SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um dos maiores escândalos envolvendo roubo de obras de arte no país, de Tarsila do Amaral a Di Cavalcanti, agora vai virar série da HBO. A produção será dirigida por Carolina Sá.

O caso diz respeito à coleção de Jean Boghici, lendário marchant que morreu em 2015 aos 87 anos de uma embolia pulmonar.

Em 2022, Sabine Boghic foi presa no Rio de Janeiro sob suspeita de roubar da própria mãe mais de R$ 725 milhões, a maior parte em obras de arte. Entre os quadros estavam obras de Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti. Também foram roubadas joias e feitas transferências bancárias.

Entre as obras desviadas e resgatadas pela polícia, estava “Sol Poente”, um dos principais trabalhos da pintora.

A idosa, a francesa Geneviève Rose Coll Boghici, foi mantida em cárcere privado por cerca de um ano. A suspeita dos crimes é sua filha, Sabine Coll Boghici, que tentou carreira como atriz e cantora e ostenta um ativismo ferrenho de protetora de animais.

Dois dos acusados do golpe de R$ 725 milhões contra Geneviève Rose Coll Boghici, viúva do colecionador de arte e marchand Jean Boghici, foram presos em maio do ano passado no Rio de Janeiro pela polícia. São eles Gabriel Nicolau e Jacqueline Stanesco, ambos detidos em suas casas, no bairro de Ipanema.

A extensa coleção de Boghici, que remonta aos anos 1960, continha telas emblemáticas do modernismo brasileiro e foi parcialmente perdida num incêndio ocorrido há dez anos em sua cobertura dúplex, no Rio de Janeiro.

Romeno radicado no Brasil após a Segunda Guerra Mundial, o antigo técnico de rádio começou a carreira de marchand quando ganhou um prêmio num programa da extinta TV Tupi ao acertar respostas sobre Vincent van Gogh.

Segundo o inquérito, o golpe teve início em janeiro de 2020, quando, ao sair de uma agência bancária em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, Geneviève Boghici foi abordada por uma mulher. Era Diana Rosa Stanesco, que disse ser vidente e ter visto que a filha de Geneviève, Sabine, estava doente e morreria em breve.

Ela então convenceu a idosa —cuja filha tinha problemas psicológicos desde a adolescência, incluindo depressão, ansiedade e crise de pânico— a ir com ela até seu apartamento no bairro. Ali jogou búzios, confirmou a previsão trágica e a levou para a casa de uma segunda vidente que faria a cura.

Sabine Boghici morreu em aosto de 2023, após cair de um prédio no Rio de Janeiro. Antes disso, no ano anterior, foi presa acusada de dar o golpe milionário contra a própria mãe.

Ao todo, em 2022, quatro pessoas foram presas por agentes do DEAPTI (Delegacia Especial de Atendimento à Pessoa da Terceira Idade): Sabine, a filha; Rosa Stanesco Nicolau, conhecida como Mãe Valéria de Oxóssi e companheira de Sabine; Gabriel Nicolau, filho de Rosa; e Jacqueline Stanescos. Estão foragidos Diana Rosa Aparecida Stanesco Vuletic e Eslavo Vuletic, pai de Diana.

Em setembro de 2012, um incêndio destruiu parte do acervo do casal, que vivia em uma cobertura em Copacabana, na zona Sul do Rio. Entre as perdas estavam obras importantes de artistas como Di Cavalcanti e Alberto Guignard, respectivamente “Samba” (1925) e “A Floresta”.

Também foram perdidas as obras “A Mulher e o Galgo”, de Vicente do Rego Monteiro, “A Leitura”, de Lasar Segall, uma tela do uruguaio Joaquín Torres-García e outra do francês Nicolas Antoine Taunay.

Cerca de 15 das 150 obras do acervo do casal Boghici foram queimadas na ocasião. Entre as pinturas que se salvaram do incêndio estão três obras de Tarsila do Amaral e a famosa “O Beijo”, de Rodin, da década de 1880.

O casal tinha 14 gatos e dois cachorros. Dois gatos morreram no incêndio. “Foi o pior de tudo. Perdemos nossas gatinhas prediletas”, disse Geneviève à Folha de S.Paulo na época.