SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A adega onde foram apreendidas 14 garrafas de gim com suspeita de estarem intoxicadas com metanol segue em pleno funcionamento, mas sem a venda de produtos da mesma marca dos que foram apreendidos pela Polícia Civil nesta terça-feira (30).
Empório Santos continuava aberto ao público nesta terça-feira (30) à noite. A reportagem do UOL esteve no estabelecimento, na avenida João Goulart, na Cidade Dutra, zona sul da capital, e presenciou a entrada e saída de clientes. Mas não constatou a venda de bebidas alcoólicas destiladas ou pessoas consumindo produtos no local.
Gim da marca com suspeita de adulteração não estava à venda. O UOL presenciou a oferta de diversos outros produtos, como gim de outras marcas, uísques, vinhos e cachaças, menos o destilado de marca apreendida pela Polícia Civil para perícia nesta terça-feira (30), que costuma custar entre R$ 100 e R$ 130.
Movimento é tranquilo na adega e no entorno. O proprietário do estabelecimento e dois funcionários trabalham no local. Enquanto a reportagem esteve ali, apenas uma pessoa comprou bebida alcoólica: uma mulher saiu tomando uma cerveja long neck.
“Não temos nenhum envolvimento com bebidas adulteradas”. Em comunicado nas redes sociais, o estabelecimento deseja uma rápida recuperação ás vítimas de intoxicação por metanol e afirma esperar “que tudo seja esclarecido o mais rápido possível”.
Três estabelecimentos foram interditados nesta quarta-feira (01) em São Paulo e região metropolitana. Um bar na Alameda Lorena, nos Jardins, um na Mooca, zona leste, e outro em São Bernardo do Campo. Todos eles tiveram bebidas com suspeita de adulteração apreendidas pela Vigilância Sanitária municipal.
O UOL entrou em contato com a Secretaria Estadual de Saúde para saber por que a adega segue em funcionamento. Havendo manifestação, esta reportagem será atualizada.
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BAR FECHADO NA ZONA LESTE
O bar e restaurante Torres, nas proximidades do Parque da Mooca, foi temporariamente fechado. A reportagem esteve no etabelecimento nesta terça-feira (30) à tarde e confirmou que ele não abriria mais, por ora.
“Eles fecharam por causa desse negócio das bebidas aí”. Uma moradora vizinha ao estabelecimento disse que o local foi fechado mais cedo pelas suspeitas de intoxicação nas bebidas e que circulava a informação de que outros bares das redondezas também estariam com o mesmo problema.
O bar, apesar de fechado, estava com movimentação. Funcionários organizavam-se para ir embora e uma mulher aparentava chorar nas escadas que dão acesso a uma parte do comércio.
Donos do Torres disseram colaborar com as investigações. Eles negaram irregularidades na aquisição de bebidas.
MAIS DE 20 CASOS ESTÃO SOB INVESTIGAÇÃO NO ESTADO DE SÃO PAULO
Governo de SP anunciou nesta terça-feira (30) que registrou 22 casos de intoxicação por metanol. Sete foram confirmados e 15 estão em investigação.
Do total, cinco casos resultaram em morte. A informação é da Secretaria Estadual de Saúde.
Das cinco mortes, está confirmado que uma tem relação com a ingestão de bebidas alcoólicas. A relação das outras quatro com o consumo de álcool está sendo investigada. O protocolo de investigação prevê coleta de sangue ou urina, análise laboratorial e, depois, investigação sobre as condições da ingestão.
Houve divergência nos números, ainda não esclarecida. Na segunda-feira, o Centro de Vigilância Sanitária de São Paulo havia confirmado dois óbitos e o governo federal mais uma, totalizando três. As vítimas, com mortes por intoxicação confirmadas foram três homens: de 38, 45 e 48 anos.
Governo busca detectar a origem da bebida adulterada. O governador afirmou que a Polícia Civil e a Secretaria da Fazenda vão analisar as notas fiscais dos estabelecimentos e cruzar as informações para chegar aos distribuidores.
“Vamos buscar descobrir quem comprou de quem, de onde está saindo essa bebida adulterada, quem são os fraudadores, a partir desse cruzamento de informações, saber se o problema está no distribuidor, no estabelecimento que está comprando o material sem a procedência correta, ou em outro elo da cadeia”, disse Tarcísio de Freitas.
REAÇÃO AO METANOL
Corpo reage à transformação do metanol em ácido fórmico no organismo. A substância é altamente tóxica, pois provoca acidez no sangue e prejudica o funcionamento das células.
Efeitos da intoxicação dependem de fatores como peso e capacidade metabólica. Quem tem menos peso tende a metabolizar mais rápido e sentir os sintomas mais graves antes.
Não há quantidade definida que faça mais ou menos mal. Segundo a pesquisadora, qualquer quantidade é nociva e capaz de desencadear sintomas graves.
Existem diferenças de intoxicação para ressaca comum. No caso da ressaca, há dor de cabeça e náusea. Na intoxicação, o paciente sente uma dor aguda abdominal, além da visão borrada.
Tem como identificar o metanol na bebida? Não. Geralmente a substância não apresenta diferença de sabor ou cor.
Gosto fica diferente com metanol? Também não. A substância é muito semelhante ao etanol usado em bebidas alcoólicas. Só se descobre que é metanol pelos sintomas e após exames clínicos.
Metanol é encontrado em produtos industriais. Geralmente, está presente em solventes, combustíveis e plásticos. O líquido é incolor, tem um cheiro suave e é inflamável.
COMO SE PRECAVER?
Evitar consumo de bebidas de procedência duvidosa. Além disso, as bebidas consumidas precisam ser regularizadas. Aconselha-se, também, evitar o consumo.
“As pessoas precisam estar informadas”. A especialista consultada pelo UOL diz que é essencial os órgãos de controle manterem a sociedade informada sobre os casos de intoxicação e sobre apreensões de bebidas irregulares, para que evitar novas vítimas.
“Essa intoxicação é recente não era algo que se ouvia falar com muita frequência. A questão das bebidas a gente precisa acompanhar, e as pessoas precisam estar informadas”, disse Mariana de Moura Pereira.
Donos de bares devem recusar bebidas sem rótulo. É importante desconfiar de produtos fora do padrão, afirmou Gabriel Pinheiro, diretor da AbraselSP (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de São Paulo), em entrevista ao UOL News.
Comprar em fornecedores homologados, desconfiar de promoções absurdas, verificar o rótulo, pois a grande parte das bebidas são bebidas de grandes empresas. Um lacre diferente, um rótulo diferente, é para desconfiar e devolver o produto. Incentivar o correto descarte das embalagens das garrafas.Gabriel Pinheiro, diretor da AbraselSP (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de São Paulo)
Procon de São Paulo orienta procurar o Disque-intoxicação. O número 0800 722 6001 dá orientação clinica ou toxicológica.
ORIENTAÇÕES BÁSICAS
Procure estabelecimentos conhecidos ou dos quais tenha referência.
Desconfie de preços muito baixos. no mínimo podem indicar alguma falha como sonegação e adulteração;
Observe a apresentação das embalagens e o aspecto do produto. Desconfie de lacre ou tampa tortos ou “diferentes”, rótulo desalinhado ou desgastado, erros de ortografia ou logos com “variações”, ausência de informações como CNPJ, endereço do fabricante ou distribuidor, número do lote, e outra imperfeição perceptível.
Ao notar alguma diferença, não faça testes caseiros. Cheirar, provar ou tentar queimar a bebida são consideradas práticas inseguras e inconclusivas.
Fique atento a sintomas pós-consumo. Visão turva, dor de cabeça intensa, náusea, tontura ou rebaixamento do nível de consciência, podem indicar intoxicação por metanol ou por bebida adulterada.
Busque atendimento médico imediato. Se houver qualquer sintoma suspeito, o consumidor deve procurar urgência médica sem demora.
Comunique as autoridades competentes. Disque-Intoxicação (0800 722 6001, da Anvisa) para orientação clínica/tóxica; Vigilância Sanitária local (municipal ou estadual); Polícia Civil; Procon (órgão de defesa do consumidor).
Exija sempre a nota fiscal ou comprovação de origem. O documento precisa ter todas as informações de identificação do fornecedor e da compra, isso ajuda na rastreabilidade do produto e é uma garantia para o consumidor em eventual reclamação.