BRASÍLIA, DF E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou nesta quarta-feira (1º) que o governo brasileiro vai aplaudir o plano de paz apresentado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com o objetivo de acabar com a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza.
Plano de Trump para Gaza inclui anistia a membros do Hamas; veja íntegra Questionado por um parlamentar durante audiência na Comissão de Relações Exteriores da Câmara, Vieira disse que o objetivo do plano é o mesmo defendido pelo Brasil em manifestações anteriores sobre o tema.
“Sem dúvida nenhuma vamos aplaudi-lo publicamente, possivelmente ainda no dia de hoje, porque o objetivo do plano é justamente o que nós sempre defendemos desde o início do conflito, quando inclusive ainda estávamos no Conselho de Segurança [da ONU]”, disse o chanceler.
“Apresentamos resoluções nesse sentido, que foram, na ocasião, vetadas por um país-membro”, continuou Vieira, sem nomear diretamente os Estados Unidos, que vetaram resoluções pedindo cessar-fogo no Oriente Médio em seis ocasiões diferentes.
“Justamente, a libertação dos reféns, o fim do conflito, o cessar-fogo imediato, a reconstrução de Gaza, o respeito aos direitos humanos, a ajuda humanitária, tudo isso está dentro das nossas linhas políticas. Sem dúvida nenhuma, o Brasil aplaude a iniciativa, e fazemos votos de que ela surta efeitos e seja aceita por todas as partes”.
O presidente Lula criticou Israel várias vezes ao longo de seu mandato atual. No ano passado, ele chegou a ser declarado “persona non grata” depois de comparar as ações israelenses na Faixa de Gaza ao Holocausto nazista.
Apesar da crise na relação diplomática entre os países, o líder brasileiro manteve suas críticas a Israel. Ele disse várias vezes que há um genocídio em curso em Gaza, termo usado inclusive em seu discurso na Assembleia-Geral da ONU, no último dia 23.
Antes, em junho, afirmou que os defensores de Tel Aviv precisam parar de vitimismo e que a guerra é uma “vingança de um governo contra a possibilidade da criação do Estado palestino”.
Em fevereiro, Lula também fez críticas à participação de Trump nas negociações sobre o conflito. O brasileiro afirmou que a proposta do republicano de deslocar os palestinos de Gaza e o plano de Washington de assumir o controle do território “não têm sentido”.
Na ocasião, o presidente americano havia dito que “muitas pessoas” gostavam da “ideia de que os EUA ocupem aquele pedaço de terra e criem empregos” em Gaza, que se tornaria, em suas palavras, a “Riviera do Oriente Médio”.
“Os palestinos vão para onde?”, questionou Lula.
Trump anunciou, na segunda-feira (29), um plano para acabar com a guerra em Gaza, com o qual o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, afirmou ter concordado. A declaração foi dada à imprensa após reunião entre os líderes em Washington. Segundo Trump, se o Hamas concordar com a ideia, a guerra deverá acabar imediatamente -o grupo terrorista, no entanto, ainda não deu seu parecer formal.
Membros da facção disseram sob anonimato a agências de notícias internacionais que há pontos na proposta incompatíveis com suas demandas. O Hamas tem reservas principalmente quanto aos pontos que falam sobre o desarmamento do grupo e à retirada de Israel da Faixa de Gaza e estaria estudando a possibilidade de propor emendas.
Na terça-feira (30), Netanyahu disse que, ao menos em um primeiro momento, as tropas israelenses permaneceriam na maior parte de Gaza mesmo se o acordo entrasse em vigor. “O mundo inteiro, incluindo o mundo árabe e muçulmano, está pressionando o Hamas a aceitar as condições que estabelecemos com o presidente Trump: libertar todos os nossos sequestrados -vivos e mortos- enquanto as Forças de Defesa de Israel permanecem na maior parte do território.”
O presidente americano, por sua vez, deu ao grupo terrorista “de três a quatro dias” para que aceite o plano anunciado. Caso a proposta seja rejeitada, Trump disse que haverá “um fim muito triste”.
Antes, na ocasião da divulgação, o americano foi mais categórico. “Se o Hamas recusar o acordo… isso é possível, mas acho que eles aceitarão. Caso contrário, Israel terá meu total apoio para fazer o que for preciso para destruir o Hamas.” Questionado se havia espaço para mais negociações, ele respondeu: “Não muito”.
O plano especifica um cessar-fogo imediato, a troca de todos os reféns mantidos pelo Hamas por prisioneiros palestinos detidos por Israel, a retirada por etapas das tropas israelenses de Gaza, o desarmamento do grupo terrorista e a introdução de um governo de transição liderado por um organismo internacional.
A proposta apresentada prevê ainda que Trump será o chefe do “Conselho da Paz”, que incluirá Tony Blair, ex-primeiro-ministro do Reino Unido -em nota, o político britânico chamou o plano de “corajoso e inteligente”.
O “Conselho da Paz” seria responsável por supervisionar o futuro governo de Gaza, que seria comandado temporariamente por um “comitê palestino de transição, tecnocrático e apolítico”. Esse colegiado, por sua vez, administraria os serviços no território.