WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – O primeiro-ministro Binyamin Netanyahu telefonou ao primeiro-ministro do Qatar, Mohammed bin Abdulrahman, e pediu desculpas pelo ataque em Doha no início de setembro e afirmou que a ação não se repetirá, de acordo com pronunciamento da Casa Branca.

O gesto ocorreu em ligação trilateral, com a participação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com o qual Netanyahu se encontra nesta segunda-feira (29).

Segundo a Casa Branca, no telefonema, Trump propôs que os três países trabalhem de forma conjunta.

“Como primeiro passo, o primeiro-ministro Netanyahu expressou profundo pesar pelo fato de que o ataque israelense com mísseis contra alvos do Hamas no Catar tenha, de forma não intencional, causado a morte de um militar catariano”, afirma o comunicado da Casa Branca.

“Ele também lamentou que, ao atacar a liderança do Hamas durante negociações de reféns, Israel tenha violado a soberania do Catar, e afirmou que o país não realizará esse tipo de ataque novamente no futuro”, continua.

Segundo o governo americano, os premiês de Israel e do Qatar debateram uma proposta para acabar com a guerra em Gaza.

Antes da ligação, ao recepcionar Netanyahu, Trump afirmou estar “muito confiante” em um acordo pela paz na guerra entre Israel e Hamas em Gaza. A declaração foi dada logo antes de os líderes entrarem na Casa Branca.

Esta é a quarta reunião dos dois em Washington desde que Trump voltou ao poder, em janeiro. Desta vez, o presidente não recebeu Netanyahu para conversa aberta no Salão Oval antes do encontro fechado. Em reuniões com outros líderes, como o ucraniano Volodimir Zelenski e o sul-africano Cyril Ramaphosa, Trump constrangeu seus visitantes em audiências com presença da imprensa neste cômodo da Casa Branca.

A reunião ocorre algumas horas após o Exército de Israel intensificar sua ofensiva terrestre na Cidade de Gaza, aproximando tanques de hospitais da região. Neste domingo (28), Trump escreveu na sua plataforma, a Truth Social, que há uma “oportunidade real de alcançar algo grandioso no Oriente Médio”. “Todos a bordo para algo especial pela primeira vez. Vamos conseguir!”

O Fórum das Famílias de Reféns, grupo que representa muitos sequestrados nos ataques terroristas de 7 de outubro de 2023, enviou uma carta a Trump pedindo para que o americano não permita uma obstrução do acordo proposto pelos EUA. “Os riscos são muito altos, e nossas famílias esperaram tempo demais para que qualquer interferência descarrile este progresso”, diz o documento.

Após quase dois anos de esforços diplomáticos fracassados, Washington apresentou um plano de 21 pontos a Estados árabes e muçulmanos na semana passada que inclui um cessar-fogo permanente e a libertação dos reféns restantes.

Mesmo com a pressão, Israel parece estar resistente ao acordo. Uma fonte familiarizada com as discussões disse à agência de notícias Reuters que autoridades de Tel Aviv se preocupam com a proposta de envolvimento de forças de segurança palestinas na Faixa de Gaza após a guerra e a falta de clareza sobre a expulsão do território de membros do Hamas.

O grupo terrorista, por sua vez, diz estar disposto a libertar seus reféns em troca do fim da guerra, mas afirma que não entregará suas armas enquanto os palestinos ainda estiverem lutando por um Estado. A facção disse que ainda não viu nenhuma nova proposta de paz dos EUA.

Desde os atentados no sul de Israel, há quase dois anos, Israel afirma que o objetivo da guerra é eliminar o grupo. Sob essa justificativa, Tel Aviv devastou o território palestino e, agora, avança sobre a Cidade de Gaza, onde mais da metade da população de 2,2 milhões de habitantes morava antes do conflito.

Na mais recente ofensiva, Israel arrasou bairros da Cidade de Gaza, explodindo edifícios que os militares afirmam que eram usados pelo Hamas. Centenas de milhares de residentes fugiram novamente após retornarem às suas casa no cessar-fogo de janeiro, embora muitos digam que não há para onde ir —Israel pede que eles se dirijam para o sul, onde outras cidades já foram arrasadas e grande parte da população está amontoada em acampamentos de tendas.

De acordo com autoridades de saúde do território, tanques israelenses avançaram até poucos metros do principal Hospital Al-Shifa da Cidade de Gaza, onde médicos dizem que centenas de pacientes ainda estão sendo tratados apesar das ordens israelenses para sair. O centro de saúde, que já foi o maior da Faixa de Gaza, opera parcialmente após ser atacado por Israel em outras ocasiões da guerra.

Tanques também teriam cercado a área ao redor do hospital Al-Helo, onde 90 pacientes estavam sendo tratados, incluindo 12 bebês em incubadoras. Segundo médicos, o hospital foi bombardeado durante a noite e o Exército matou ao menos 18 pessoas em todo o território nesta segunda, a maioria na Cidade de Gaza.

Abu Abdallah, abrigado com quase duas dezenas de familiares em tendas ao longo da costa da Cidade de Gaza, disse à Reuters que a família está esperando a reunião na Casa Branca para decidir se fugirá para o sul. “Ou é paz ou a Cidade de Gaza será arrasada, assim como Rafah foi”, disse ele, referindo-se à cidade no sul do território que Israel destruiu completamente ao longo da guerra.