SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou nesta terça-feira (30) que “não tem evidência nenhuma da participação do crime organizado nisso”, se referindo às especulações de que o PCC (Primeiro Comando da Capital) estaria envolvido na adulteração de bebidas alcoólicas com metanol. Ele diz que as pessoas envolvidas até o momento não têm relação com o crime organizado e nem relação entre si.
“Tudo o que acontece agora em São Paulo é PCC. Não tem evidência nenhuma de participação do crime organizado nisso”, afirmou Tarcísio durante entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista.
O motivo da contaminação de bebidas alcoólicas por metanol ainda está em investigação, afirma Tarcísio. Além disso, ele diz que o objetivo é chegar na origem da adulteração e que todos os estabelecimentos que estiverem indícios da presença de bebidas adulteradas serão interditados cautelarmente.
“Não podemos deixar ele [o estabelecimento] continuar comercializando bebida se temos uma suspeita de que está comercializando bebida fraudada. É uma forma também de checarmos toda a documentação e garantir a segurança da população.”
O delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Artur Dian, também evitou associar o caso ao crime organizado. “Outras vertentes serão investigadas, mas bem distantes da participação do PCC”, afirma. Segundo ele, não só nos casos atuais, mas nos últimos anos não há evidência da participação do crime organizado em nenhum dos inquéritos.
O delegado-geral afirmou que a operação realizada em Americana (SP) nesta terça-feira (30) resultou na prisão de dois suspeitos que estavam adulterando bebidas alcoólicas. Os casos foram direcionados para a divisão de crimes contra a saúde pública.
Tarcísio afirma que há cinco inquéritos abertos com operações da Polícia Civil, confirmando que só em setembro foram 43 mil fiscalizações no estado de SP, 50 mil garrafas apreendidas com suspeita de adulteração e 15 milhões de selos fraudados. Ele também afirma que sempre têm colaborado com a Polícia Federal.
Na avaliação de Tarcísio, a instrução normativa RFB 1.673/2016, publicada pela Receita Federal, fragilizou o controle sobre a área de bebidas do Brasil, com a retirada da obrigatoriedade dos selos. Segundo Tarcísio, o problema é não só em São Paulo, mas em todo o Brasil.
Durante a entrevista, o governador disse que foi formado um gabinete de crise voltado para a solução dos casos, além de criar canais específicos para denúncias de adulteração de bebidas, o Disk 181 e o canal de denúncia rápida disponível no portal do Procon-SP.
O secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, afirmou que não é possível divulgar a lista dos bares onde há a possibilidade de bebidas adulteradas para não haver interferência na investigação. No entanto, apesar de afirmar que a assessoria passaria a lista dos bares já em investigação, isso ainda não aconteceu.
Segundo o Secretário Estadual da Saúde, Eleuses Paiva, há no total 22 casos envolvendo intoxicação por metanol, sendo 7 confirmados e 15 em investigação. Desses, cinco pessoas morreram, sendo que até o momento em apenas um desses casos há confirmação de que a morte se deu após a ingestão de bebida adulterada.
Especialistas dizem que a contaminação de uma bebida alcoólica por metanol tende a acontecer em casos de falsificação do produto, uma vez que a substância tóxica pode estar presente em álcool adulterado ou mesmo ser adicionada para aumentar o teor alcoólico de forma mais barata. A contaminação pela substância não altera o sabor ou cheiro do produto, fazendo com que seja impossível detectá-la, apenas com análise em laboratório.
Ainda não se sabe qual é a origem do metanol nem como as garrafas foram intoxicadas. A Polícia Civil investiga bares e adegas suspeitas de venderem bebidas alcoólicas intoxicadas. A Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) diz que as adulterações podem estar ligadas à facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). Já o Ministério Público diz que a ligação entre as adulterações e facções criminosas é possível, mas que ainda não há elementos concretos que comprovem relação direta entre os casos.
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