SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Brasil, Alemanha, Áustria… O lateral-esquerdo brasileiro Paulo Otávio jogou em todos estes países, mas foi no Qatar, palco da última Copa do Mundo, onde encontrou situações únicas e que o surpreendem mesmo atuando há três temporadas no Al-Sadd, um dos mais tradicionais clubes do país.

POUCOS JOGOS E ESTÁDIOS CLIMATIZADOS

Na temporada mais extensa pelo Al-Sadd, Paulo Otávio jogou 35 partidas. O número é praticamente a metade dos duelos que equipes brasileiras disputam ao longo de um ano.

O baixo número de jogos tem uma explicação. A liga do Qatar tem apenas 12 times, que jogam em turno e returno, totalizando 22 partidas. O Al-Sadd ainda joga um pouco mais porque tem presença frequente na Liga dos Campeões da Ásia. Nem sempre a “escassez” de partidas tem bons olhos.

“Se você não está na Champions League, já não tem mais jogos, são só 22 partidas no ano e acaba. Se o cara machuca, tem tempo pelo menos para voltar. Ao mesmo tempo, você fala assim: ‘Eu joguei o ano inteiro, mas foram só 22 jogos’. Daria [para ser melhor]. Se a liga tivesse mais equipes, conseguiríamos trazer mais jogadores, ser mais atrativos para o mercado internacional, assim como está sendo Arábia Saudita”, disse Paulo Otávio, ao UOL.

A intensidade do jogo também é diferente. Com o calor, os clubes treinam quase sempre na parte da noite e em ritmo mais lento.

Sistemas de ar-condicionado foram colocados nos estádios como uma tentativa de amenizar o calor nas partidas. Os clubes, no entanto, treinam sem toda essa estrutura.

“A intensidade do treino é menor e tem aquela velha máxima do Brasil: você joga como você treina. Então se você não consegue ser intenso no treino, você não vai conseguir ser intenso no jogo. Pode ser que você consiga 15 ou 20 minutos, mas o jogo tem 90 minutos, às vezes 100”, disse Paulo Otávio.

Paulo Otávio faz parte de uma “legião brasileira” no Al-Sadd. Além dele, o clube conta com Roberto Firmino, Claudinho e Giovani (ex-Palmeiras). O círculo de amizades não fica reduzido apenas aos colegas de clube, mas também se expande aos brasileiros de equipes rivais.

REGRAS PARA TOMAR BANHO

O jogador que deseja tomar banho ou se trocar após jogos e treinos no Qatar não pode ficar 100% pelado por conta da cultura local. Paulo Otávio recebeu a orientação assim que chegou ao Al-Sadd. A única saída é fazer isso em cabines privativas que estão disponíveis em alguns vestiários.

Paulo Otávio evitou que um ex-companheiro causasse problemas. O colombiano Matheus Uribe se preparava para tomar um banho após um jogo de pré-temporada. Ele foi surpreendido com a reação dos companheiros de Al-Sadd, e Paulo Otávio foi quem o explicou.

“Se você vai tomar um banho, tem que estar com pelo menos a cueca, não pode ficar sem roupa perto deles. Na Europa e no Brasil, isso é normal [tomar banho nu ao lado dos colegas de time]. Eu lembro do Matheus [Uribe]. Fui no banheiro para fazer alguma coisa e quando voltei, levantei a cabeça, e o Matheus estava tirando a roupa para tomar banho. Eu gritei, todo mundo gritou porque não podia. Ele não falava muito bem inglês, então ele ficava repetindo: “desculpa”. Expliquei o motivo para ele”, disse Paulo Otávio.

CARREIRA NO BRASIL E NATURALIZAÇÃO

Paulo Otávio teve carreira discreta no Brasil. O lateral surgiu no Athletico e passou por Coritiba, Santo André, Paysandu e Tombense antes de ir para a Europa. Longe do futebol local desde 2016, ele alimenta o sonho de uma volta para a reta final da carreira, mas não sonha mais com uma chance na seleção.

“Tenho esse sonho de voltar ao Brasil pelo fato de ter saído muito novo. Fui embora com 21 anos. Quando estou no Brasil, sempre vou ao estádio, vejo vídeos, acompanho jogos. Não todos os jogos, mas acompanho alguns. Fico vendo as torcidas e tenho vontade de jogar ali para poder dar alegria para aquele torcedor. Seleção são ciclos e acho que o meu ciclo seria esse agora porque depois já vou estar com 34 anos na Copa de 2030, já vai ser uma outra geração”, disse Paulo Otávio.

O lateral brasileiro passou pelo LASK Linz, da Áustria, mas viveu seu auge na Alemanha. Foram duas temporadas no Ingolstadt até a chegada ao Wolfsburg, clube que defendeu entre 2019 e 2023.

Paulo Otávio ficou em vias de se naturalizar alemão. Mas todo o processo foi deixado de lado quando surgiu a oportunidade de jogar no Al-Sadd, no meio de 2023. Aos 30 anos, ele precisa concluir mais duas temporadas no país para buscar uma naturalização e não descarta a possibilidade, ainda que esteja bem mais velho no próximo ciclo.

“Não descarto. Representar uma nação é sempre especial, independentemente se seja a nação em que você nasceu e foi criado ou seja a nação que te acolheu. Isso é especial para qualquer um”, disse Paulo Otávio.