SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A designer de interiores Rhadarani Domingos relatou que perdeu a visão após consumir caipirinhas em um bar localizado em uma região nobre de São Paulo. O caso acontece em meio a registros de intoxicação por metanol ligados a bebidas alcoólicas adulteradas no estado.
O QUE ACONTECEU
Rhadani disse passado mal após beber três caipirinhas de frutas vermelhas com maracujá e vodka. Ela, que está internada, contou que as bebidas não tinham nenhum gosto diferente. “[As bebidas causaram] um estrago bem grande. Eu não estou enxergando nada”, relatou ao Fantástico (TV Globo).
Itens foram comprados em um bar localizado em uma região nobre de São Paulo no dia 19. Ela estava no local para a comemoração do aniversário de uma amiga. “Era uma região nobre, nenhum boteco de esquina”, acrescentou.
A designer foi levada para a UTI, convulsionou e precisou ser intubada no dia 21, segundo a irmã. Lalita Domingos falou que ninguém imaginava que o quadro poderia ser uma intoxicação por metanol. A expectativa da família é que Rhadarani consiga algum tratamento para voltar a enxergar.
A reportagem não divulgou se há confirmação que Rhadani foi contaminada por metanol. O nome do estabelecimento e a região onde fica localizado também não foram divulgados. Por isso, a reportagem não conseguiu entrar em contato com o comércio para pedido de posicionamento.
“Eu espero justiça. Eu acho que a gente tem que encontrar os responsáveis. Espero que outras pessoas não passem por isso”, disse Rhadarani Domingos.
JOVEM INTOXICADO ESTÁ EM COMA
Rafael foi intoxicado por metanol após consumir doses de gin com energético e gelo com sabor. As bebidas foram compradas em uma adega perto da casa dele, em 23 de agosto. Ele está internado há 28 dias e se encontra em coma desde o dia 1º de setembro.
Mãe de Rafael diz que foi removida a toxicidade do sangue, mas os danos já tinham afetado a visão e o cérebro do filho. “Ele está respirando através de ventilador. Segundo a medicina, [o quadro dele] é irreversível”, disse Helena Anjos Martins.
Amigo de Rafael também bebeu o gin, foi contaminado e precisou ficar internado. O auxiliar de produção Diogo Marques afirmou que os sintomas apareceram depois que ele saiu com Rafael e outras três pessoas. Além dos dois jovens, uma das pessoas do grupo também passou mal.
“Eu acordei desesperado. Abri olho e não estava enxergando nada. Tudo preto e uma dor de cabeça forte”, disse Diogo. Ele explicou que as bebidas compradas por eles eram de “qualidade muito boa”.
SP REGISTRA DUAS MORTES
Duas pessoas morreram intoxicadas após ingerirem bebidas alcoólicas contaminadas por metanol. Os casos, confirmados ao UOL pelo Centro de Vigilância Sanitária de São Paulo, ocorreram neste mês na capital paulista e em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo.
Uma das vítimas é um homem de 54 anos, da região da Mooca/Aricanduva, São Paulo. Ele foi atendido por uma unidade de saúde privada em 9 de setembro, após apresentar sintomas de intoxicação, e morreu em 15 de setembro. Outras três pessoas permanecem internadas na capital paulista por suspeita de intoxicação.
Em apenas 25 dias, foram notificados nove casos de intoxicação por metanol após o consumo de bebida alcoólica adulterada no estado. As informações foram divulgadas na sexta-feira (26) pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, ligada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Os casos estão ligados ao consumo de diferentes tipos de bebida, como gin, uísque e vodka, em diferentes lugares, como bares. O Ciatox (Centro de Informação e Assistência Toxicológica), de Campinas (SP), disse que o número de casos pode estar subnotificado, pois nem todos chegam ao conhecimento dos órgãos de vigilância e controle.
O cenário preocupa autoridades de saúde. Nos últimos dois anos, os casos de intoxicação por metanol registrados pelo Ciatox estavam ligados ao consumo de combustíveis em contexto de abuso de substâncias, não por adulteração de bebidas. Eram considerados casos de consumo intencional. Já agora, são casos de consumo acidental, em que a vítima não sabe que a bebida está adulterada.
RECOMENDAÇÕES
O governo federal pediu que a população fique atenta às bebidas alcoólicas consumidas, especialmente aos finais de semana. O Ministério da Justiça e Segurança Pública está acompanhando a situação.
Centro de Vigilância Sanitária de São Paulo diz que estabelecimentos devem redobrar a atenção quanto à procedência dos produtos oferecidos. Também indicou que a população compre bebidas somente de fabricantes autorizados, com rótulo, lacre de segurança e selo fiscal.
O QUE É METANOL
O metanol é um álcool líquido, incolor e altamente tóxico, também conhecido como álcool metílico. Embora semelhante ao etanol na aparência, não deve ser confundido com o álcool usado em bebidas.
Metanol pode causar intoxicação grave e até a morte. Em alguns casos, a substância costuma ser adicionada ilegalmente a bebidas como uma alternativa mais barata ao etanol.
Substância também pode surgir como um subproduto em destilados caseiros mal feitos. Isso pode provocar a contaminação inadvertida de bebidas.
Metanol é nocivo e pode causar vários sintomas. A exposição a quantidades significativas de metanol pode resultar em náusea, vômito, dor de cabeça, visão turva, cegueira permanente, convulsões, coma, danos permanentes ao sistema nervoso ou morte.