MOSCOU, RÚSSIA (FOLHAPRESS) – A incursão de drones russos no espaço aéreo da Polônia teve como origem uma mesma base militar e os aparelhos voaram diretamente rumo ao país da Otan. Segundo a Folha de S.Paulo ouviu de pessoas com conhecimento da operação na Rússia, ela foi deliberada.

O relato contraria a versão do Kremlin para o episódio ocorrido na noite de 9 para 10 de setembro que estremeceu ainda mais as relações da Rússia com o Ocidente, já esgarçadas por mais de três anos e meio de guerra na Ucrânia.

Também lidando com aparições de drones, esses menores e de origem desconhecida até aqui, a premiê dinamarquesa, Mette Frederiksen disse nesta quarta-feira (1º) que a Europa está “na situação mais difícil” desde a Segunda Guerra Mundial e que seus países têm de se unir para enfrentar Moscou.

No caso polonês, o governo russo disse que os aparelhos se perderam durante um mega-ataque ao oeste ucraniano, junto à fronteira polonesa. Segundo as pessoas consultadas, contudo, os 21 drones que acabaram caindo ou sendo derrubados foram lançados da base da Charatov, em Smolensk (sul russo).

De lá, seguiram sobrevoando a fronteira entre Ucrânia e Belarus. Eles eram todos modelos Gérbera, uma versão simplificada do drone de ataque Gerânio-2, por sua vez inspirado no desenho iraniano do Shahed-136. Eles estavam desarmados.

Ajuda a sustentar o relato os resumos da operação feitos pelas forças da Ucrânia e da Polônia, vazados para canais de internet de ambos os países. As rotas designadas são as mesmas citadas à reportagem, com a exceção de um segundo caminho que teria sido usado por três aparelhos passando pelo centro de Belarus.

O tema é tratado na comunidade de inteligência russa como um segredo de polichinelo. A Polônia e vários países europeus acusaram Moscou pela ação, dizendo que ela visou testar a rapidez de resposta das defesas aéreas polonesas.

Se houve mobilização rápida, com caças F-16 do país e F-35 da Holanda em ação, ela serviu para provar que a Otan está despreparada para lidar com a nova ameaça dos drones. Foram usados em um número incerto de interceptações mísseis AIM-9X que chegam a custar US$ 500 mil contra aparelhos de US$ 8.500, sem uma taxa de sucesso absoluta.

Isso levou a Otan, que acusou a Rússia de ter sido irresponsável mas evitou falar em ação deliberada, a criar uma nova operação de reforço de suas fronteiras aéreas a leste, a Sentinela Oriental. Até aqui, contudo, ela só viu mobilizados recursos convencionais, como caças franceses e britânicos sendo enviados para a Polônia.

Drones que atacam em ondas sucessivas de centenas de aparelhos são um desafio diverso, que implica defesas eletromagnéticos, emprego de baterias de menor calibre e soluções de saturação, como explosivos que formem nuvens de fragmentos e atinjam vários robôs pequenos.

Isso para não falar nos drones de linha de frente, minúsculos aparelhos domésticos transformados em armas de matar e destruir equipamento, que mudaram a natureza do atrito na Guerra da Ucrânia.

Outros drones foram interceptados três dias depois da ação na Polônia, na Romênia, que já havia registrado várias quedas de aparelhos atacando o outro lado do rio Danúbio. Os episódios levaram a uma onda paranoica em relação a qualquer tipo de drone.

Na semana retrasada, os poloneses neutralizaram aparelhos voando sobre prédios do governo em Varsóvia, prendendo na ação três belarussos. Na semana passada, uma série de avistamentos de drones fechou aeroportos na Dinamarca e na Noruega.

Copenhague chegou ter o apoio de navios da Otan para monitorar a situação, e o governo disse que a ação foi coordenada e proposital, mas que não viu sinais diretos de envolvimento da Rússia, apesar da fala de Frederiksen.

Houve também um teste mais sério, também negado por Moscou, quando três caças MiG-31 invadiram o espaço aéreo da Estônia no dia 19 passado e circularam numa rota rumo à capital do país báltico, Tallinn. A interceptação neste caso demorou 12 minutos, o que daria tempo de sobra para um ataque à cidade.

O jornalista viajou a convite da Rosatom