SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – EA dita as regras para a próxima fase da indústria de videogames, muitas obras de infraestrutura para poucas empreiteiras e outros destaques do mercado nesta terça-feira (30).

**EA PASSA DE FASE**

Os jogos da Electronic Arts, ou simplesmente EA, atingem todo tipo de público: já jogou Fifa, The Sims ou Battlefield? Se a resposta for sim, então conhece a marca. Ontem, ela virou protagonista da maior negócio para fechamento de capital da história.

A desenvolvedora de videogames foi vendida a um consórcio de investidores por US$ 55 bilhões (R$ 293 bilhões). Assim, deixou de ter ações na Nasdaq, bolsa de valores de tecnologia americana, que negociava papeis da empresa desde 1989.

Vamos aos detalhes desse negócio.

APERTO DE MÃOS

O financiamento da aquisição acontecerá com o investimento de capital de US$ 36 bilhões (R$ 191 bilhões) do grupo comprador, acrescido de um empréstimo de US$ 20 bilhões (R$ 106 bilhões) oferecido pelo J.P. Morgan.

Aí vem o pulo do gato: a EA passará de uma empresa com pouquíssima dívida líquida para uma companhia que carrega um empréstimo pesado nas costas. Os compradores têm algumas cartas na manga para isso.

Eles esperam usar a inteligência artificial para otimizar os custos de desenvolvimento e testes de novos jogos e, claro, usar o dinheiro que economizarão no processo para pagar a nova dívida.

Não perca de vista o tamanho da aposta feita aqui: ainda que planejem reduzir os custos, os compradores estão contando que a empresa fará muito dinheiro nos próximos anos.

Agora, um cara-crachá dos três integrantes do consórcio comprador:

– Silver Lake: gestora de investimentos focada em tecnologia. Chamou a atenção do mercado nos últimos anos fazendo grandes aquisições e assumindo riscos importantes nelas —característica aparente nesse negócio também.

– PIF (Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita): todo o dinheiro arrecadado com o petróleo tem que ir para algum lugar, não? O fundo é uma forma de o país árabe investir os lucros da atividade petroleira em outros setores e diversificar seus negócios.

– Affinity Partners: empresa americana de private equity fundada em 2021 por Jared Kushner, genro do Presidente Donald Trump. Em geral, investe em empresas de tecnologia.

Kushner desempenhou um papel fundamental para a conclusão do acordo. Ele e Egon Durban, cochefe da Silver Lake, começaram a articular a aquisição no início do ano, segundo apuração do Financial Times.

O agregado dos Trump foi o responsável por amarrar o negócio com os árabes, que já tinham 9,9% de participação na EA e têm planos de investir até US$ 70 bilhões (R$ 372 bilhões) em capital por ano em tecnologia e imóveis.

A proximidade entre os Trump e os sauditas não é novidade: lembra-se da comitiva de empresários que o presidente americano levou para o reino em maio? Preste atenção nos negócios que podem sair dessa relação.

OLHANDO PARA FRENTE

A EA, assim como outros agentes do setor de videogames, passou por momentos difíceis desde o fim da pandemia.

O isolamento social provocado pela Covid-19 contribuiu para o aquecimento da área, que fez grandes investimentos, aumentou as contratações e anunciou novos títulos —na expectativa de reter os novos consumidores de videogames.

Você já deve ter entendido que isso não aconteceu. O mercado desacelerou e, em maio, a companhia desligou cerca de 300 funcionários, após ter cancelado o lançamento de novos games —movimento semelhante ao de concorrentes como a Respawn.

A aquisição deve mudar a lógica do setor de videogames: podemos ver, nos próximos anos, estúdios sendo adquiridos e saindo do mercado de capitais, além de recorrendo à IA para otimizar as atividades.

OLHANDO PARA OS LADOS

As ações de companhias como a Nintendo e a Sony, que ainda têm o capital aberto, podem se fortalecer com o movimento da EA: são opções de empresas fortes para aqueles investidores que querem se expor ao setor, segundo análise do banco de investimentos Jefferies.

**OBRA SEM ENGENHEIRO**

Avião sem asa, fogueira sem brasa… é o setor da construção pesada sem mão de obra. A área de infraestrutura vive uma euforia com um “boom” de concessões, mas certames sem interessados ou com baixa concorrência levantam preocupações com saturação do mercado.

O QUE ESTÁ ACONTECENDO?

O mercado de infraestrutura vive um bom momento. A receita para isso mistura o aumento do investimento privado em áreas como logística (rodovias, portos, ferrovias) e saneamento, com o amadurecimento dos instrumentos de concessões e PPPs (parcerias público-privadas).

O resultado disso é a atração de novos financiadores brasileiros e empresas estrangeiras no setor —os investimentos em infraestrutura em 2024 bateram o pico que havia sido registrado em 2014.

Em 2024, a Abdib (Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base) calcula R$ 259,3 bilhões em investimentos, R$ 197,1 bilhões deles via capital privado.

TUDO ÓTIMO, ENTÃO?

Calma, gafanhoto. Os agentes desse mercado —como advogados, consultores, construtores e fundos— têm uma preocupação básica: quem vai fazer essas obras todas?

Para alguns, leilões recentes sem lances ou com pouca concorrência apontam para as dificuldades do setor em estruturar boas propostas e conseguir todas as garantias.

VOLTANDO A FITA

O marco para o encolhimento desse mercado foi a operação Lava Jato, que desarticulou esquema de corrupção na Petrobras. À época, grandes empreiteiras lideravam os consórcios e encabeçavam as concorrências.

Passada a operação, companhias deixaram o mercado. Quem ficou enxugou estrutura, vendeu ativos, criou mecanismos de governança e controle e concentrou esforços em outras atividades. Elas já não têm, entretanto, fôlego para liderar as concorrências, que precisam ser contratadas por quem venceu.

Os leilões passaram a ser liderados por gestores e fundos de investimento, levando em conta a dificuldade das empreiteiras em conseguir financiamento.

PASSOS DE TARTARUGA

O cenário começa a mudar, mas os passos são lentos.

A Odebrecht e a Andrade Gutierrez —dois nomes bastante citados na Lava-Jato, se o leitor tem boa memória— voltaram a crescer.

Elas chegaram a ensaiar uma participação no leilão do túnel Santos-Guarujá, mas desistiram de apresentar proposta ao não conseguirem viabilizar financiamento e as garantias pedidas pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**

Simples assim. “Basta Lula corrigir Previdência pelo IPCA que o mercado se acalma, diz Luis Stuhlberger, gestor do fundo Verde.

Dificultando a vida. O Congresso resiste a aprovar projetos que elevam em R$ 40 bilhões a arrecadação pública de 2026, ano eleitoral.

Mais tarifas. Donald Trump anunciou a aplicação de uma tarifa de 10% sobre a importação de madeira nos EUA e de 25% sobre a entrada de armários e móveis no país.

Brigando por migalhas. Kardian, da Renault, e Tera, da Volkswagen, disputam espaço em segmento que ainda não decolou: o dos SUVs que se parecem com hatches.

Lenha na fogueira. A Abrasel, associação de bares e restaurantes vai ao Cade e acusa iFood de práticas anticompetitivas.

Para ontem. Paul Atkins, presidente do órgão fiscalizador do mercado financeiro dos Estados Unidos, disse que está acelerando iniciativa de Trump de acabar com balanços trimestrais.