RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – O acender da luz vermelha da câmera era a senha para Paulo Soares, o Amigão, mostrar toda a desenvoltura e o carisma que lhe fizeram cair nas graças do público. Longe dos microfones, porém, o jornalista se mostrava mais reservado e aproveitava o tempo livre em uma espécie de refúgio no interior de São Paulo.
Paulo Soares morreu na madrugada desta segunda-feira (29) aos 63 anos, por falência múltipla dos órgãos. Ele estava internado havia cerca de cinco meses no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde foi submetido a uma série de cirurgias na coluna para tratar problemas nas vértebras.
Em meio à correria do dia a dia, Amigão aproveitava o espaço na escala, quando tinha folgas aos fins de semana, para curtir uma fazenda que a família tem, há anos, em Araras, interior de São Paulo.
Ele adorava ir para lá, ficar com a família, com os cachorros. Quando não trabalhava no final de semana, sempre ia para Araras na sexta-feira e voltava apenas segunda-feira de manhã, para fazer o programa segunda-feira à noite. Isso é uma das coisas que ele preferia fazer.Alex Tseng, jornalista da ESPN e companheiro de longa data de Paulo Soares
A amizade de Tseng com Amigão começou há quase 40 anos. “Desde a minha adolescência, da escadaria lá na Avenida Paulista, 900, pois ele estava na Rádio Gazeta, começando na carreira aqui na capital. Então somos amigos desde aquela época, foi uma ligação muito forte”, contou.
“A gente se falava praticamente todos os dias, sobre tudo, sobre a vida, sobre comunicação, jornalismo esportivo, televisão, rádio, tínhamos assunto sempre. Então era uma ligação muito forte mesmo, pessoal, de amizade. Ele me indicou na ESPN em 2002 para fazer a Copa do Mundo e estou aqui até nesta terça-feira (30).”
TIMIDEZ LONGE DAS CÂMERAS
Amigão era mais tímido em público, mas não deixava de dar os seus passeios nos momentos de lazer. E não gostava apenas do sossego do mato, mas também como o pé na areia. Na lista de possíveis destinos, tinha a praia como um dos favoritos.
A leveza e alegria do apresentador foi mantida até mesmo nos momentos mais delicados. Durante a internação, amigos da ESPN organizaram visitas ao companheiro. Em pauta nas conversas, assuntos que causavam risos.
“Ele respondia mensagens e tudo mais, mas procurávamos algo mais próximo. Então, organizamos algumas visitas para ele e sempre foram muito divertidas, com grandes lembranças. Eram tardes deliciosas”, contou Tseng.
“[Lembranças] Sobre tudo, sobre a vida, sobre histórias na ESPN, no rádio, na televisão. Foram dias com encontros muito legais e que, de alguma maneira, confortava”, completou.
A última aparição de Amigão aos “fãs de esporte” foi em maio do ano passado, justamente para falar da partida do eterno parceiro de bancada Antero Greco, com quem dividiu o SportCenter por duas décadas.
Naquele dia, voltou a ‘invadir’ os lares das pessoas ao vivo e lamentou a morte do amigo. Antero morreu aos 69 anos, em consequência de um tumor no cérebro. “O Antero chegava sempre em cima da hora, em todas as situações. Era uma coisa irritante, tinha vontade de arrebentar ele (risos). Poxa vida, para quem gostava de chegar tão em cima da hora, para que sair tão cedo? Não era a hora ainda”, disse, na ocasião.
Amigão começou a trilhar o caminho no jornalismo aos 15 anos, na Rádio Clube de Araras. A partir daí, passou por diversas outras empresas de comunicação, como Gazeta, Record, Globo, SBT, TVA, Cultura, Bandeirantes e Estadão/ESPN.