SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar apresenta queda nesta terça-feira (30), com investidores reagindo à possibilidade de paralisação de parte do governo dos Estados Unidos.

No Brasil, a sessão é de definição da taxa Ptax de fim de mês, o que tende a trazer maior volatilidade aos negócios até o início da tarde.

Às 12h, a moeda oscilava 0,08% para cima, cotada a R$ 5,325. Já a Bolsa recuava 0,14%, a 146.082 pontos.

A possibilidade de uma paralisação do governo norte-americano pauta os mercados globais nesta sessão.

O financiamento para agências federais dos Estados Unidos expira na virada para quarta-feira e, até o momento, parece improvável que republicanos e democratas do Congresso cheguem a um acordo para prorrogá-lo após o prazo de meia-noite.

Controlado por republicanos, o Senado deve votar nesta terça um projeto de lei de gastos temporários que já falhou uma vez, sem nenhum sinal de que uma segunda votação trará sucesso. Os democratas querem modificar o projeto de lei para prorrogar benefícios de saúde que expiram no final do ano para milhões de norte-americanos, enquanto os republicanos dizem que devem tratar dessa questão separadamente.

Agências federais divulgaram planos detalhados que fechariam escritórios que realizam pesquisas científicas, atendimento ao cliente e outras atividades não consideradas “essenciais” e mandariam milhares de trabalhadores para casa se o Congresso não chegar a um acordo.

“O problema para o mercado financeiro em particular é que as agências estatísticas do governo americano vão ficar sem financiamento e vão paralisar praticamente todas as suas atividades”, diz Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX. O Departamento do Trabalho, por exemplo, disse que não divulgará seu relatório mensal de emprego, um termômetro da saúde econômica dos EUA.

O momento é especialmente sensível diante da cautela dos operadores em relação aos próximos movimentos do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano), cujas decisões sobre a taxa de juros são pautadas por dados econômicos de emprego e inflação. A paralisação, segundo Mattos, pode afetar tanto a qualidade quanto a pontualidade dos relatórios, diminuindo a visibilidade do mercado sobre a evolução da economia e, portanto, aumentando a incerteza na tomada de decisões.

A semana reserva a divulgação do payroll, principal indicador sobre o estado do mercado de trabalho para o Fed. A próxima guarda o relatório de inflação CPI e dados de vendas no varejo, “que já começam a correr riscos de um atraso mais significativo”.

“Nós ainda não sabemos se a economia norte-americana está passando por um enfraquecimento pontual, se vai se manter em uma trajetória de resiliência ou se é o começo de uma desaceleração consistente. Precisamos de dados para fazer essa avaliação, e a paralisação pode ameaçar a leitura.”

Diante desse cenário, o dólar enfrenta perdas globais pela segunda sessão consecutiva. O índice DXY, que mede o desempenho da moeda em relação a outras seis divisas fortes, caía 0,22%, a 97,73 pontos. O ouro, ao mesmo tempo, voltou a bater recordes de preço nesta terça, tendo chegado ao valor de US$ 3.870 por onça-troy durante a madrugada.

No Brasil, a cotação do dólar ainda é influenciada pela formação da Ptax de fim de mês.

Calculada pelo Banco Central com base nas cotações do mercado à vista, a Ptax serve de referência para a liquidação de contratos futuros. No fim de cada mês, agentes financeiros tentam direcioná-la a níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas (no sentido de alta das cotações) ou vendidas em dólar (no sentido de baixa).

Até que a taxa seja definida, é de se esperar maior volatilidade perto das janelas de coleta do BC: às 10h, 11h, 12h e 13h.

Na frente macroeconômica, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que a taxa de desemprego do Brasil ficou em 5,6% no trimestre até agosto, repetindo a mínima da série histórica iniciada em 2012.

O mesmo patamar já havia sido alcançado nos três meses encerrados em julho de 2025. O novo resultado veio em linha com a mediana das projeções do mercado financeiro, que também era de 5,6%, conforme a agência Bloomberg.

Segundo o IBGE, o mercado de trabalho ainda mostra força no país, mas é possível que esteja em um período de acomodação. Isso ocorre em meio aos juros altos e antes das festas de final de ano, que costumam estimular as contratações.

Na véspera, o Ministério do Trabalho e Emprego informou que o Brasil gerou 147 mil vagas de trabalho formal em agosto, de acordo com dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). O número representa uma queda na comparação com o mesmo mês do ano passado, quando houve 239 mil postos criados.

O resultado em agosto é fruto de 2,2 milhões de contratações e de 2 milhões de desligamentos. O número veio abaixo da expectativa de economistas consultados pela Bloomberg, que previam criação de quase 182 mil vagas.

“Os dados da Pnad e do Caged sugerem manutenção da robustez do mercado de trabalho. No entanto, o Caged aponta para uma perda de dinamismo no ritmo de contratações, sem maiores pressões nas demissões, enquanto a Pnad indica estabilidade na taxa de desocupação”, comenta André Valério, economista sênior do Inter.

“Apesar de ser apenas um dado no tempo, fica a expectativa se o resultado de hoje é um ponto de inflexão na dinâmica do mercado de trabalho, indicando perda de dinamismo nos próximos meses à medida que o aperto monetário é sentido na atividade real. Nós esperamos ser o caso, com a taxa de desemprego avançando até 5,8% ao fim do ano e continuando sua deterioração ao longo de 2026, quando esperamos que atinja 6,5%.”