SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O vice ministro de Relações Exteriores da Coreia do Norte, Kim Son-gyong, defendeu a posse de armas nucleares pelo país nesta segunda-feira (29), na Assembleia-Geral da ONU, como um direito e uma necessidade para a defesa da soberania nacional.

Ele acusou os Estados Unidos e o Japão de realizarem treinamentos militares “cada vez mais ofensivos e violentos”, que chegariam a simular o uso de armamento atômico contra um Estado soberano, intensificando as tensões dias antes do debate em Nova York.

Em sua fala, afirmou que Coreia do Norte incorporou na sua própria Constituição o direito à nuclearização como princípio inegociável, que não pode ser impedido por pressões externas. Segundo ele, impor a desnuclearização equivaleria a atacar a soberania do país, sua Constituição e seu próprio direito de existir, acrescentando que o ditador Kim Jong-un tem reafirmado a centralidade da política nuclear no rumo do país.

O diplomata afirmou que o mundo não deve se sentir aliviado ou comemorar o fato de que não houve uma nova guerra mundial nos últimos 80 anos, e sim reconhecer que a ameaça permaneceu constante, exigindo medidas apropriadas que não foram tomadas. Para ele, o planeta vive hoje o período mais turbulento e violento desde a Segunda Guerra, com violações de soberania, guerras comerciais que prejudicam a economia global e um cenário de estagnação e instabilidade.

As “turbulências e dores do mundo”, declarou o vice-chanceler, têm como causa fundamental a arbitrariedade de potências que subjugam os interesses internacionais a favor de seus próprios países.

O norte-coreano criticou o funcionamento das Nações Unidas, argumentando que sua história tem páginas vergonhosas, nas quais as forças hegemônicas abusaram de seu nome para impedir Estados soberanos de seu desenvolvimento. Ele defende que a organização não pode ser representada por “um pequeno grupo de países” e que é necessário o aumento da representação de Estados em desenvolvimento.

Curiosamente, a fala belicosa ocorreu logo após o discurso do arcebispo Paul Richard Gallagher, secretário para as Relações com os Estados da Santa Sé, que discursou em nome do papa Leão 14. O Vaticano defendeu a paz como princípio central da diplomacia, criticou o isolacionismo e pediu uma reforma da ONU para se adaptar a um mundo em mudança, redescobrindo seus fundamentos e dando “nova vida à diplomacia multilateral”.

Gallagher apelou por um cessar-fogo imediato na Ucrânia, reiterou a defesa da solução de dois Estados no Oriente Médio e disse que qualquer alteração unilateral no status de Jerusalém é moralmente e legalmente inaceitável.

Enquanto o vice ministro de Pyongyang endurecia o tom em Nova York, sua chanceler, Choe Son Hui, esteve em Pequim um dia antes para a segunda visita em apenas um mês ao principal aliado do regime. Ela se reuniu com Wang Yi, o chefe da diplomacia chinesa, que afirmou que “a China está disposta a fortalecer a coordenação e a cooperação com a República Popular Democrática da Coreia em assuntos internacionais e regionais”, em comunicado.

Analistas afirmam que o ditador Kim Jong-un busca um retorno ao cenário mundial. O dirigente recluso viajou com Choe a Pequim no início de setembro para participar de um desfile militar de grande porte, que lhe ofereceu uma oportunidade sem precedentes de estar ao lado do líder chinês, Xi Jinping, e do presidente russo, Vladimir Putin, conquistando apoio implícito para suas armas nucleares proibidas.

Segundo a KCNA, agência oficial norte-coreana, Choe transmitiu a Xi uma mensagem de Kim Jong-un destacando que a relação entre os dois países é inabalável e deve se desenvolver de acordo com as exigências dos novos tempos.

Wang afirmou a Choe que os dois países liderados por partidos comunistas devem intensificar as trocas sobre governança, e a informou sobre a situação doméstica da segunda maior economia do mundo, segundo o comunicado do ministério chinês.

Enquanto esteve em Pequim, Kim disse a Xi que Pyongyang continuaria apoiando a China na proteção da soberania de seu aliado, de acordo com a KCNA.

A aproximação acontece às vésperas da cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), marcada para os dias 31 de outubro e 1º de novembro na cidade sul-coreana de Gyeongju, evento que deve contar com a presença de Xi Jinping e possivelmente do presidente dos EUA, Donald Trump.

Kim Jong-un disse no dia 22 que estaria aberto a futuras conversas com os Estados Unidos se Washington abandonasse a exigência de desnuclearização e que nunca abriria mão de seu arsenal para acabar com as sanções.