SÃO PAULO, SP E PELOTAS, RS (FOLHAPRESS) – Um “shutdown” (paralisação econômica) atingiu o governo dos Estados Unidos nesta quarta-feira (1º) após legisladores democratas e republicanos falharem em resolver um impasse sobre o orçamento federal americano no Congresso.

Novas votações foram realizadas ao longo do dia, mas não houve acordo entre os dois partidos, que trocam acusações sobre a responsabilidade do apagão. À noite, o governo de Donald Trump congelou US$ 26 bilhões destinados a estados de inclinação democrata, cumprindo sua ameaça de usar a falta de recursos para atingir os rivais políticos.

Embora serviços como correios, previdência social e a assistência de saúde Medicare continuem funcionando, parques, museus e bibliotecas foram fechados em todo o país. Milhares de funcionários de diversas pastas foram afastados ou estão trabalhando sem receber.

O financiamento para agências federais dos Estados Unidos expirou na virada de terça (30) para quarta-feira, depois que o Senado rejeitou um projeto de lei de gastos temporários que teria mantido as operações até 21 de novembro.

Nesta quarta, o Senado voltou a vetar a contraproposta orçamentária dos democratas para financiar o governo. Em seguida, a maioria dos democratas da Casa votou novamente para barrar um projeto republicano de gasto provisório, que manteria o financiamento nos níveis atuais.

O Escritório de Orçamento do Congresso estima que cerca de 750 mil funcionários serão colocados em licença não remunerada a um custo diário de US$ 400 milhões.

Este é o primeiro shutdown nos EUA desde 2018, quando ocorreu o apagão mais longo da história do país, que durou 35 dias. Essa é a 15ª paralisação do governo desde 1981.

Os programas afetados pelo congelamento incluem US$ 18 bilhões para projetos de transporte em Nova York, região dos dois principais democratas no Congresso, e US$ 8 bilhões para projetos de energia limpa em 16 estados governados por democratas, incluindo Califórnia e Illinois.

Em jogo no financiamento do governo estão US$ 1,7 trilhão para operações de agências, o que representa cerca de 25% do orçamento total do governo, de US$ 7 trilhões. Grande parte do restante vai para programas de saúde, aposentadoria e pagamentos de juros sobre a crescente dívida de US$ 37,5 trilhões.

No pregão desta quarta, o dólar avançou 0,10% em relação ao real, cotado a R$ 5,328, enquanto o Ibovespa caiu 0,56%, a 145.415 pontos.

A paralisação também pode adiar a divulgação do aguardado relatório mensal de empregos, desacelerar o tráfego aéreo, suspender pesquisas científicas e reter o pagamento das tropas americanas. Republicanos também ameaçaram cortar funcionários do serviço público federal.

“Se isso se arrastar por mais alguns dias, ou, Deus me livre, por mais algumas semanas, vamos ter que demitir pessoas”, disse o vice-presidente J.D. Vance. “Vamos ter que economizar em alguns lugares para que os serviços essenciais não sejam desligados em outros.”

O presidente da Câmara dos Deputados, o republicano Mike Johnson, reagiu com irritação nesta quarta à sugestão de que faria um acordo com os democratas, dizendo: “Não há nada para negociar. Não há nada que possamos tirar deste projeto para deixá-lo mais enxuto ou mais limpo do que já está.”

Os republicanos têm maioria em ambas as câmaras do Congresso, mas as regras legislativas exigem que 60 dos 100 senadores concordem com a legislação de gastos. Isso significa que pelo menos sete democratas são necessários para aprovar um projeto de lei de financiamento.

Os democratas estão sob pressão em torno das eleições de meio de mandato de 2026, que determinarão o controle do Congresso para os dois últimos anos do mandato de Trump.

Junto com os subsídios de saúde estendidos, os democratas também buscaram garantir que Trump não seja capaz de desfazer mudanças caso elas sejam transformadas em lei. Trump se recusou a gastar bilhões de dólares aprovados pelo Congresso, levando alguns democratas a questionar por que deveriam votar em qualquer legislação de gastos.

O professor da Universidade de Chicago, Robert Pape, disse que o clima político polarizado dos EUA após o assassinato do ativista conservador Charlie Kirk e o crescente poder nas alas extremas de ambos os partidos pode dificultar que os líderes partidários concordem com um acordo para reabrir o governo.

“As regras da política estão mudando radicalmente e não podemos saber com certeza onde tudo isso vai terminar”, disse Robert Pape, professor de ciência política da Universidade de Chicago, que estuda violência política.

“Cada lado teria que recuar contra dezenas de milhões de apoiadores verdadeiramente agressivos, seus próprios eleitores, o que vai ser realmente difícil para eles fazerem”.