SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Orçamento de São Paulo projetado pelo governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) para 2026 prevê crescimento das receitas abaixo da inflação acumulada em 2025, ano eleitoral. Além disso, os investimentos ficarão abaixo do montante estimado para este ano.

A receita total de São Paulo em 2026 será, segundo o projeto, de R$ 382,3 bilhões, ante R$ 372,4 bilhões deste ano. A alta é de 2,65%, enquanto o mercado espera inflação de 4,81% em 2025, segundo o último relatório Focus do Banco Central. Em comparação, o orçamento de 2025 havia crescido 13,53% em relação ao de 2024.

As despesas com custeio da máquina pública terão peso maior nas contas do próximo ano, segundo o projeto. No Orçamento de 2025, a projeção de gastos com pessoal e encargos sociais foi de R$ 149,9 bilhões; para 2026, a previsão é de R$ 159,3 bilhões (alta de 6,3%).

O governo Tarcísio argumenta que o Orçamento do ano que vem traz equilíbrio entre receitas e despesas públicas e que a relação entre investimentos e receita corrente líquida está entre os maiores patamares da série histórica.

O texto enviado à Alesp projeta que os investimentos –despesas que permitem ampliar a oferta de serviços públicos– cairão para R$ 32,7 bilhões, ante R$ 34,7 bilhões previstos para 2025. A queda, em valores nominais, é de 3,5%. Aplicada a inflação do período, a redução chega a 10,3%.

Tarcísio foi eleito com uma plataforma que prioriza parcerias com a iniciativa privada para viabilizar obras públicas, e o orçamento de 2026 reforça isso. A diminuição nos investimentos é puxada pela queda na aplicação direta de recursos em obras, que terá retração de 22%, de R$ 21,5 bilhões em 2025 para R$ 16,7 bilhões em 2026.

Por outro lado, a previsão de repasses para empresas privadas parceiras do governo ou para estatais deve subir de R$ 13,3 bilhões para R$ 15,6 bilhões. Estes recursos também precisam ser alocados em obras.

O secretário-executivo de Fazenda e Planejamento, Rogério Campos, defende que a opção por despesas via parcerias privadas, voltadas a obras estruturantes, resulta em investimentos mais qualificados.

“Posso gastar R$ 8 bilhões das PPPs fazendo convênio com prefeituras, em um ano específico, para erguer um pórtico. É investimento”, diz à Folha. “Mas, em termos de dimensão e qualidade, me parece que melhorou [a alocação de recursos]. A gente tem feito uma dimensão maior de investimentos mais qualificados.”

Entre as principais obras previstas no orçamento de 2026, estão R$ 5,4 bilhões para o Metrô, R$ 850 milhões de repasses para a CDHU (habitação) e R$ 3,1 bilhões para a Secretaria de Parcerias em Investimentos. A construção do novo centro administrativo do estado, em Campos Elíseos, no centro da capital, deve receber R$ 733 milhões.

As duas obras com maior histórico de atraso do estado, o monotrilho da Linha 17-Ouro, na avenida Jornalista Roberto Marinho, e o trecho norte do Rodoanel, terão R$ 1,6 bilhão e R$ 403 milhões, respectivamente.

O governo prevê ainda um salto no programa SuperAção SP, marca que Tarcísio busca emplacar na área social para contrapor o Bolsa Família, ligado ao PT. O programa deve receber R$ 643 milhões.

Em 2025, o estado concedeu benefícios a 40 mil famílias em situação de vulnerabilidade social. Para 2026, a projeção é ampliar os benefícios para 264 mil famílias -mais de seis vezes o número anterior.

A arrecadação fraca no segundo semestre deste ano, reta final do período pré-eleitoral, tem preocupado aliados do governador, conforme a Folha de S.Paulo publicou. Campos admite que o cenário é adverso e atribui o caso à conjuntura econômica.

“No meu relatório de gestão fiscal, já explicitei que a atividade econômica está mais fraca e a arrecadação tem ficado um pouco abaixo da estimativa. Então, provavelmente, fecho o realizado de 2025 abaixo da receita prevista em alguma medida”, disse.

Ele atribui o desempenho a fatores como a alta taxa de juros do Banco Central, que freia investimentos privados.

“O setor produtivo para de investir com uma taxa tão alta, um vetor de investimento muito caro, o custo de oportunidade do dinheiro muito alto”, diz. “A gente tem uma dificuldade na nossa matriz produtiva, que é a indústria de transformação e de bens de capital. Por outro lado, também a indústria importa menos, o que afeta a arrecadação.”

Campos afirma que o governo adotou medidas para manter o equilíbrio fiscal. As receitas correntes -obtidas da arrecadação de impostos- devem subir 4,1% em 2026, de R$ 350,2 bilhões para R$ 364,4 bilhões. Já as despesas correntes -que incluem pessoal e manutenção de serviços- devem crescer 2,8%, de R$ 139,9 bilhões para R$ 148 bilhões.

“Eu tenho um crescimento maior da receita do que da despesa corrente, o que é positivo. Gera caixa e me permite fazer investimentos”, afirma.

Segundo o governo, os gastos com pessoal cresceram em ritmo próximo ao da inflação (os servidores tiveram reajuste de 5% neste ano) e o estado perdeu repasses federais para pagamento de profissionais da educação.

Campos acrescenta que a previsão é de que os investimentos representem 11,5% da receita corrente líquida do estado -total arrecadado menos transferências obrigatórias e receitas extraordinárias.

Nos últimos dez anos, segundo a secretaria, apenas em 2021 e 2022, quando a pandemia permitiu regras especiais de expansão de gastos, essa relação ficou acima de 10%.

Na mensagem enviada à Alesp, Tarcísio faz referências indiretas às sanções impostas a produtos brasileiros nos Estados Unidos pelo governo Donald Trump ao descrever o ambiente econômico, mas também lança críticas indiretas à condução da política fiscal federal do governo Lula. Os EUA são o principal destino das exportações paulistas.

Tarcísio já chegou a vestir um boné em apoio a Trump e, após o tarifaço, em meio ao desgaste político, oscilou entre o endosso ao americano, recados ao Judiciário e críticas a Lula.

O governador afirma no texto à Alesp que “as perspectivas econômicas globais estão se tornando cada vez mais desafiadoras” e que “há fortes evidências da permanência de flutuações importantes nas novas dinâmicas da economia mundial, com a intensificação das tensões geopolíticas”.

Em seguida, escreve: “É certo que os efeitos desse quadro podem ser particularmente graves para o delicado cenário econômico nacional, em face da já debilitada e grave situação fiscal do país.”

Os deputados estaduais devem propor mudanças no texto enviado por Tarcísio e têm até o fim do ano para votar a proposta.