SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A ABBD (Associação Brasileira de Bebidas Destiladas) estima que 1 a cada 5 garrafas de uísque ou vodca comercializadas no país é falsa. Fundada em 2021, a entidade é formada por cinco empresas globais –Bacardi Martini, Beam Suntory, Brown Forman, Diageo Brasil e Pernod Ricard.

Já a Fhoresp (Federação de Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo) estima que 36% das bebidas alcoólicas vendidas no Brasil sejam fraudadas, falsificadas ou contrabandeadas, com destaque para vinhos e destilados.

As entidades que representam o setor de bebidas no Brasil apontam a falta de dados oficiais e consolidados sobre o mercado ilegal de bebidas alcoólicas no país. Os números apresentados são projeções construídas a partir de tendências de mercado, informações de fontes abertas, observações empíricas e levantamentos junto a sindicatos, empresas do setor de bebidas e tabaco e à Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF).

Um estudo da Euromonitor International, empresa de análise de dados e pesquisa de mercados, encomendado pela ABBD, estima que o mercado ilegal de álcool no Brasil tenha causado um prejuízo de R$ 28 bilhões em 2024. Esse valor não se refere apenas às vendas de produtos falsificados, mas soma as perdas de arrecadação tributária, os impactos econômicos sobre empresas legais e os custos para o sistema de saúde com casos de intoxicação e internações.

Do volume de bebidas destiladas, o estudo apontou que 28% são de objeto de crimes como sonegação fiscal, contrabando ou descaminho, falsificação e produção sem registro. O ato ilícito mais prejudicial, tanto ao setor produtivo quanto aos consumidores, é a falsificação.

Os dois métodos mais comuns de falsificação no mercado são o “refil” de garrafas de marcas conhecidas com bebidas de baixo custo e a produção a partir de álcool impróprio para consumo humano, prática que coloca em risco a saúde dos consumidores. O preço é o grande atrativo: segundo o estudo, os produtos falsificados custam em média 35% menos. Em lojas virtuais, a diferença pode ser ainda maior -no caso do uísque, chega a 48% em relação ao original.

A pesquisa também mostrou o crescimento de 13% no consumo de álcool substituto (álcool de fontes não destinadas ao consumo humano, como álcool de limpeza) em 2024.

A falsificação acontece principalmente porque o crime organizado está cada vez mais estruturado, controlando etapas que vão desde a coleta de garrafas até a impressão de rótulos sofisticados, diz a ABBD.

Para a associação, elementos que mantêm o mercado ilegal ativo incluem a dificuldade de fiscalização em grandes territórios, a sofisticação crescente das redes criminosas e a expansão de canais de venda informais e digitais, que facilitam o escoamento desses produtos.

Apesar disso, o estudo aponta uma retração de cerca de 25% no contrabando de bebidas alcoólicas em 2024, atribuída à valorização do dólar frente ao real e à maior eficiência da fiscalização, impulsionada pelo uso de tecnologias como drones nas fronteiras.

Os destilados são as categorias mais atingidas pelo mercado ilegal, enquanto fermentados como vinho e cerveja registram penetrações ilícitas menores (7% e 2%, respectivamente).

BEBIDAS ADULTERADAS COM METANOL PROVOCAM MORTES NO PAÍS

O estado de São Paulo registrou, desde junho deste ano, casos de intoxicação de jovens por metanol, uma substância tóxica capaz de causar cegueira e morte. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, são 37 casos registrados de intoxicação por metanol em todo o estado, sendo dez confirmados e 27 em investigação. Foram registrados seis óbitos, sendo um confirmado por intoxicação por metanol e cinco em investigação. Pernambuco também confirmou duas mortes.

O dado difere dos números divulgados pelo Ministério da Saúde, que confirmou ter recebido 39 casos no estado, sendo dez confirmados e 29 em investigação. Além desses, o ministério diz que há quatro casos investigados em Pernambuco. No total, a pasta afirma ter recebido 43 notificações de intoxicação por metanol de todo o país.

A Polícia Civil investiga bares e adegas suspeitas de venderem bebidas alcoólicas intoxicadas e a Polícia Federal verifica a procedência da substância e se existe distribuição em outros estados.