SÃO CARLOS, SP (FOLHAPRESS) – Em uma charge de 1987, uma fêmea de chimpanzé dizia ter encontrado um fio de cabelo loiro em outro espécime e demonstrava certo ciúme da primatologista Jane Goodall. O desenho, assinado pelo cartunista americano Gary Larson, autor da popular série “The Far Side”, foi republicado por muitos jornais dos Estados Unidos.
Embora funcionários do instituto fundado pela primatologista britânica tenham protestado contra Larson, ela teria exclamado: “Enfim fiquei famosa de verdade!”. Mais tarde, a britânica assinaria a apresentação de uma das coletâneas do cartunista.
A situação inusitada nos anos 1980 é só um dos exemplos de como a figura de Goodall acabou se infiltrando na cultura pop e nas artes, em especial no mundo de língua inglesa. A primatologista britânica morreu aos 91 anos, na Califórnia, segundo comunicado feito nesta quarta-feira (1º) pelo instituto que carrega seu nome.
Outro caso marcante envolve Margaret Atwood, autora do romance “O Conto da Aia”, que deu origem à série de mesmo nome, e grande dama da ficção especulativa canadense.
Em sua trilogia pós-apocalíptica sobre um micróbio geneticamente modificado que quase extermina a humanidade, o livro “O Ano do Dilúvio”, lançado originalmente em 2009, apresenta a seita ambientalista dos Jardineiros de Deus, que misturam ensinamentos cristãos com a veneração a santos que defendiam a biodiversidade, entre eles a “santa Jane Goodall”.
Ao colocar a primatologista entre seus “santos” ficcionais, Atwood provavelmente está brincando com a imagem serena e maternal que Goodall adquiriu na velhice.
A cientista seria celebrada ainda no título da canção “Jane”, lançada em 1990 pela roqueira Stevie Nicks, ex-integrante da banda Fleetwood Mac, e em duas das mais famosas linhas de brinquedos do mundo.
Em 2022, em sua linha “Mulheres Inspiradoras”, a fabricante da Barbie criou uma boneca que representava Goodall, usando roupa de safári e carregando binóculos e caderno, além de ser acompanhada por um boneco representando o primeiro chimpanzé que se habituou com a presença dela, chamado David Greybeard (barba-cinzenta)
No mesmo ano, houve o lançamento de um kit Lego representando a britânica numa floresta, junto com três chimpanzés.
Também levando em conta o apelo da figura da cientista para o público infantil, “Jane Goodall: A Melhor Amiga dos Chimpanzés” é o título de um dos volumes da coleção Grandes Biografias para Crianças, lançada em 2022 pela Folha de S.Paulo.