RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Vídeos de câmeras corporais acopladas ao uniforme de policiais do Bope (Batalhão de Operações Especiais) flagraram oito agentes revirando uma casa no complexo do Alemão, zona norte do Rio de Janeiro, e levando pertences durante uma operação ocorrida em 15 de janeiro deste ano.
As imagens mostram os militares abrindo gavetas e armários, experimentando perfumes, avaliando roupas de marca e separando tênis.
As imagens foram divulgadas pelo jornal O Globo. Ao todo, oito policiais foram identificados.
Nos diálogos, os agentes comentam antes do furto: “Se estivesse com a viatura, levava a JBL (caixa de som)”. Em outros momentos, afirmam frases como “Esse tênis não é de lojinha, é de loja”, “Esse Nike Shox passa de R$ 2.000, fácil” e “É bonitão, tem aquelas quatro molas atrás, maneirasso, lindo.” Um deles questiona: “Tem 43 [licor]?”.
Já sobre outros objetos, os policiais brincam: “Se alguém achar um Playstation, me avisa”, ao que um responde: “Também estou precisando”.
Em outro trecho, ao encontrar um celular, um militar diz: “Não quero ser acusado de levar isso”.
A Corregedoria da PM afirma que apurou o conteúdo das câmeras, concluiu a investigação e remeteu o caso à Promotoria militar, nesta terça (30). Os agentes foram afastados do policiamento de rua e cumprem funções administrativas.
Segundo nota oficial, a corporação afirmou não compactuar com desvios de conduta e que os envolvidos serão punidos “com rigor”.
A Operação Caixinha tinha como alvo a estrutura financeira do Comando Vermelho e mirava Fhillip Gregório da Silva, o Professor, suspeito de tráfico e apontado como fornecedor de armas da facção; ele morreu meses depois.
O Bope passou a ser obrigado a utilizar câmeras corporais nas fardas em janeiro de 2024, após decisão do STF (Supremo Tribunal Federal). O governador Cláudio Castro (PL) tentou à época recorrer da decisão do ministro Edson Fachin, que em 2022 determinou a implementação de câmeras em todo o efetivo policial fluminense.
O argumento da gestão Castro no processo era de que as câmeras corporais poderiam “revelar as técnicas das forças especiais, as suas táticas e os seus equipamentos para os criminosos”.
Cerca de 13 mil câmeras em operação registram, de forma ininterrupta, as atividades diárias dos policiais.
Boletins internos da Polícia Militar publicados em 2024 apontam alguns casos de uso irregular das câmeras. Em um dos relatos, ocorrido em janeiro de 2024, em Teresópolis, um policial retira a câmera corporal da farda e coloca no banco traseiro da viatura durante averiguação de denúncia sobre atividade do tráfico.
Em outro, uma troca de tiros entre dois PMs e um suspeito em Vila Valqueire, em 2023, ficou sem registro. O procedimento de abordagem ao suspeito não estava sendo gravado. A câmera só foi restabelecida durante o percurso da viatura até o hospital para onde o suspeito foi levado após os tiros.
Os boletins não informam se houve definição de punição aos policiais.
Há casos ainda de agentes que posicionam a câmera de maneira inadequada, filmando paredes e tetos de imóveis, ou que não acionam o modo ocorrência botão que permite que a gravação fique armazenada por mais tempo.
A primeira denúncia da promotoria militar do Ministério Público do Rio com o registro de câmeras como prova foi da suposta tortura de um sargento da PM contra um suspeito. Ele teria dado um soco no peito do suspeito e torcida o braço de maneira extrema. A vítima era suspeita de roubo. O caso aconteceu em Campos dos Goytacazes, no norte fluminense.
A denúncia aponta que o policial teria tentado esconder a câmera, mas o áudio foi captado.