SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O economista Lúcio (nome fictício), 56, fazia de bicicleta o percurso diário de 11 km entre Santa Cecília e Brooklin, em São Paulo, quando, em 13 de agosto, foi atropelado por um motorista que invadiu a ciclofaixa na avenida Rebouças, na região dos Jardins. O condutor de um SUV prata fugiu sem prestar socorro.

Graças às câmeras de uma torre de vigilância instalada na avenida, Lúcio conseguiu não apenas as imagens do acidente, mas o trajeto completo do veículo, permitindo identificar a placa. Em cada equipamento, há um um QR Code que pode ser usado para entrar em contato com a empresa e pedir acesso às imagens, desde que apresente um boletim de ocorrência.

O caso ilustra como o monitoramento em rede vem ganhando espaço em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, onde empresas como a CoSecurity conectam torres de vigilância em diferentes pontos para ampliar a cobertura de segurança.

O negócio ainda não é auditado, mas estima-se que movimente cerca de R$ 100 milhões ao ano, número que cresce à medida que aumenta a sensação de insegurança nas regiões metropolitanas. A cifra representa uma fatia ainda pequena, mas em ascensão, no mercado de segurança eletrônica, que faturou R$ 14 bilhões no Brasil em 2024, segundo a Abese (Associação Brasileira das Empresas de Sistemas Eletrônicos de Segurança), valor que envolve indústria, softwares e serviços.

Quem contrata as torres de vigilância são os condomínios residenciais, comerciais ou corporativos, que pagam uma mensalidade que pode variar entre R$ 500 e R$ 900, em média, dependendo do número de câmeras em uma torre. Mas qualquer cidadão que seja vítima de um acidente ou roubo, por exemplo, pode solicitar as imagens.

As maiores empresas que oferecem o monitoramento em rede a partir de torres de vigilância são a paulista CoSecurity, do grupo de segurança privada Haganá, e a carioca Gabriel, dos mesmos investidores que lançaram os patinetes elétricos Yellow. Em São Paulo, outras grandes companhias que exploram o serviço são a White e a Pro Security.

As imagens ficam gravadas por sete dias, mas podem permanecer por 14 dias em fornecedores como a Gabriel. As câmeras usam sistema de inteligência artificial, para comparar as imagens captadas com padrões preestabelecidos e, assim, identificar comportamentos suspeitos. As empresas garantem seguir a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), ao fazerem apenas a captura das imagens, mas não a sua identificação, a menos que autoridades peçam o reconhecimento de suspeitos.

O maior diferencial das torres de vigilância, porém, está na formação de uma rede de gravação de imagens. “Quanto mais ruas e bairros a CoSecurity estiver presente , mais informações de qualidade eu posso fornecer não só para as pessoas, mas para o poder público”, diz Chen Gilad, fundador da empresa.

Isso porque as empresas mantêm parceria com as prefeituras, fornecendo as imagens sem custos. “No passado, se havia uma ocorrência diante de um condomínio, a polícia precisava pedir as imagens, e o síndico iria decidir se cederia ou não. Hoje esse acesso é irrestrito e pode acontecer até online, por um curto período de tempo”, diz Gilad, que soma 8.500 câmeras na Grande São Paulo e pretende encerrar o ano com 10,5 mil, chegando ao Rio de Janeiro. O faturamento de 2025 deve dobrar para R$ 20 milhões.

Em São Paulo, o maior mercado das torres de vigilância, a Secretaria de Segurança Urbana lançou em julho do ano passado um edital de chamamento público permitindo a integração de câmeras de empresas ao programa Smart Sampa, sistema de monitoramento por câmeras da cidade. Hoje a iniciativa privada já responde por metade das 40 mil câmeras que integram o Smart Sampa. Em abril, eram 25%.

No final de agosto, a Gabriel anunciou a integração de 5.300 câmeras ao sistema da prefeitura paulistana. Ao todo, a empresa opera 14 mil câmeras, 8.000 delas só no Rio, seu maior mercado, onde também fornece imagens para o CICC (Centro Integrado de Comando e Controle) da Polícia Militar do Estado.

“Boletins de ocorrência que apontam imagens têm cinco vezes mais chances de serem resolvidos”, diz Vitor Finger, diretor de produto da Gabriel –nome que faz menção ao arcanjo. Segundo o executivo, a empresa atende cerca de 10% dos condomínios do Rio e vê muito espaço para crescer, tanto na capital fluminense quanto na paulista. “Mas em São Paulo o mercado é duas vezes e meia maior que o do Rio.”

Cristina Sassoon, síndica de um condomínio no bairro de Perdizes, zona oeste de São Paulo, contratou a torre de vigilância da Gabriel depois de observar o crescimento das redes de monitoramento em outros bairros da cidade. “É algo que dá a sensação de segurança e inibe a presença de pessoas mal-intencionadas”, diz.

O serviço permite que os condôminos acompanhem as imagens da rua por meio de aplicativo –uma alternativa útil também em temporadas de chuvas, segundo Cristina, uma vez que existe um ponto de alagamento próximo ao prédio. “O morador pode programar sua chegada, saber se a rua alagou.”

ROUBOS FIZERAM PÚBLICO DA 25 EVITAR A REGIÃO

Já Cláudia Urias, diretora executiva da Univinco (União dos Lojistas da Rua 25 de Março e Adjacências), buscou o serviço da CoSecurity no final de 2024 na tentativa de reverter a drástica queda de público na região. “A gente costumava receber cerca de 500 mil pessoas por dia, um número que chegou a cair para 100 mil”, diz. “Cerca de 70% do nosso público é de fora de São Paulo, são lojistas que vêm se abastecer aqui, mas estavam assustados com a quantidade de roubos na 25”.

Foram instaladas 66 câmeras em 31 pontos da região, ao custo de R$ 30 mil ao mês. A CoSecurity passou a gerar relatórios diários de ocorrências e comportamentos suspeitos, encaminhados à equipe policial que atende a 25.

Segundo Antônio Coelho, diretor de tecnologia da White, as torres da empresa são equipadas com duas câmeras: uma para reconhecimento facial e outra para leitura de placas. “A maioria das câmeras não consegue identificar placas em determinadas condições, quando o veículo trafega muito rápido e à noite, por exemplo. Mas nós temos essa tecnologia”.

Com cerca de 2.100 câmeras instaladas, a maioria na capital paulista, a White também integra o Smart Sampa. Atua ainda em cidades da Grande São Paulo, São José dos Campos (SP) e Curitiba, além de Campos dos Goytacazes, esta última por meio de franquia.

Na Pro Security, as torres são um negócio novo: cerca de 300 unidades, que somam 900 câmeras. “Mas estamos tendo demanda de instalação de 30 a 40 torres por mês”, diz o diretor executivo da empresa, Alexandre Paranhos. A maior procura vem das zonas sul e oeste da capital, bairros em que a verticalização é mais intensa. “É crescente o interesse tanto dos condôminos quanto do poder público”, diz ele, que também conectou a rede ao Smart Sampa.

O baixo custo é um atrativo, se comparado com o preço da vigilância externa 24 horas, afirma Paranhos. “Manter um posto de vigilante em um condomínio envolve a contratação de quatro funcionários, um pacote que sai por R$ 31 mil mensais. Já a torre custa R$ 500.”