Da Redação

Em menos de dois anos, Luziânia (GO), município situado a 59 quilômetros de Brasília, tornou-se alvo de uma corrida aurífera inédita. A cidade, que antes registrava pouco mais de uma dezena de solicitações anuais de mineração, recebeu 100 novos pedidos desde 2024. A maioria deles foi apresentada pela Kinross Brasil Mineração, braço da gigante canadense Kinross Gold Corporation.

Segundo dados da Agência Nacional de Mineração (ANM), somente em 2024 foram protocoladas 78 solicitações, das quais 67 partiram da Kinross. Entre janeiro e setembro de 2025, outras 29 deram entrada, sendo 20 atribuídas à mesma empresa. A expansão do interesse chama atenção pelo contraste com a média histórica da região, que variava entre 7 e 12 pedidos por ano.

Expansão estratégica

A Kinross opera no Brasil desde 2005, em Paracatu (MG), onde responde por 22% da produção nacional de ouro. Com a mina local garantida até 2032, a companhia parece mirar agora no solo de Luziânia para prolongar sua relevância no setor e reforçar sua presença no Centro-Oeste.

Ouro sob a memória colonial

O avanço da mineração reacende discussões sobre a herança histórica da cidade. Sob o santuário de Luziânia, há registros de jazidas de ouro. O local guarda ainda a memória de pelo menos 87 escravizados enterrados ali após construírem a igreja, da qual eram proibidos de participar por causa da segregação racial.

Entre o garimpo e a indústria

Mesmo com o interesse das grandes mineradoras, a atividade artesanal e clandestina resiste. Ex-garimpeiros relatam que pequenos grupos ainda conseguem extrair de um a dois gramas de ouro por dia, revendendo o metal a preços que variam de R$ 400 a R$ 500 o grama.

Histórico de controvérsias

A Kinross também carrega passivos ambientais. Em 2022, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) entrou com uma ação pedindo R$ 50 milhões em indenização por descargas de rejeitos em Paracatu e pelo acionamento de sirenes de emergência em 2021, episódio que espalhou medo entre os moradores.