SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A prefeitura de São Bernardo do Campo confirmou na tarde desta segunda-feira (29) a terceira morte suspeita de intoxicação por metanol em bebida alcoólica na Grande São Paulo.

Vítima é um homem de 45 anos que morreu no dia 28 de setembro. Morte dele já era investigada pelo 1º Distrito Policial da cidade. Exames estão sendo realizados pelo IML (Instituto Médico Legal) para confirmar ou descartar a contaminação

As outras duas vítimas que têm morte investigada são dois homens, um de 38 anos e o outro de 48 anos. Os casos, confirmados ao UOL pelo Centro de Vigilância Sanitária de São Paulo, ocorreram neste mês na capital paulista e em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo.

Casos estão ligados ao consumo de diferentes tipos de bebida. Entre as citadas estão gim, uísque e vodca, consumidos em diferentes lugares, como bares. O Ciatox (Centro de Informação e Assistência Toxicológica) alertou ainda que o número de casos pode estar subnotificados, pois nem todos chegam ao conhecimento dos órgãos de vigilância e controle.

O homem de 48 anos morava na região da Mooca/Aricanduva, na cidade de São Paulo. Ele, que não teve o nome divulgado, foi atendido por uma unidade de saúde privada em 9 de setembro, após apresentar sintomas de intoxicação, e morreu em 15 de setembro.

Atualmente, há 10 casos sob investigação na capital. Todos são considerados suspeitos de intoxicação por consumo de bebida contaminada, segundo o Centro de Vigilância Sanitária.

Volume de ocorrências recebido foi classificado pelas autoridades como “fora do padrão”. Nos últimos dois anos, os casos de intoxicação por metanol registrados pelo Ciatox (Centro de Informação e Assistência Toxicológica) de Campinas (SP) estavam ligados ao consumo de combustíveis em contexto de abuso de substâncias, não por adulteração de bebidas. O centro informou que os casos eram considerados casos de consumo intencional. Já agora, são de consumo acidental, em que a vítima não sabe que a bebida está adulterada.

A Polícia Civil localizou, até o momento, quatro boletins de ocorrência referentes a casos de intoxicação por metanol. Dois casos ocorreram na capital e os outros dois em São Bernardo do Campo. Todos estão sendo investigados.

JOVEM DE 27 ANOS ESTÁ EM COMA HÁ MAIS DE 20 DIAS

Rafael foi intoxicado por metanol após consumir doses de gim com energético e gelo com sabor. As bebidas foram compradas em uma adega, na Cidade Dutra, zona sul da capital paulista, perto da casa dele, no dia 30 de agosto. O jovem, que não teve o sobrenome divulgado, está internado há 29 dias.

Jovem está em coma desde o dia 1º de setembro. A mãe de Rafael, a enfermeira Helena Anjos Martins, diz que os médicos conseguiram remover a toxicidade do sangue do filho, mas os danos causados pela substância já tinham afetado a visão e o cérebro dele. “Ele está respirando através de ventilador. Segundo a medicina, [o quadro dele] é irreversível”, disse Helena em entrevista ao Fantástico.

Amigo de Rafael também foi contaminado e precisou ficar internado. O auxiliar de produção Diogo Marques afirmou que os sintomas apareceram depois que ele consumiu as bebidas com Rafael e outras três pessoas. Além dos dois jovens, outra pessoa do grupo também passou mal.

O caso é investigado pelo 48° DP (Cidade Dutra). A polícia diz que já realizou oitivas e aguarda laudos periciais para análise e esclarecimento dos fatos.

A adega fica localizada na Avenida Presidente João Goulart, no Jardim Malia II. Ao UOL, o responsável pelo local informou que já prestou esclarecimentos às autoridades e que agora “cabe esperar pelos órgãos competentes, pois os mesmos já se encontram fazendo o necessário para entender de fato o que aconteceu”.

MULHER PERDEU VISÃO E TAMBÉM ESTÁ INTERNADA

Não enxergo nada, disse mulher internada após beber caipirinha em bairro nobre da cidade. A designer de interiores Rhadarani Domingos afirmou que passou mal após beber três caipirinhas de frutas vermelhas com maracujá e vodka. Ela contou que as bebidas não tinham nenhum gosto diferente. “[As bebidas causaram] um estrago bem grande. Eu não estou enxergando nada”, relatou ao Fantástico.

Rhadarani foi levada para a UTI, convulsionou e chegou a ser intubada no dia 21 de setembro, segundo a irmã. Lalita Domingos falou que ninguém imaginava que o quadro poderia ser uma intoxicação por metanol. A expectativa da família é que Rhadarani consiga algum tratamento para voltar a enxergar.

Bebida foi comprada em bar, no dia 19 de setembro, onde ela estava para uma festa de aniversário. “Era uma região nobre, nenhum boteco de esquina”, acrescentou. O nome do estabelecimento e a região do comércio não foram divulgados, por isso não há posicionamento do outro lado.

O QUE DIZEM AS AUTORIDADES

Governo federal pediu que a população fique atenta às bebidas alcoólicas consumidas, especialmente aos finais de semana. O Ministério da Justiça e Segurança Pública reforçou a importância da atuação conjunta entre governo, setor privado e sociedade para coibir práticas criminosas de falsificação e proteger consumidores.

Entre as orientações ao setor privado estão a compra segura, a conferência de produtos e o fortalecimento da rastreabilidade dos produtos. Governo também destaca que preços anormalmente baixos, lacres tortos, erros grosseiros de impressão, odor semelhante a solventes e relatos de consumidores com sintomas como visão turva, dor de cabeça intensa, náusea ou rebaixamento da consciência devem ser tratados como suspeita de adulteração.

Centro de Vigilância Sanitária de São Paulo diz que estabelecimentos devem redobrar a atenção quanto à procedência dos produtos oferecidos. Também indicou que a população compre bebidas somente de fabricantes autorizados, com rótulo, lacre de segurança e selo fiscal.

Associação Brasileira de Bares e Restaurantes orientou que os estabelecimentos sempre procurem comprar os produtos de distribuidores reconhecidos e confiáveis. “A falsificação e adulteração de bebidas são crimes graves contra o consumidor, que colocam em risco a saúde da população e geram prejuízos diretos aos estabelecimentos sérios e comprometidos com a legalidade. Trata-se de um problema de saúde pública, que exige ação coordenada entre autoridades, setor produtivo e sociedade”, disse a associação.

O QUE É O METANOL

Metanol é nocivo para a saúde e pode causar vários sintomas. A exposição a quantidades significativas do produto pode resultar em náusea, vômito, dor de cabeça, visão turva, cegueira permanente, convulsões, coma, danos permanentes ao sistema nervoso ou morte. Em alguns casos, a substância costuma ser adicionada ilegalmente ao combustível como uma alternativa mais barata ao etanol.

Tomar até mesmo pequenas quantidades pode causar intoxicação. Segundo especialistas, a toxicidade do metanol está relacionada à dose que você toma —e à forma como seu corpo lida com ela.

Metanol um álcool líquido, incolor e também conhecido como álcool metílico. Embora semelhante ao etanol na aparência, não deve ser confundido com o álcool usado em bebidas.