SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “A gente já foi parada em shopping, já foi parada na rua. As pessoas passam e falam: ‘Nossa, vocês foram lindas!’. É muito emocionante”, afirmou Mariana Gonçalves, 20, integrante da equipe brasileira que conquistou no mês passado duas medalhas no Mundial de ginástica rítmica. “Está sendo uma alegria enorme. O coração fica quentinho!”

Ela e suas companheiras ainda celebram os resultados obtidos na competição, realizada no Rio de Janeiro, com uma prata na prova de conjunto geral e outra na série mista, com três bolas e dois arcos. Em uma modalidade que geralmente tem pouca visibilidade, atuaram com a Arena Carioca 1 lotada e passaram a ser reconhecidas.

Tiveram encontro com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e participações em eventos populares, como um ensaio da escola de samba Unidos do Viradouro, em Niterói, onde foram ovacionadas. Na última semana, percorreram diversas unidades do Sesc (Serviço Social do Comércio), em São Paulo, onde interagiram com o público e comandaram atividades com crianças.

A movimentação era parte da programação da Semana Move, que incentiva a prática esportiva. As atletas da ginástica rítmica já haviam participado em edições anteriores, mas sem o furor que provocaram após as medalhas, antes inéditas, no Mundial. Concluída no domingo (28), a série de apresentações teve início na quinta-feira (25), em Bauru, com o ginásio lotado.

“Tinha gente para fora! Acho que o grito de vitória estava muito preso, sabe? Estava todo o mundo querendo muito vibrar nessa energia. E, agora que é real, que aconteceu, que a gente concretizou, essa coisa latente está vindo. Por onde a gente passa, é: ‘Eu estava torcendo, obrigado!'”, contou Bruna Martins, 39, coreógrafa do time nacional.

“É muito legal ver as crianças com aqueles olhinhos brilhantes, tentando tocar no nosso collant. A gente já foi criança um dia. Ser inspiração para elas é uma força para a gente”, disse Mariana. “É claro que, como atletas, temos objetivos de conquistas e medalhas, mas queremos também nutrir as novas gerações”, acrescentou Nicole Pircio, 23, outro membro da equipe.

Mariana e Nicole, ao lado de Duda Arakaki, Sofia Madeira e Maria Paula Caminha, foram as atletas que se apresentaram a caminho das medalhas, sob comando de Camila Ferezin e Bruna Martins. Para subir ao pódio, exibiram o que se espera no mais alto nível da ginástica rítmica, modalidade que une movimentos da ginástica artística e elementos do balé.

Segundo a descrição da FIG (Federação Internacional de Ginástica), “a ginástica rítmica é a junção do esporte com a arte”. “Executando apresentações com música, individualmente ou em grupo, os ginastas rítmicos impressionam o público com sua habilidade ao executar manobras extremamente difíceis com aparelhos manuais: arco, bola, maças, fita e corda”, diz o texto.

Uma das diferenças para a ginástica artística, praticada por craques como Simone Biles e Rebeca Andrade, é que esta valoriza mais a força e a potência. Na ginástica rítmica, há grande ênfase na flexibilidade, sempre atrelada ao ritmo musical. No caso das conquistas brasileiras, a trilha era “Evidências”, clássico do cancioneiro popular composto por José Augusto e Paulo Sérgio Valle.

A música agora será substituída para um novo ciclo da seleção. As treinadoras Camila e Bruna têm um grupo de WhatsApp com Leonardo Palitot, árbitro internacional da modalidade que contribui com a comissão técnica. O grupo, que já foi chamado de “Música Paris” e “Música Mundial”, agora é intitulado “Música 2026”.

“O Léo enviou uma mensagem: ‘Amiga, estou até arrepiado’, e mandou a foto do braço dele”, disse Bruna, relatando uma das conversas em torno da próxima canção. Não é definitivo que ela será a mesma até os Jogos Olímpicos de 2028, em Los Angeles, mas os trabalhos já têm o megaevento como objetivo.

Segundo a coreógrafa, “as meninas estão supercuriosas” e dão os seus palpites. Enquanto não descobrem qual será a música que as embalará a partir do próximo ano, elas descansam o corpo, cumprem compromissos comerciais e curtem o momento, com aplausos aos quais ainda estão se acostumando.

“A gente vê que a nossa ginástica está sendo reconhecida, está tendo o lugar que sempre deveria ter. É nosso lugar agora”, afirmou Mariana. “Desde que a gente ficou em 2022 como o quinto melhor conjunto do mundo, tudo foi combustível para a gente querer mais. Então, é a concretização do nosso trabalho. Agora, é desfrutar de tudo isso”, concluiu Nicole.