SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – A Justiça da Bahia decretou a prisão preventiva do deputado estadual Kleber Cristian Escolano de Almeida (PRD), conhecido como Binho Galinha, réu sob acusação de liderar uma milícia na cidade de Feira de Santana (109 km de Salvador).
A prisão foi determinada no âmbito da “Operação Estado Anômico”, deflagrada na manhã desta quarta-feira (1º) em Salvador, Feira de Santana e São Gonçalo dos Campos para cumprir dez mandados de prisão.
Foram presos quatro policiais militares, além da esposa e do filho do deputado. Binho Galinha não foi encontrado pela polícia e é considerado foragido.
O deputado ainda não se manifestou sobre a operação desta quarta-feira. No ano passado, afirmou que “jamais praticou os crimes que lhe estão sendo atribuídos e que vai provar sua inocência na Justiça”.
A presidente da Assembleia Legislativa da Bahia, deputada Ivana Bastos (PSD), informou que, assim que a Casa for oficialmente notificada, o Conselho de Ética será acionado para analisar o caso “com transparência, imparcialidade e respeito ao Estado de Direito.”
Binho Galinha é réu pelos crimes de lavagem de dinheiro do jogo do bicho, agiotagem e receptação qualificada. As investigações apontaram que o deputado lavava dinheiro por meio de empresas e vendia peças de carro roubadas em uma loja de sua propriedade. Apenas em 2023, foram identificadas transações suspeitas que chegavam a R$ 3,9 milhões.
Mesmo sob medidas cautelares, diz o Ministério Público, o deputado teria mantido a liderança do grupo, utilizando empresas de fachada e “laranjas” para movimentar recursos.
“Há novos elementos que confirmam a continuidade das atividades ilícitas cometidas pelos investigados”, afirmou o delegado da Polícia Federal, Geraldo Almeida, responsável pelo caso.
As novas investigações identificaram elos dos suspeitos com os crimes de venda ilegal de armas de fogo e associação ao tráfico de drogas. A Justiça determinou o bloqueio de R$ 9 milhões em bens dos investigados e a suspensão das atividades de uma empresa.
A operação é uma ação conjunta do Ministério Público do Estado da Bahia, Polícia Federal, Secretaria de Segurança Pública, através da Força Correcional Integrada (Force) e da Corregedoria da Polícia Militar.
A “Estado Anômico” um é desdobramento da operação “El Patron”, pela qual o deputado se tornou réu em 2023. A operação chegou a ser anulada pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça), mas a decisão foi revertida pelo STF (Supremo Tribunal Federal), que considerou as provas válidas.
A primeira operação contra o deputado foi deflagrada em 7 de dezembro de 2023, quando 15 pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público. Na época, dez pessoas foram presas preventivamente.
Um relatório da Polícia Federal afirmou, na ocasião, que a suposta milícia liderada pelo deputado estadual teria tentáculos em vários setores do poder público na Bahia.
O processo contra Binho Galinha passou pelas mãos de ao menos quatro juízes da Comarca de Feira de Santana. Os dois primeiros declararam suspeição por foro íntimo, a terceira foi transferida de comarca por critério de merecimento e o caso foi assumido por uma nova magistrada em junho.
A Assembleia Legislativa da Bahia foi informada formalmente das denúncias contra o deputado em ao menos duas oportunidades, mas nenhuma medida foi adotada em âmbito político.
Sob pressão, os deputados levaram quatro meses para instalar e nomear os membros do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, que estava inativo. Desde então, o colegiado não instaurou qualquer processo disciplinar contra o deputado acusado de elo com a milícia.
Em 2024, o então presidente da Assembleia Legislativa, deputado estadual Adolfo Menezes (PSD), disse que os membros do conselho se sentem reféns e evitam o processo pela gravidade das denúncias.
“Os deputados dizem: Se três juízes não quiseram pegar o caso, como é que a gente vai se envolver num negócio desse, andando pelo interior? Daqui a pouco estão matando. Como vai ficar? [Estão com] medo de agir. Eu não tiro a razão deles. O cara vai ser herói?”, questionou.
No ano passado, Binho Galinha teve participação crucial nas eleições, quando apoiou o deputado federal Zé Neto (PT) em Feira de Santana e participou de atos com a presença do governador Jerônimo Rodrigues (PT). Em 20 de setembro, quando já era réu, gravou um vídeo pedindo votos para um aliado na cidade de Milagres ao lado do governador.