SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Escolas particulares brasileiras devem reajustar em 9,8% o valor das mensalidades por aluno a partir de 2026, aponta pesquisa da consultoria Rabbit divulgada neste mês. O percentual é a média dos aumentos obtidos pelo levantamento, que ouviu 308 instituições de ensino privado em abril e em agosto deste ano.
Se concretizado, o número equivale a mais do que o dobro da inflação projetada para 2025, de 4,81%, embora a recomposição inflacionária, diz o estudo, seja apenas um dos três itens que compõem o reajuste.
Também entram nesse cálculo o reajuste sobre o salário dos professores e os investimentos realizados pelas escolas.
Pela lei, as escolas só podem reajustar as mensalidades uma vez ao ano. O percentual deve ser informado às famílias com um prazo mínimo de 45 dias antes da data final para a matrícula.
O resultado obtido no relatório para o ano que vem é ligeiramente superior ao registrado nos últimos anos. De 2023 para 2024, mensalidades registraram aumento médio de 9,3%. De 2024 para 2025, por sua vez, 9,5%.
A maior média de reajuste está prevista para Minas Gerais, com 10%, seguida por São Paulo (9,8%). O menor índice (6,5%) está na região Sul.
O aumento projetado para 2026 vem ao mesmo tempo em que o lucro de instituições privadas registrou margem média de 14%, número “muito abaixo do ideal para empresas prestadoras de serviço”, segundo nota que acompanha o levantamento.
A baixa lucratividade não é regra no setor e foi puxada sobretudo por instituições de ensino infantil, diz Christian Rocha Coelho, do Grupo Rabbit.
“São escolas que deram desconto de até 25% sobre o valor da mensalidade naquela época [da pandemia] e não conseguiram recuperar. As grandes sofreram menos porque conseguiram manter as aulas no ambiente online. Nas de educação infantil, isso não aconteceu. Os pais deixaram de pagar”, afirma.
A margem pequena, porém, não freou novos investimentos. Das 308 instituições consultadas, 52% disseram ter planos para investir em infraestrutura e 70%, em atividades complementares -o que inclui programas bilíngues e projetos socioemocionais.
Trata-se de aposta equivocada na avaliação de Coelho. “Não há causalidade entre a ampliação das atividades complementares e o aumento no número de estudantes. O que vemos é o oposto: pais têm retirado alunos das instituições porque o custo subiu”, diz.
Em um dos casos, afirma ele, uma escola de educação infantil contratou atividades complementares e o custo do material cresceu de R$ 400,00 para R$ 1.200,00. Dos cem alunos matriculados, 50 deixaram a instituição.
A evasão em razão do preço, diz Claudia Costin, ex-diretora de educação no Banco Mundial, se dá principalmente pelo modelo de ingresso às universidades.
Segundo ela, pais muitas vezes optam por pagar mais em instituições com maior rendimento em vestibulares em detrimento daquelas que oferecem materiais diferenciados -como robótica, por exemplo.
Costin diz também que a saúde financeira das instituições de ensino privado é também afetada pela queda nas taxas de fecundidade da população. “Nascem cada vez menos crianças e as matrículas, consequentemente, diminuem. Então são mais instituições disputando um mercado menor”, diz.
Daí a tendência de escolas particulares em aderir ao ensino em tempo integral -o que também entra no cálculo do reajuste, diz Costin.
Para ela, já não há sentido em condensar o conteúdo de 13 matérias, por exemplo, em apenas cinco horas de aula -sobretudo ante os avanços tecnológicos mais recentes, como a inteligência artificial.
“Teremos de fazer o que o resto do mundo faz, dando sete horas de aula aos alunos. Mas isso dialoga diretamente com o custo das unidades, com suas mensalidades”, afirma.
Presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo, José Antonio Figueiredo Antiório afirma que escolas têm padrões e necessidades diferentes, razão pela qual valores de reajustes podem variar.
“O número da recomposição é definido pela planilha das escolas, que são autônomas. Se analisássemos apenas a questão do reajuste salarial do magistério, teríamos 6% a 6,5% de reajuste”, diz.