RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – Rodrigo Koxa fez carreira deslizando sobre ondas gigantes e alcançou grandes marcas, mas o vai e vem do mar e o passar do tempo não foram capazes de apagar um capítulo incômodo para ele nesta história. Aos 45 anos, resolveu, então, sentar em frente a uma câmera e desabafar sobre o que considera falta de transparência na medição das ondas e que fez ele perder o recorde de maior onda já surfada na história, conquistado em 2018.
“Eu me cobrava há muito tempo de falar o que está acontecendo. Foi uma terapia pra mim. Eu estou orgulhoso de mim, de verdade.”
Koxa produziu um minidocumentário sobre o tema, divulgado no último mês. Ele era o dono da marca com a onda de 24,38 metros surfada em 2017 em Nazaré, Portugal que lhe rendeu o título do Big Wave Awards, o Oscar de ondas grandes, e o registro no Guiness Book, o Livro dos Recordes.
“O XXL Big Wave Awards de 2018 teve uma final bizarra, finalistas que tinham surfado ondas enormes. As medições que tínhamos feito anteriormente apontavam para muito mais de 80 pés. Então, tinha potencial, mas ficava essa expectativa por causa também das outras ondas daquele ano. Até então, o recorde era do Garrett McNamara, com 78 pés [onda surfada em 2011]. Quando eu venci, com 80 pés, foi um êxtase, vibrei muito. Eu chorei, era uma vida fazendo sentido. Mas quando baixou um pouco aquela euforia, comecei a questionar: ‘quero ver a medição'”, conta.
“Não se mostrava a medição nem entre as ondas finalistas. Até então, eu não via muita reclamação no meio e sempre fluiu dessa forma. Eu passei a entender melhor quando foi comigo. Já na época eu pensei que era muito esquisito não tornarem pública. Comecei a pedir, mandar e-mail, e questionava comigo mesmo: ‘Se hoje eles disserem que teve uma onda de 82 pés, como vão fazer? Vão comparar? Vão dar o recorde? Quais os critérios?'”
A divulgação do vídeo de Koxa aconteceu em um momento de mudanças nos bastidores. O XXL Big Wave Awards voltou a ser gerenciado pelo criador Bill Sharp após estar, desde 2020, sob comando da World Surf League (WSL).
Em 2022, o alemão Sebastian Steudtner teve homologado o recorde após uma onda de 26,21 metros que pegou em 2020, na mesma Nazaré.
“Eles mudaram a banca julgadora e eu voltei a entrar em contato, agora com a WSL. Mandei e-mail, questionei. Tenho tudo registrado. Eu queria ver a medição. Depois de um tempo, falaram apenas que foi seis pés a mais que a minha e usaram a perna como referência. Perguntei: ‘então, mudaram o método? Podem usar essa medição na minha onda?’ Viram que falaram besteira e só responderam que não poderiam compartilhar”.
Koxa conta que ficou insatisfeito com a ausência de dados apresentados. “Fiquei triste, mas me calei porque não queria ficar em uma situação de mau perdedor. Mas longe disso, Acho que os recordes estão aí para serem quebrados, só quero saber se, de fato, eu perdi mesmo”.
Ele ressalta que as marcas podem transformar a vida dos que estão inseridos na modalidade. “Isso muda tudo para um atleta. E não apenas dele. Com ele, vem equipe, o cara que faz a prancha, patrocinadores… Isso traz um objetivo e aí vem um negócio em que não se tem clareza”.
O surfista espera que, de alguma forma, possa dar uma “sacudida” no atual cenário. “Estou fazendo isso pelo esporte. Quero que esse meu vídeo aí sirva para dar essa sacudida nessa galera que organiza os eventos, nos juízes, nas bancas julgadoras. Se o cara conquistou uma coisa, esse é o legado da vida dele. Não estou criticando atleta algum, pelo contrário. Todos têm sua notoriedade”.
“O meu ponto é que com quem tem essa responsabilidade de medir as ondas e de dar um recorde. E me incomoda demais ver medições sensacionalistas, querendo bater recorde que não é batido. Isso é pelo amor que eu tenho pelo esporte. Quero passar essa mensagem sobre a importância que isso tem para o esporte.”
No último dia 13, uma semana após a divulgação do vídeo de Koxa, a WSL anunciou a transferência da função de verificadora oficial dos recordes mundiais de ondas grandes de volta ao Guinness, que, segundo nota, “nomeará um novo parceiro de verificação”. Ainda de acordo com o comunicado, “a mudança reflete o foco estratégico da WSL em eventos ao vivo, principalmente o Nazaré Tow Surfing Challenge para surfe de ondas grandes”
“Estamos honrados por termos feito parte desses recordes mundiais históricos e por celebrar esses surfistas extraordinários e momentos inovadores. Essa decisão nos permite focar em nossas competições, enquanto continuamos a celebrar as conquistas monumentais que acontecem no surfe. Somos gratos ao Guinness World Records pela parceria de confiança e apoio nesta transição”, disse Graham Stapelberg, presidente de Circuitos e Competições da WSL.
BRASIL DOMINANTE
Em evento em setembro, o Brasil saiu como um dos grandes protagonistas do Big Wave Challenge. Em Newport Beach, Califórnia, quatro representantes do país subiram ao palco para receber alguns dos prêmios mais importantes da temporada 2024/25.
Lucas Chianca, o Chumbo, recebeu o prêmio de “Surfista do Ano”, enquanto Michaela Fregonese levou “Onda do Ano” e “Maior Onda” do feminino. Campeão mundial de skimboard, Lucas Fink foi premiado na categoria “Prancha Alternativa” e o fotógrafo Fred Pompermayer conquistou o prêmio de “Foto do Ano”.
“O Brasil é incrível. Eu não sei como conseguimos essa proeza, cara! (risos) porque não temos muito essa cultura de onda gigante aqui, até porque não temos tanta onda gigante por aqui. Mas o surfista brasileiro é tão apaixonado… Quando era no Havaí, a galera estava no Havaí, quando é em Nazaré, a galera monta a comunidade brasileira em Nazaré. O brasileiro tem essa coisa diferente. O que mais tem em Nazaré nesta quarta-feira (1º) é brasileiro e isso faz com que estejamos plantando uma semente e cavando”, disse.
“nesta quarta-feira (1º), para mim, o melhor surfista de ondas gigantes do mundo é brasileiro: o Lucas Chumbo. Ele é um fenômeno. O talento desse moleque… No feminino, a Maya viveu momentos épicos. Tem a Michaela, outra destemida, casca grossa, a Andrea Moller, a Laura Crane”, completou.