SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Tontura, moleza, sonolência e sensação de relaxamento são os primeiros sintomas da ingestão de bebida alcoólica misturada ao metanol, como os casos registrados neste mês em São Paulo e que já mataram três pessoas. Esses efeitos são os mesmos de quem exagera um pouco no consumo do álcool. Porém, em casos de intoxicação pela substância, o atendimento médico deve ser feito com urgência.

De acordo com especialistas ouvidos pela reportagem, após de 12 a 24 horas do consumo da bebida adulterada, o fígado já transformou o metanol em ácido fórmico (ácido produzido pelo organismo na metabolização do metanol). Nesta fase, a dor de cabeça, as náuseas e os vômitos são intensos.

O paciente também pode apresentar dor abdominal, insuficiência respiratória, confusão mental, alterações no sistema nervoso central, perda de visão e entrar em coma. A depender do caso, bebida adulterada com metanol pode levar à morte.

“O maior risco, a meu ver, é a questão neurológica”, diz Eliane Gandolfi, coordenadora do Núcleo de Toxicovigilância do Centro de Vigilância Sanitária da Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo.

“É no serviço de saúde que o quadro fica mais claro. Provavelmente, o paciente será internado e terá que receber um antídoto, que é um álcool puro [etanol]. O atendimento vai depender dos sintomas que vão se apresentando. Tudo depende do quanto essa pessoa bebeu, da idade dela, do processamento do metanol no organismo. Às vezes, o paciente já é um alcoolista, então ele pode estar habituado a beber álcool e demorar mais para buscar um serviço de saúde”, explica.

A intoxicação por metanol pode levar à neuropatia óptica, doença grave do nervo óptico, que transmite as informações visuais ao cérebro, e à cegueira irreversível.

Mário Luiz Ribeiro Monteiro, presidente da ABNO (Associação Brasileira de Neuro-oftalmologia), explica que algumas células que formam o nervo óptico são muito vulneráveis a essa toxicidade.

“São células da retina que formam as fibras do nervo óptico. São as chamadas células ganglionares. Essas células precisam de muita energia para funcionar. O ácido fórmico, que é o produto do metanol, interfere na mitocôndria, que é uma estrutura da célula que produz a energia”, diz Monteiro, ao destacar que a perda visual é rápida e geralmente bilateral.

O metanol é um produto químico industrial, altamente tóxico e impróprio para consumo humano. A contaminação de uma bebida alcoólica por metanol tende a acontecer em casos de falsificação do produto, uma vez que a substância tóxica pode estar presente em álcool adulterado ou mesmo ser adicionada para aumentar o teor alcoólico de forma mais barata.