MANAUS, AM (FOLHAPRESS) – Uma mulher indígena afirma que seus três filhos foram alvos de discriminação racial por uma professora na Escola Municipal Raimundo Teodoro Botinelly Assumpção, localizada na zona norte de Manaus (AM).
Hindra Yetunã, 35, afirma que prestou queixa tanto ao município quanto à polícia sobre o caso.
Segundo ela, a docente se referiu aos grafismos no corpo dos jovens como “coisa de galeroso”, termo pejorativo que significa “coisa de pivete, ladrão ou arruaceiro”, além de tê-los impedidos de entrar na escola, mesmo chegando no horário. A família é da etnia mura.
“As crianças me diziam que essa professora falava que aquilo [grafismo] era ‘coisa de galeroso’, que os meninos deveriam cortar os cabelos, que não podiam entrar na escola por causa dos cabelos compridos”, diz ela à Folha de S.Paulo.
“Meus filhos não cortam o cabelo como forma de proteger a nossa cultura, mas a professora chegou a dizer a um deles que seria expulso, o que o deixou assustado.”
Nesse dia ela grafitou o braço dos estudantes em vez da perna. “Fiz bem chamativo. Estava a caminho quando encontrei meus filhos voltando para casa. A professora não os deixou entrar por causa dos grafismos, então demos meia volta.”
Yetunã afirma que ficou 1h30 tentando falar com a professora, que é também responsável pela entrada dos alunos, mas não foi atendida. Na segunda-feira seguinte, ela voltou com outros caciques para falar com a diretora. “Não deixaram meus filhos entrar, novamente dizendo que estavam atrasados, mas estávamos lá desde as 6h, deixaram outros alunos entrar, mas não eles.”
Segundo a mãe, a diretora disse que as crianças estavam sendo motivo de chacota de outros alunos. “Porém eu nunca havia sido comunicada sobre isso.”
A Secretaria Municipal de Educação de Manaus disse que a denúncia de discriminação racial não procede e que os alunos chegaram após o horário limite de tolerância para entrada.
Diante da recorrência dos atrasos, diz a nota, a direção da escola solicitou o comparecimento dos responsáveis para dialogar sobre a situação. A pasta diz ainda que a professora citada na denúncia não teve, em nenhum momento, contato com os estudantes.
A secretaria afirma manter a atuação da Geei (Gerência de Educação Escolar Indígena), responsável por promover, valorizar e difundir os saberes tradicionais indígenas, em quatro unidades de ensino escolar indígena e em 23 espaços de estudo da língua materna e dos conhecimentos tradicionais indígenas, atendendo 1.251 estudantes da rede municipal.
Após o ocorrido, Yetunã, registrou um boletim de ocorrência no 6º DIP (Distrito Integrado de Polícia) da capital amazonense e afirma que os filhos não queriam voltar à escola. A filha mais velha, de 16 anos, não quis mais os grafismos.
“Não quero que eles percam a cultura. Inclusive, fizemos uma Marcha Indígena no último dia 20 em Manaus contra a discriminação racial, para mostrar que existimos na área urbana, que o nosso grafismo e o nosso cocar não são fantasias. A nossa cultura precisa ser respeitada”, afirma Yetunã.