos do rótulo e do local de compra e faça a notificação às autoridades: Vigilância Sanitária municipal/estadual, Polícia Civil (197), Procon e o sistema e-Notivisa da Anvisa.
Leve a embalagem e, se possível, a nota fiscal, informando ao serviço de saúde a suspeita de intoxicação por metanol, pois o tratamento específico pode incluir antídotos (fomepizol ou etanol sob prescrição médica) e hemodiálise.