SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Enterrada oficialmente na noite de quinta-feira (25), a fusão entre Azul e Gol já não era uma realidade entre as companhias aéreas há meses e estava congelada desde junho, segundo envolvidos na negociação. O anúncio levado ao mercado inicialmente pela Abra, controladora da Gol, foi a forma encontrada pela holding para encerrar as especulações em torno de uma possível união.
Assinado em janeiro, o memorando de entendimentos previa uma fusão das companhias. Naquele momento, a Gol ainda estava se reorganizando financeiramente para acertar suas contas com credores dentro do Chapter 11 (a recuperação judicial nos Estados Unidos) e a Azul, apesar das dificuldades apontadas nos balanços, vivia um cenário menos complicado.
O memorando também servia como uma opção de negócios visando a união de forças em um setor extremamente sensível da economia global. Ambas as companhias sofreram apertos financeiros na pandemia, o que desencadeou um crescimento brutal da dívida aliado ainda à alta do dólar e do preço do combustível de aviação.
Apesar de dividirem a governança meio a meio, a Azul ficaria com uma parte maior da futura operação e a Gol teria cerca de 10% das ações. Acontece que, no final de maio, a Gol encerrou seu processo de recuperação nos EUA e, logo em seguida, a Azul declarou sua adesão ao Chapter 11.
Naquele momento, segundo agentes do setor, a Azul deixou bem claro à Abra qual era sua posição nos acordos de fusão das companhias e comunicou que a prioridade seria o processo de recuperação.
A Azul também optou por seguir um caminho mais agressivo e oposto à maioria das aéreas que entram em recuperação nos EUA e depois buscam capital no mercado. De início, foi garantido US$ 1,6 bilhão (R$ 5,3 bilhões) de financiamento com os credores, além de aportes de US$ 300 milhões (R$ 1,6 bilhão) com a United Airlines e American Airlines, parceira estratégica de longa data da Gol o que teria causado estresse nos bastidores.
Os balanços recentes ainda refletem, de certa forma, um pouco do cenário que cada uma passa nessa fase da operação. No segundo trimestre deste ano, a Gol reportou prejuízo líquido de R$ 1,5 bilhão, redução de 60% do registrado no mesmo período de 2024, enquanto a Azul teve lucro de R$ 1,2 bilhão ante prejuízo de R$ 3,5 bilhões registrado no período anterior.
Antes de comunicar ao mercado o cancelamento do memorando de entendimentos e do codeshare (compartilhamento de voos) entre as companhias, a Abra avisou a Azul sobre a movimentação.
Mesmo com o tom mais belicoso da Abra no fato relevante, ambos os lados afirmam estar em paz. Não houve uma briga nos bastidores e cada lado optou por seguir focando no próprio negócio.
Ainda assim, existe uma leitura no setor de que a Abra foi emotiva no comunicado, o que não era necessário diante da realidade das negociações nos últimos meses.
Segundo um executivo, a Gol não se envolveu nessas conversas, que foram tocadas exclusivamente entre Abra e Azul. Essa separação nos negócios é vista como positiva, pois a Abra consegue operar de forma mais estratégica, enquanto a Gol foca somente na aviação direta.
O acordo de codeshare das companhias não surtiu o efeito esperado. Pelo acordo firmado, o compartilhamento estava concentrado em rotas complementares com uma empresa cobrindo a outra nos trechos onde tivesse maior presença e a outra não.
O que se comenta é que esse compartilhamento foi muito pequeno ou praticamente nulo. Inicialmente, as companhias não anunciaram aos órgãos de controle quais eram as rotas compartilhadas, pois havia um entendimento de que como o acordo era pequeno, não seria necessário acionar o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
No início deste mês, o Cade apresentou uma reclamação formal e exigiu a apresentação das rotas compartilhadas. Como a parceria não surtiu o efeito esperado e ainda havia essa pressão do Conselho, foi de comum acordo que o codeshare fosse encerrado.
Nesta sexta (26), o mercado reagiu positivamente ao fim das negociações. As ações da Azul subiram 17,1%, negociadas a R$ 1,23, enquanto a Gol fechou o dia com alta de 5,3%, a R$ 5,95.