BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – Por uma margem mínima, a Moldova deu maioria ao partido governista, pró-Europa, nas eleições parlamentares do fim de semana, marcadas pela interferência russa. O partido Solidariedade e Ação, que defende a adesão à União Europeia ainda nesta década, obteve 50,16% dos votos com 99,9% das urnas apuradas, informou a comissão eleitoral do país nesta segunda-feira (29).

O resultado é uma vitória pessoal de Maia Sandu, a presidente reeleita no ano passado, também com margem mínima, que passou a campanha denunciando os esforços de Moscou para tentar influenciar o resultado. Não à toa, os principais líderes europeus foram às redes sociais assim que a maioria governista foi confirmada.

“Apesar da interferência e da pressão, a vontade do povo moldavo prevaleceu. A França apoia a Moldávia na sua busca pelas aspirações europeias e pela liberdade e soberania”, escreveu o presidente francês, Emmanuel Macron.

Primeiro-ministro da Polônia, Donald Tusk foi ainda mais incisivo em apontar para Vladimir Putin e festejar Sandu. “Não só salvou a democracia e manteve o rumo europeu, como também impediu a Rússia de assumir o controle de toda a região.”

O Kremlin refuta as acusações de interferência, alegando se tratar de “histeria” e “russofobia”.

Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, e António Costa, chefe do Conselho Europeu, sintonizaram o discurso, celebrando “a escolha pela democracia”. “Nossa porta está aberta”, escreveu Von der Leyen, ainda que o caminho de adesão ao bloco não esteja livre de novos percalços.

Programada para 2030, a adesão à União Europeia precisa ser aprovada pelos 27 Estados-membros. País mais pobre da Europa, a Moldova não tem oponentes claros, mas pode sofrer efeitos colaterais da oposição húngara à candidatura da Ucrânia.

Budapeste alega que minorias de origem húngara estão sob risco no país invadido pela Rússia em 2022, mas a resistência é percebida claramente com um aceno do primeiro-ministro, Viktor Orbán, a Putin. A administração Orbán também se opõe aos pacotes de sanções econômicas da UE contra a Rússia, suscitando inclusive movimentos de flexibilização das regras de votação no bloco.

A Moldova pode acabar sendo engolida pela disputa. É sintomático que Marta Kos, comissária europeia para a expansão do bloco, esteja na Ucrânia nesta segunda justamente em contato com as comunidades que Orbán diz estar preocupado.

No front interno do pequeno país, localizado entre Romênia e Ucrânia, um dos líderes do Bloco Patriótico, que defende a neutralidade da Moldova diante da guerra e uma política de aproximação com Moscou, convocou protestos nesta segunda-feira em frente ao Parlamento. Na véspera, o ex-presidente Igor Dodon já tinha declarado vitória, sem nenhum voto apurado, e antecipado uma suposta anulação dos resultados.

Segundo a comissão eleitoral, o Bloco Patriótico alcançou 24,2% dos votos.

Se a véspera do pleito já tinha sido tumultuada, com a suspensão de duas siglas de oposição por financiamento ilegal, prisões, perfis de redes sociais derrubados e acusações generalizadas de interferência, o dia de votação não foi muito diferente. Ameaças falsas de bomba interromperam votações no exterior em Roma, Bruxelas e nos EUA.

Siegfried Muresan, o eurodeputado romeno que lidera a comissão de observação da UE no país, afirmou que “a vitória pró-europeia da Moldova é uma lição para toda a Europa sobre como derrotar a interferência russa”.