SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar reverteu as perdas da manhã desta quarta-feira (1º) e agora apresenta leve alta, com o mercado repercutindo a paralisação parcial do governo dos Estados Unidos.
Novos dados sobre o mercado de trabalho norte-americano também norteiam as negociações.
Às 11h23, a moeda recuava 0,1%, cotada a R$ 5,316. Já a Bolsa tinha variação negativa de 0,08%, a 146.113 pontos.
O financiamento para agências federais dos Estados Unidos expirou na virada para quarta-feira, depois que o Senado rejeitou um projeto de lei de gastos temporários que teria mantido as operações até 21 de novembro.
Os democratas se opuseram à legislação devido à recusa dos republicanos em anexar uma prorrogação dos benefícios de saúde que irão expirar no final do ano para milhões de norte-americanos. Os republicanos dizem que essa questão deve ser tratada separadamente.
Não há um caminho claro para sair do impasse. Essa é a 15ª paralisação (ou “shutdown”, em inglês) do governo desde 1981, e não se sabe quanto tempo ela poderá durar.
Para analistas independentes, a duração poderá ser maior do que a de paralisações passadas que também foram motivadas pelo orçamento, à medida que o presidente Donald Trump e autoridades da Casa Branca ameaçam punir democratas com cortes nos programas do governo e na folha de pagamento federal.
Ao menos na frente orçamentária, o que está em jogo é um montante de US$ 1,7 trilhão para operações de agências federais um quarto do orçamento total de US$ 7 trilhões do governo.
A princípio, os efeitos da falta de verba se dará na interrupção de atividades das agências. O relatório de emprego payroll esperado para sexta-feira, por exemplo, poderá não ser publicado, tampouco os pedidos semanais de auxílio-desemprego de quinta-feira. Viagens aéreas serão atrasadas, pesquisas científicas, suspensas, e até 750 mil funcionários federais poderão ser dispensados, custando US$ 400 milhões ao governo.
O problema principal para o mercado está na paralisação das agências estatísticas. Dados, sobretudo os de emprego e de inflação, servem como um termômetro da saúde econômica dos Estados Unidos, norteando as decisões de juros do Fed e, por consequência, as de investimento dos operadores.
O momento é especialmente sensível diante da cautela do Fed quanto ao ciclo de corte de juros, iniciado na reunião de setembro e cuja continuidade depende da evolução dos dados econômicos. A paralisação, segundo analistas, pode afetar tanto a qualidade quanto a pontualidade dos relatórios, diminuindo a visibilidade sobre a economia e, portanto, aumentando a incerteza na tomada de decisões.
“Para os investidores, a não publicação do payroll em momento em que o Fed está em processo de corte de juros é preocupante”, diz o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior, em comentário enviado a clientes.
Nesse sentido, o relatório de emprego ADP, publicado nesta quarta, é um dos poucos termômetros disponíveis para o mercado. “Teremos que nos contentar com ele, um relatório que não tem sido bem correlacionado com o dado oficial e que não mostra a taxa de desemprego”, diz Faria Júnior.
Os números mostraram que o setor privado dos Estados Unidos fechou 32 mil postos de trabalho no mês passado, após um declínio de 3 mil em agosto. Economistas consultados pela Reuters previam abertura de 50 mil postos.
A surpresa negativa está levando o mercado a apostar que o Fed irá cortar os juros nas reuniões de outubro e dezembro, pressionando para baixo o dólar e os rendimentos dos treasuries, os títulos ligados ao Tesouro norte-americano. A cautela sobre as próximas divulgações, porém, está levando à fuga de ativos de risco, como o real e outras moedas de mercados emergentes.
“Se o shutdown perdurar por muito tempo (o último, por exemplo, durou 35 dias), podemos ver o Fed mais cauteloso, pois ele não teria nem os dados do payroll nem os dados de inflação do CPI, sendo obrigado a tomar a decisão de juros apenas com dados alternativos. Mas, dada a predileção do Fed em relação ao mandato de emprego, mesmo nesse cenário de shutdown prolongado, o corte em outubro se torna mais provável após o dado da ADP”, afirma André Valério, economista sênior do Inter.