SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar cede ante a maior parte das divisas globais nesta manhã de quarta-feira (1º), o que também pressiona as cotações no Brasil, com o mercado à espera da divulgação de novos dados da economia norte-americana e dos desdobramentos da paralisação parcial do governo dos Estados Unidos.

Às 9h05, o dólar à vista tinha leve baixa de 0,28%, aos R$ 5,308 na venda.

Na terça, o dólar fechou em variação positiva de 0,02%, a R$ 5,321, e a Bolsa teve leve queda de 0,06%, a 146.237 pontos.

O mercado foi pautado pela paralisação de parte do governo dos Estados Unidos na ponta internacional e, na doméstica, pela definição da taxa Ptax de fim de mês.

O financiamento para agências federais dos Estados Unidos expirou na virada para quarta-feira e, até o fechamento de terça, parecia improvável que republicanos e democratas do Congresso iriam chegar a um acordo para prorrogá-lo após o prazo.

Agências federais divulgaram planos detalhados que fechariam escritórios que realizam pesquisas científicas, atendimento ao cliente e outras atividades não consideradas “essenciais” e mandariam milhares de trabalhadores para casa se o Congresso não chegasse a um acordo.

“O problema para o mercado financeiro em particular é que as agências estatísticas do governo americano vão ficar sem financiamento e vão paralisar praticamente todas as suas atividades”, diz Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX. O Departamento do Trabalho, por exemplo, disse que não divulgará seu relatório mensal de emprego, um termômetro da saúde econômica dos EUA.

O momento é especialmente sensível diante da cautela dos operadores em relação aos próximos movimentos do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano), cujas decisões sobre a taxa de juros são pautadas por dados econômicos de emprego e inflação. A paralisação, segundo Mattos, pode afetar tanto a qualidade quanto a pontualidade dos relatórios, diminuindo a visibilidade do mercado sobre a evolução da economia e, portanto, aumentando a incerteza na tomada de decisões.

A semana reserva a divulgação do payroll, principal indicador sobre o estado do mercado de trabalho para o Fed. A próxima guarda o relatório de inflação CPI e dados de vendas no varejo, “que já começam a correr riscos de um atraso mais significativo”.

“Nós ainda não sabemos se a economia norte-americana está passando por um enfraquecimento pontual, se vai se manter em uma trajetória de resiliência ou se é o começo de uma desaceleração consistente. Precisamos de dados para fazer essa avaliação, e a paralisação pode ameaçar a leitura.”

Diante desse cenário, o dólar enfrentou perdas globais pela segunda sessão consecutiva. O índice DXY, que mede o desempenho da moeda em relação a outras seis divisas fortes, caiu 0,13%, a 97,78 pontos. O ouro, ao mesmo tempo, voltou a bater recordes de preço na terça, tendo chegado ao valor de US$ 3.870 por onça-troy durante a madrugada.

No Brasil, porém, a cotação do dólar foi influenciada pela formação da Ptax de fim de mês, que tradicionalmente traz mais volatilidade às cotações.

Calculada pelo Banco Central com base nas cotações do mercado à vista, a Ptax serve de referência para a liquidação de contratos futuros. No fim de cada mês, agentes financeiros tentam direcioná-la a níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas (no sentido de alta das cotações) ou vendidas em dólar (no sentido de baixa).

Na frente macroeconômica, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que a taxa de desemprego do Brasil ficou em 5,6% no trimestre até agosto, repetindo a mínima da série histórica iniciada em 2012.

O mesmo patamar já havia sido alcançado nos três meses encerrados em julho de 2025. O novo resultado veio em linha com a mediana das projeções do mercado financeiro, que também era de 5,6%, conforme a agência Bloomberg.

Segundo o IBGE, o mercado de trabalho ainda mostra força no país, mas é possível que esteja em um período de acomodação. Isso ocorre em meio aos juros altos e antes das festas de final de ano, que costumam estimular as contratações.

Na véspera, o Ministério do Trabalho e Emprego informou que o Brasil gerou 147 mil vagas de trabalho formal em agosto, de acordo com dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). O número representa uma queda na comparação com o mesmo mês do ano passado, quando houve 239 mil postos criados.

O resultado em agosto é fruto de 2,2 milhões de contratações e de 2 milhões de desligamentos. O número veio abaixo da expectativa de economistas consultados pela Bloomberg, que previam criação de quase 182 mil vagas.

“Os dados da Pnad e do Caged sugerem manutenção da robustez do mercado de trabalho. No entanto, o Caged aponta para uma perda de dinamismo no ritmo de contratações, sem maiores pressões nas demissões, enquanto a Pnad indica estabilidade na taxa de desocupação”, comenta André Valério, economista sênior do Inter.

“Apesar de ser apenas um dado no tempo, fica a expectativa se o resultado de hoje é um ponto de inflexão na dinâmica do mercado de trabalho, indicando perda de dinamismo nos próximos meses à medida que o aperto monetário é sentido na atividade real. Nós esperamos ser o caso, com a taxa de desemprego avançando até 5,8% ao fim do ano e continuando sua deterioração ao longo de 2026, quando esperamos que atinja 6,5%.”