Uma virada nos números chamou atenção nas últimas pesquisas do Ipespe: pela primeira vez, a aprovação do presidente Lula (PT) alcançou 50%, superando a desaprovação, que caiu para 48%. Ao mesmo tempo, a percepção da população sobre a economia também melhorou, com o otimismo avançando para 40% e a visão negativa recuando para 54%.

Os dados indicam uma ligação direta entre a imagem do governo e a avaliação dos rumos econômicos. No entanto, segundo a economista Greice Fernandes, essa melhora não tem raízes sólidas. Para ela, o que está em curso é um cenário de estímulos temporários, puxado por programas sociais e conjunturas externas.

“De fato, há dinheiro circulando, mas isso não significa crescimento sustentável. O aumento do consumo tende a pressionar a inflação e mantém a taxa de juros em patamar elevado, hoje em 15%”, avaliou a especialista.

A economista também citou fatores externos, como a recente medida de Donald Trump sobre exportações brasileiras, que acabou fortalecendo politicamente o presidente. “O tarifaço de Trump transformou Lula em defensor da soberania nacional. Isso impulsionou sua popularidade nos últimos dias”, disse.

Apesar do ganho de aprovação, Fernandes alerta para problemas estruturais: inflação ainda acima da meta, juros altos que travam o crédito, crescimento marcado pela informalidade e endividamento das famílias. “Não é um crescimento de base sólida. Temos risco de uma bolha, com consumo inflado, mas sem geração efetiva de empregos e renda”, destacou.

Outro ponto de preocupação é o déficit fiscal, que segue em expansão. “O governo aumentou gastos sem reduzir despesas em outras áreas. Isso pressiona a inflação, os tributos e a taxa de juros, prejudicando o setor produtivo e corroendo o poder de compra da população”, completou.

Para a especialista, o momento é de otimismo cauteloso. “Os números melhoraram, mas o crescimento ainda não se apoia em pilares consistentes. É uma economia sustentada por estímulos, mas sem garantias de continuidade”, concluiu.